Roberto Campos – com quem tive o prazer de trabalhar
e conviver por muitos anos - costumava lembrar com fina ironia que “a
estatística é como o biquíni: o que mostra é sugestivo mas o que esconde é essencial”. Economista
formado nos Estados Unidos, Campos recordava a feliz imagem criada pelo
professor Aaron Levenstein: "Statistics
are like a bikini. What they
reveal is suggestive, but what they conceal is vital.”
Acredito na Estatística e a formação acadêmica de
engenheiro me permite dominar alguns conceitos (probabilidade, teoria dos erros,
grau de fidedignidade etc) que
relativizam adequadamente sua valia. De todo modo, considero-a muito importante para o processo de tomada de decisões, uma ferramenta valiosa de gestão democrática e um instrumento
inigualável para a formação de uma opinião pública consciente.
Creio que a má fama da Estatística como elemento de embuste e embromação – especialmente na atividade política - se deve quase exclusivamente a
maus profissionais que se aproveitam do
fato de a população ser constituída de leigos, não iniciados em números, para distorcer a
realidade e iludir eleitores.
Hoje, constatei satisfeito que boa parte da mídia divulgou
com precisão os resultados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de janeiro de
2016, ressaltando que a taxa de
desocupação nela estimada, de 7,6%, se refere apenas a 6 (seis) Regiões
Metropolitanas e não ao Brasil como um todo, onde o desemprego já deve estar na
casa dos 10%. A PME cobre um universo de
apenas 25 milhões de trabalhadores e o país como um todo tem uma força de
trabalho superior a 102 milhões.
Infelizmente, essa transparência geralmente não
prevaleceu no passado e a divulgação da taxa de desemprego da PME era
apresentada na mídia como a TAXA DE DESOCUPAÇÃO DO BRASIL, desinformando a
opinião pública e minimizando um dos grandes problemas que já flagelam nosso
povo, especialmente o mais humilde, desde 2014.
O IBGE- que deveria ser um órgão técnico e não político - tem grande culpa nessa confusão, até pelo
fato de insistir em realizar uma
pesquisa – a PME - que já caducou há muito, desde quando se deu uma relevante desconcentração da produção, com interiorização da indústria e dos serviços, antes limitados aos grandes
centros urbanos e suas cercanias. Meio sutil do IBGE do E para confundir os leigos e mascarar as altas taxas de desocupação. A PNAD Contínua foi implementada pelo órgão com um atraso de muitos
anos. Os governos das duas últimas décadas, igualmente culpados, continuaram
subsidiando – com o dinheiro dos contribuintes, como eu e você – algumas pesquisas de emprego totalmente
inúteis, que usavam conceitos errados, com fins políticos, financiando as
chamadas “ONGs amigas” e mantendo apenas
os empregos de seus fiéis servidores. Assunto que abordei em blogue tempos atrás.
Como o desemprego está crescendo fortemente e levando ao desespero
muitas famílias brasileiras, é preciso redobrar a atenção da opinião pública em
relação às respectivas informações.
Neste momento, por exemplo, os analistas aguardam ansiosos
os dados do CAGED do Ministério do Trabalho para janeiro de 2016, que normalmente
seriam divulgados em meados do mês e até agora não vieram a público. Infelizmente,
analisando o retrospecto de incompetência e politicagem reinantes, os resultados, sendo ruins, só sairão na
sexta feira (26/02/2016) à tarde, pois os marqueteiros governamentais sabem que há
poucos noticiários e comentários no sábado e domingo, minimizando a repercussão
negativa. Truque para lograr os amadores no ramo.
Mas finalizo abalando a crença na Estatística, lembrando que meu
amigo Mario Henrique Simonsen viveu uma fase (eu também sofri a minha) em que tinha
pavor de viajar de avião. Ia, cumpria seus compromissos, mas sofria. Um dia,
tentando sua conversão a “amigo do ar”,
lembrei a Simonsen que ele era um excepcional matemático e que a Estatística
ensinava que a probabilidade de acidente com um voo já era baixíssima naquela época, de 1:36.000.
De imediato, Mario respondeu que não era “grande número” e que se aquele seu
avião caísse ele estava perdido...* Biquini!
*No Reino Unido, um estudo mostrou que atualmente a probabilidade
de acidente aéreo é de 1 em 67.000 voos.