A situação do mercado de trabalho brasileiro é crítica e
tende a agravar-se ao longo de 2016, enquanto persistirem as crises de fundo
político, a falta de confiança e a concomitante deterioração da economia do país. No Brasil como um todo há
mais de 10 milhões de desempregados; em 2015, cresceu em 1 milhão o número de
novos informais desesperados, com rendas
muito baixas, provenientes de uma perda de empregos formais que superou 1,5
milhão nos últimos 12 meses.
A PNAD Contínua do último trimestre de 2015, catastrófica - mas
que ainda vai piorar - trouxe porém uma
boa notícia para o caso específico da Cidade do Rio de Janeiro, em que foi registrada
a taxa de desocupação de 5,2% - a menor dentre todas as Capitais do
país. É claro que essa posição privilegiada do Município se deve às suas concorridas
festividades de fim de ano e às obras e demais preparativos para as Olimpíadas e Paraolimpíadas que se
realizarão em agosto e setembro de 2016. Em fins de dezembro e em janeiro houve muitas
demissões e a taxa já aumentou um pouco. Mas a grande inquietação dos cariocas está
no futuro e se refere ao período posterior
à realização daqueles eventos esportivos e da extensão de seus efeitos - que ainda
perdurarão por algum tempo. A principal pergunta talvez seja: a cidade tornar-se-á um polo turístico de
dimensão mundial após essa fabulosa janela de oportunidades que as competições
esportivas lhe propiciaram?
Creio que as Olimpíadas serão um sucesso, que o Rio de
Janeiro vai brilhar e que serão criadas condições para a continuidade do fluxo
turístico. Ainda mais que com o real desvalorizado o Brasil tornou-se barato para os turistas em
geral. De todo modo, há muitos fatores condicionantes em jogo e essas
expectativas podem malograr. Para evitar um colapso econômico como o que assola
o Estado do Rio de Janeiro, a cuja gestão faltou planejamento, toda cautela é
desejável.
Preocupa o fato de parecer que a Prefeitura da Cidade do Rio
de Janeiro, pelo menos aparentemente, não faz essa mesma leitura. Caso a
administração municipal consultasse o CAGED, levantamento do Ministério do
Trabalho, verificaria que o Município
perdeu 82.705 empregos de carteira assinada ao longo do ano de 2015 e que em
janeiro de 2016 aí desapareceram mais 14.505 postos de trabalho, mantendo a tendência
de colapso da oferta no mercado laboral. Em 13 meses, o Rio perdeu 97.210 empregos formais. Somados os resultados
de 2013 e 2014, o Município havia criado
70.751 postos de trabalho com carteira assinada e assim já regrediu para o
nível de emprego de 2012, embora a população continue crescendo e principalmente
os jovens amargando uma enorme taxa de desocupação.
Em momentos como o atual, um bom gestor público deve refletir
profundamente sobre suas escolhas de investimento, evitando medidas que reduzam
a oferta de trabalho. Ao contrário, suas opções devem ser sempre a favor da
criação de empregos. Infelizmente, a Prefeitura do Rio de Janeiro está lançando
um edital para instalar parquímetros na cidade, ameaçando com a desocupação 5 (cinco) mil trabalhadores que operam os estacionamentos da CET-Rio. Nestas alturas, privar
mais cinco mil famílias de suas modestas rendas será um desastre social de
grande impacto.
Esse negócio deve ser bem acompanhado pela opinião pública
pois envolve muitos aspectos discutíveis.
Como bom e velho carioca, vou fazer uma previsão sombria, a
qual poderá ser checada se o projeto resultar. Como parquímetro não toma conta
de carro, só engole o dinheiro, nós, motoristas, vamos pagar duas vezes pelo estacionamento: uma
vez para a companhia que vai explorar os equipamentos e a outra para o
tradicional “flanelinha” que surgirá do nada e vai sussurrar em nosso ouvido
que naquele local “estão arranhando tudo que é carro, doutor...”