quinta-feira, 12 de março de 2015

ESPORTE E ALEGRIA PARA TODOS NA EDUCAÇÃO CONTINUADA
Recentemente fui procurado por um professor de Uberlândia, Minas Gerais, o qual elabora uma tese sobre o Esporte Para Todos (EPT), programa que o MOBRAL ajudou a realizar durante certo período na década de 70. Queria ele saber quais motivos me levaram a ter uma participação efetiva no EPT e pedia que eu descrevesse, em linhas gerais, a minha inserção histórica nesse contexto.
A resposta resumida seria a constatação, no I Diagnóstico de Educação Física e Desportos (1969-1971), realizado pelo Centro Nacional de Recursos Humanos  do IPEA, sob minha supervisão, da grande demanda, por parte da população brasileira, de atividades esportivas na versão não-formal. Posteriormente, estando na Presidência do MOBRAL, que era uma instituição dedicada à educação continuada de adolescentes e adultos, concordei em sua participação no atendimento daquela demanda, pois considerava a oferta de oportunidades  de prática desportiva como parte da missão da instituição.
Devo agradecer ao interlocutor por esse contato, buscando minha palavra sobre o EPT, pois me fez recordar de uma das muitas alegrias que tive durante minha passagem pela vida pública: estar ocasionalmente no Governo, dispor dos meios necessários e ocupar posição de poder que permitia ajudar a população brasileira em geral a usufruir  dos muitos benefícios da prática do esporte. Benefícios dos quais eu mesmo sempre tirei e ainda tiro grande proveito até os dias correntes.
A Lei de criação da Fundação MOBRAL (Lei 5.379 de 15 de dezembro de 1967) estabelecia em seu Artigo 6º: “O MOBRAL gozará de autonomia administrativa e financeira...”.  Naquela época as Fundações gozavam de liberdade operacional no âmbito de seus objetivos e a intervenção governamental geralmente  era bastante discreta. Enquanto estive na direção do órgão, de 14 de abril de 1972 a 31 de março de 1981, essa autonomia foi respeitada rigorosamente e tive liberdade para realizar uma gestão eminentemente guiada pelas convicções de conveniência técnica que eu tinha ou me eram indicadas pelas equipes da instituição e por mim aceitas como válidas. Nesse período, os objetivos globais perseguidos pelo MOBRAL foram sempre de minha inteira responsabilidade, devidamente apoiado na letra da Lei e alicerçado em meu prestígio como administrador e líder de uma equipe reconhecidamente de grande valor técnico.
Por outro lado, sob  o aspecto institucional, o MOBRAL estava credenciado a participar das atividades referentes à implementação do EPT, considerando que o Art. 1º. de sua lei de criação o caracterizava principalmente como órgão dedicado à educação permanente: “Constituem atividades prioritárias permanentes, no Ministério da Educação e Cultura, a alfabetização funcional e, principalmente, a educação continuada de adolescentes e adultos.” Exatamente por isso o MOBRAL mantinha, além da alfabetização e da educação integrada (antigo curso primário), um grande programa cultural (3.150 postos fixos e uma dezena de postos móveis), programas de profissionalização (testagem e orientação vocacional, treinamento profissional e colocação no mercado de trabalho em 803 balcões de emprego), educação comunitária para a saúde, programa diversificado de ação comunitária e outros.
Quando o MEC, através de suas autoridades competentes na área do esporte, aventou a hipótese de o MOBRAL aproveitar sua capilaridade (era o único órgão presente em todos os Municípios brasileiros), sua capacidade de mobilização (programas com milhões de participantes) e sua estrutura de recursos humanos próprios e voluntários (dezenas de milhares vinculados às Comissões Municipais)  em favor da difusão do EPT, aceitei a missão com grande entusiasmo.
Eu provinha do IPEA, onde trabalhei 7 anos e dirigi o Centro Nacional de Recursos Humanos, com passagens concomitantes em consultorias de curto prazo à UNESCO, OEA e OIT. Na UNESCO, particularmente,  participei da consolidação do conceito de educação continuada, assessorando a Comissão FAURE, que elaborou o “Aprender a Ser” e para a qual escrevi a monografia “Educação e Emprego”, traduzida pela UNESCO para inglês, francês e espanhol. Havia consenso, nos meios mais esclarecidos,  de que o  esporte é componente obrigatório de qualquer esforço sério e competente de uma educação continuada de qualidade.
Tendo sido convidado pelo Ministro Roberto Campos e nomeado para dirigir o Setor de Desenvolvimento Social do IPEA em fevereiro de 1965, com o objetivo inicial de elaborar o I Diagnóstico de Educação e Mão de Obra e a seguir   o Plano Decenal do Governo Castello Branco, meu trabalho foi se tornando mais abrangente, com a criação do Centro Nacional de Recursos Humanos do IPEA, do qual fui o primeiro Secretário Executivo.  Dentro desse contexto de estudos e pesquisas, assim que foi possível e oportuno, contratei técnicos para elaborarem o I Diagnóstico de Educação Física e Desportos (1969-1971), que supervisionei cotidianamente durante o processo  de elaboração. Da equipe que formei inicialmente participavam, no IPEA,  Lamartine Pereira da Costa e José Garcez Ballariny.
Depois do IPEA, comecei a trabalhar no MOBRAL em 14 de abril de 1972, como Secretário Executivo, escolhido pelo Presidente o Dr. Mario Henrique Simonsen. Em 1974 passei a Presidente do órgão, cargo que exerci até  31 de março de 1981.
Acontece que coincidentemente fui um desportista apaixonado desde sempre. Participei, ainda na infância, de atividades esportivas características dos movimentos de massa, espontâneos, nascidos do povo, de baixo para cima. Aos 7 anos de idade, joguei minha primeira partida de futebol com uma camisa de time, ali na esquina da Rua Montenegro,  da velha Ipanema onde nasci, com a Rua Alberto de Campos, em um terreno baldio que  a garotada  (eu inclusive) capinou, limpou  e  transformou em campo de futebol.  Depois, pratiquei futebol de areia em alguns times, na Lagoa Rodrigo de Freitas (Grêmio Ipanema) e nas praias de Ipanema (Brasil, Torino, Lagoa), Copacabana (La Vai Bola, Huracán, Dínamo), Leblon, Urca e Vidigal. Participei do desporto estudantil sempre pelo Colégio Mello e Souza e nos Jogos  Colegiais do Rio de Janeiro fui campeão de futebol, voleibol, salto triplo e salto em altura. Na Universidade continuei participando de competições de voleibol e atletismo pela Escola Nacional de Engenharia, ganhando alguns títulos. Frequentei Seleções Universitárias de Voleibol,  esporte no qual passei ao alto nível de competição (a partir de 1953) e fui tricampeão de Juvenis, tricampeão da Divisão Principal do Rio de Janeiro  e Campeão dos Campeões Sul-americanos, sempre jogando pelo Fluminense (até os anos 70). Durante 5 anos escrevi uma coluna semanal sobre voleibol na grande imprensa – no jornal CORREIO DA MANHÃ. Na Seleção Brasileira de Voleibol  fui Medalha de Prata dos Jogos Pan-americanos de Chicago, oitavo do Mundo no Torneio dos Três Continentes de Paris (Mundialito de 1959), vice no Torneio Aberto de Masters (categoria >55 anos de idade) de Buenos Aires (1992) etc. Até hoje dedico parte de todos os  meus dias aos exercícios físicos e ao voleibol de praia.


Com esse currículo fica fácil ao interlocutor de Uberlândia entender minha dedicação ao programa ESPORTE PARA TODOS, um dos muitos sucessos do MOBRAL. Pessoalmente e com minha família participei de algumas das várias  iniciativas do programa EPT: passeios de bicicleta, passeios a pé e ruas de lazer. E sempre foi muito bom! Para mim e todos os participantes...

As Comissões Municipais do MOBRAL, compostas e dirigidas por voluntários, tinham personalidade própria e um amplo grau de liberdade de ação. Assim, atividades de caráter esportivo, descomprometidas, do tipo não-formal, já permeavam eventualmente as ações de muitas das Comissões Municipais (COMUN) do MOBRAL, na proporção do apelo que esse tipo de promoção exercia sobre as respectivas comunidades.  Algumas Comissões aproveitavam-se inteligentemente da notável  capacidade mobilizadora do esporte, do seu papel motivador,  em favor do atingimento de seus objetivos educacionais. 

Sistêmica e formalmente, porém,  foi em 1977 que o MOBRAL começou  a difundir e impulsionar o ESPORTE PARA TODOS, pondo a serviço do programa  a sua estrutura de grande capilaridade territorial e sua notável capacidade catalisadora de ações típicas do voluntariado.  Aliás, era consenso que existia no Brasil um grande potencial de voluntariado voltado à prática desportiva e a direção do MOBRAL não desconhecia essa realidade.
A Campanha, que era coordenada pelo Departamento de Educação Física e Desportos do Ministério da Educação e Cultura, tinha características essencialmente municipalistas em sua operacionalização, cabendo ao MOBRAL a mobilização de voluntários e entidades, visando sua participação nos eventos programados, bem como o treinamento e a divulgação a nível nacional. Naquele ano de 1977, em 2.777 Municípios,  mais de 5,3 milhões de pessoas participaram dos Passeios de Bicicleta, dos Torneios Gigantes de Pelada, dos Passeios a Pé e das Ruas de Lazer promovidas pela instituição, a qual destinou 2,4% de suas despesas totais ao EPT.
Em 1978 o MOBRAL aplicou 1,5% de seu orçamento no EPT, envolvendo 2,6 milhões de participantes nas atividades esportivas em 2.251 Municípios. A queda quantitativa nos resultados deveu-se à falta de divulgação pelo rádio e televisão, que anteriormente fora obtida gratuitamente. O MOBRAL jamais pagou por divulgação e esse era um princípio pétreo. No ano seguinte, em face dessa realidade, decidiu-se pelo envolvimento declinante do órgão, que gastou apenas 0,2% de suas dotações no EPT – mais especificamente na Revista Comunidade Esportiva, de sustentação técnica do programa.  A ação direta do MOBRAL se encerrava.
As atividades executivas do MOBRAL no EPT, embora coordenadas pelo Departamento de Educação Física e Desportos do Ministério da Educação e Cultura, sempre se desenvolveram respeitando os princípios de autonomia que  caracterizaram o MOBRAL no período 1970-1981

Aquele curto período de atuação sistemática do MOBRAL no EPT (1977-78), porém, certamente teve frutos inegáveis, embora impossíveis de quantificar. É plausível fazer tal afirmação, raciocinando em analogia ao que aconteceu em relação às Associações de Moradores e similares, surgidas na década de 80, que tiveram sua origem, em grande número,  nas dezenas de milhares de grupos comunitários formados a partir do Programa de Ação Comunitária (PRODAC) do MOBRAL no final da década dos 70. Da mesma forma, a ação do  MOBRAL no EPT, embora breve, despertou vocações esportivas reprimidas por falta anterior de incentivo/oportunidades, consolidou hábitos individuais nascentes de prática desportiva , mostrou as potencialidades do trajeto esporte-profissão a muitos voluntários esportivos e  assim por diante. No campo das curiosidades, deve-se ressaltar que muitos novos “esportes” surgiram, inventados pela população e talvez alguns sejam praticados até hoje...

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