A Reforma da Previdência, que já deveria ter ocorrido há
anos, se impõe como medida urgente de sobrevivência para o país. Ainda assim
encontra barreiras no Congresso, o qual se comporta como se vivêssemos no
melhor dos mundos e algumas vezes insinua querer repetir as reprováveis
práticas do “toma lá dá cá” - que não
têm mais lugar neste país combalido, como resultado de monstruosa falta de
ética.
Agora, no Senado, a Reforma sofre mais um baque: a proposta
do Governo diminuía os gastos com o malfadado “Abono Salarial” – que nunca
deveria ter existido – limitando o universo dos trabalhadores que o receberia.
Apenas os de menor salário, que precisam realmente, continuariam recebendo essa
doação que, em verdade, não contempla hoje nenhuma política social. Será pago
aos empregados com carteira assinada em um país com 11,8% de desemprego e 41%
da população ocupada na informalidade! Para proteger trabalhador hoje, aqueles
que estão desocupados e na informalidade é que deveriam ser contemplados. Isso
mostra que nossos senadores, além de todos seus outros defeitos, são
INCOMPETENTES! E desse modo a Reforma economizará apenas 800 bilhões de reais em 10
anos, insuficientes para uma solução duradoura do problema fiscal!
Já abordei esse tema antes, contando como e porque surgiu o
Abono Salarial, no blog intitulado: MEU PIS SUBIU A SERRA E SUMIU! Só que
quando o fiz os Congressistas pareciam reconhecer que o Abono não corresponde a
uma política social séria. Tanto assim que o encerrei esperançoso:
“Aparentemente, mudaram de ideia os congressistas que apoiam
o Governo mas não aceitavam as mudanças propostas no projeto de Reforma da
Previdência, relativas ao Abono Salarial. Fazem bem em apoiar esse aspecto corretor
do projeto do Ministério da Economia.
É bom que não incidam no equívoco daqueles que consideram o
Abono um instrumento da política social do Governo. Em verdade, essa benesse –
esse é o termo correto - surgiu para compensar a cassação, pela Constituição de
1988, de um direito legítimo do trabalhador, criado pelos Governos da Revolução
de 1964.
O Abono Salarial não
é, portanto, um instrumento de política social do Governo. Muito pelo
contrário, seu surgimento foi exatamente o resultado de um retrocesso
imperdoável, que retirou do povo trabalhador um pecúlio que ficaria à sua
disposição em momentos marcantes de sua vida no futuro, como o casamento e a
aposentadoria."
...............................................................................................................................................................
Isso mesmo: “PIS e
PASEP surgiram em 1970 como instrumentos da política social do Governo do
General Médici: o Programa de Integração Social - PIS (por meio da Lei
Complementar n° 07, de 07 de setembro de 1970), para os empregados do setor
privado; o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PASEP
(instituído pela Lei Complementar nº 08, de 03 de dezembro de 1970), para os
servidores públicos. Eu trabalhava à época no IPEA, que participou da criação da
legislação.
Por meio dela, todos os trabalhadores do setor formal da
economia passaram a receber mensalmente, em suas contas no Banco do Brasil ou na Caixa
Econômica, sob a forma de cotas
individuais, um depósito feito pelos seus empregadores, proporcional aos salários.
Capitalizados ao longo do tempo, esses recursos constituíam um pecúlio, a ser sacado no futuro pelo
trabalhador. Era um instrumento libertador, para propiciar-lhe maior autonomia
e independência.
A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, nos
termos do seu art. 239, os recursos
provenientes da arrecadação das contribuições para o PIS e para o PASEP foram
retirados do trabalhador e destinados ao FAT, por iniciativa do
esquerdista José Serra. Surgia então
mais um dinossauro estatal, patrocinado e entregue à esquerda sindical, com sua
burocracia esterilizante e suas prestações de contas sempre duvidosas. FAT era
uma sigla que mais propriamente deveria significar “Fundo de Apoio ao Partido dos Trabalhadores”. O FAT financiou o surgimento do PT!
As cotas individuais (o pecúlio) do Fundo de Participação
PIS-PASEP, existentes à época da aprovação da nova legislação obviamente foram
mantidas, como direito adquirido dos trabalhadores seus titulares. Mas o fluxo
de dinheiro para as contas individuais cessou a partir de então. E pior: o
rendimento anual do capital remanescente, pertencente aos trabalhadores, sempre foi
baixíssimo. Ao aposentar-me, tive uma desagradável surpresa: meu PIS era
irrisório, corroído pela inflação, embora os depósitos em meu favor tivessem sido elevados.
A principal fonte de recursos do FAT passou então a ser
composta pela arrecadação do PIS/PASEP. O CODEFAT - gestor do FAT - elaborava
diretrizes para os programas a serem executados, estabelecendo a respectiva
alocação de recursos, realizando o acompanhamento e avaliação de seu impacto
social. Mas só teoricamente, para propor o aperfeiçoamento da legislação referente às
políticas públicas de emprego, trabalho e renda. Do total dos recursos, desde
logo, pelo menos 40% (quarenta por cento) eram alocados ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social – BNDES que os repassava sob a forma de financiamento de
Programas de Desenvolvimento Econômico, cujo objetivo primordial seria a
criação de empregos no País. O atingimento desse objetivo, porém, era declarado
pelo BNDES mas jamais foi adequadamente comprovado. O BNDES já perdera a
seriedade há muito tempo...Os projetos eram para beneficiar sindicalistas.
Os recursos remanescentes do FAT destinaram-se a uma “soi
disant” compensação aos trabalhadores, pela perda do pecúlio do PIS/PASEP. Essa
reparação, bastante discutível, consistiria no custeio do Abono Salarial e do Programa
do Seguro-Desemprego.
O Abono foi comendo os recursos outrora dedicados à qualificação profissional e cresceu desmesuradamente ao longo do tempo,
embora não contemplasse uma política
pública bem definida. Em verdade, era um instrumento demagógico, de caráter
meramente político e além do mais sujeito à fraude desenfreada.
No Governo Temer começaram as restrições ao Abono, bastante
aceitáveis, embora o ideal fosse a destinação total dos recursos respectivos a
programas com objetivos concretos. Aliás, o ideal mesmo seria que a Reforma da
Previdência propusesse a extinção do Abono Salarial, por ser inócuo e
destituído de objetivos claros.”
Agora o Senado revive essa excrescência... e a chama de “proteção
ao trabalhador”. É pra lamentar ter no Brasil esse tipo de parlamentar...