quinta-feira, 18 de julho de 2019

DADOS EDUCACIONAIS: TESOUROS INEXPLORADOS


Os novos gestores do Ministério da Educação no Governo Bolsonaro, empossados recentemente, começam a divulgar as ações que pretendem empreender – como o FUTURE-SE - para recuperar o combalido setor de atividades sob sua responsabilidade. Há uma vasta tarefa a realizar e os brasileiros de boa vontade que puderem colaborar com a obra de reconstrução têm o dever de fazê-lo. Obviamente estarei entre os que desejam ajudar, pois nossa educação é um dos pontos de estrangulamento a impedir nosso desenvolvimento pleno.
Um dos pontos para os quais eu pediria a atenção dos novos administradores diz respeito ao aproveitamento, até agora muito deficiente, da vasta informação existente sobre o setor educacional em geral e sobre seus atores, inclusive os estudantes.
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Convidado pela UNESCO participei, em 10/07/2019, do webinar  (seminário veiculado pela internet) do IIPE (Instituto Internacional de Planejamento da Educação) sobre a utilização dos dados coletados nas avaliações sistêmicas de aprendizagem.
Não se trata, no caso, daquela avaliação a nível micro, feita periodicamente pelos professores com seus alunos, de modo a mensurar o progresso de  sua aprendizagem individual para fins de promoção, recuperação ou reprovação. O tema abrange especificamente aquelas operações a nível macro, envolvendo milhares e até milhões de estudantes – como o PISA em nível mundial e o ENEM no Brasil.
Essas testagens em grande escala se tornaram uma constante na maioria dos países, incentivadas pela iniciativa da OECD, ao lançar o PISA no ano 2000 e realizá-lo a cada 3 anos, com a participação de um número crescente de países.
O Seminário do IIPE da UNESCO parte da constatação de que esses dados, coletados a custos elevados, não recebem, na maioria dos países, o tratamento adequado para fins de melhoria da qualidade da educação. Como eu resumi em uma intervenção no webinar, “o tema do Seminário é extremamente relevante: o Brasil gasta fortunas para avaliar a qualidade da aprendizagem mas não utiliza plenamente os dados coletados, os quais seriam preciosos para construir políticas públicas adequadas, de modo a melhorar a qualidade de sua educação”.
O Brasil é um exemplo clássico de país em que a pesquisa educacional é deficiente e montanhas de informações colhidas sobre o ensino, com gastos milionários, restam desprezadas, esquecidas. E não são apenas os dados do setor educacional... Há uma infinidade de estatísticas coletadas a custos elevadíssimos e que repousam desperdiçadas nos bancos de dados de nossas instituições, à espera da análise de nossos pesquisadores, gestores em geral e formuladores de políticas públicas. Caso eu fosse Secretário Municipal de Educação, por exemplo, pediria acesso ao Cadastro Único do Bolsa Família e utilizaria os endereços das famílias beneficiadas para promover sua visitação periódica por um Agente de Desenvolvimento Humano. Seria o “Professor de Família” que iria acompanhar e auxiliar os estudantes dessas famílias em suas tarefas escolares, os quais geralmente  não podem receber essa assistência de seus pais ou responsáveis.
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A propósito, a UNICEF também está desenvolvendo um interessante programa, denominado “Data Must Speak” (os dados devem falar), visando maximizar o uso de informações educacionais existentes,  de modo a orientar decisões de políticas públicas, informar os cidadãos em geral e dar às comunidades o poder de influir no ensino a nível local. Na África, a UNICEF conta com a ajuda do Polo do IIPE da UNESCO em Dakar.
As autoridades de educação dos governos envolvidos, em níveis nacional e subnacional, analisam, comparam e usam os dados para informar a alocação de recursos e a gestão do sistema educacional com uma perspectiva de equidade. As comunidades, os pais e os alunos são informados acerca dos recursos de suas escolas  e de como elas estão se saindo em comparação com outras escolas, para que possam agir e pressionar os administradores das unidades a melhorar o desempenho escolar e a alocação de recursos. A pesquisa gera um conhecimento aprimorado sobre o desempenho: avaliações rigorosas são realizadas ao longo do caminho, para saber o que funciona e o que não funciona “ao fazer os dados falarem”. Ótima iniciativa, que podemos adotar!
O MEC deve estimular o trabalho do INEP no sentido de bem aproveitar os dados educacionais disponíveis, em pesquisas que conduzam à melhoria da qualidade da educação brasileira.


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