Acredito
na importância da educação continuada e procuro atualizar-me sempre, exercendo cotidianamente
minha “autonomia para o autodidatismo” a qual conquistei há muitos anos, “aprendendo a
aprender”.
Isso
não significa estar fora de cogitações que no futuro eu venha a estudar de
modo mais
sistemático e formal, em
alguma instituição confiável, em curso a distância ou presencial. Nesse caso,
porém, mesmo matriculado em estabelecimento de boa tradição, acho necessário atualmente
observar uma condição “sine qua non”: firmar
um contrato de prestação de serviços em que a instituição de ensino daria “garantia
de qualidade” da educação que me será ofertada.
Garantia
de qualidade da educação é um conceito novo, mas não implica em exagero. Justifica-se plenamente, nestes tempos de
vertiginosa evolução científica e tecnológica, em que tudo muda velozmente,
alterando métodos e processos de produção, tornando obsoletos equipamentos e
habilidades adquiridas. Era de descontinuidades, em que conhecimentos
aparentemente consolidados são ultrapassados e até valores humanísticos são
abalados e substituídos com rapidez. Diante disso, cabem ao estudante, perfeitamente,
algumas perguntas definitivas: o que eu aprendi, ainda vale ao fim do curso? Valerá
no futuro? Por quanto tempo?
Dois
exemplos da vida real, muito comuns, podem clarificar a questão:
a)
Um
operário da indústria quer especializar-se e para isso procura um curso de
educação profissional em que aplica suas parcas economias. A parte prática desse
aperfeiçoamento é ministrada em equipamentos próprios do estabelecimento de
ensino. Após concluir o curso com sucesso, ao candidatar-se a um emprego, o
trabalhador tem o desprazer de verificar que sua formação já estava ultrapassada
quando lhe foi ministrada, posto que foram utilizadas máquinas obsoletas, não
mais em uso nas fábricas em funcionamento. Os potenciais empregadores consultados
negar-lhe-ão a vaga e seu esforço estará perdido;
b)
Um
profissional de nível superior descobre um nicho de mercado de trabalho
altamente remunerador e sem muita
concorrência, vislumbrando a oportunidade de ocupar um bom emprego nessa área.
Precisa, porém, cursar um MBA de um ano de duração naquela especialidade - com
a qual não tem muita familiaridade. Investe seu tempo e dinheiro nos estudos e
depois de sua conclusão sai à busca do cobiçado posto de trabalho. Entrevistado
pelo RH das empresas que procura, verifica que os requisitos e as exigências
para o exercício profissional pretendido não foram cobertos pelos ensinamentos
que absorveu no curso, pois nesse interim a tecnologia evoluíra e até os
paradigmas mudaram. O MBA ignorou as mudanças do mercado e a aspiração por um
emprego melhor fracassou.
A
decepção desses dois trabalhadores pode ser facilmente percebida e suas razões
bem determinadas, pois em ambos os casos havia uma grande especificidade da
formação que demandavam para atingir suas metas. O mesmo ocorre – embora veladamente
- com a educação geral de má qualidade. Quando a escola de ensino fundamental ou
o curso de nível médio pecam na qualidade, talvez os estudantes (e seus
responsáveis) não consigam percebê-lo de imediato com clareza. Poderão
desconfiar porque, por exemplo, os professores faltam muito, a parte
administrativa da escola é desorganizada e burocrática, as aulas são
tumultuadas e os horários não são
cumpridos. Mas ignoram o essencial – seu
baixo nível qualitativo – e sofrerão os resultados danosos ao longo do
tempo. Não só no mercado de trabalho, mas em várias outras dimensões de suas vidas e
talvez para todo o sempre – a menos que haja uma intervenção corretiva, por
meio da educação continuada, uma solução emendativa para muitos.
As
instituições que prestam serviços educacionais têm que prover meios, aos seus
clientes, de se defenderem dessa possível perda de efetividade do seu
aprendizado. Obrigatoriamente no curto prazo e eventualmente até a longo prazo.
Seria isso possível? A resposta depende da criatividade dos educadores, que certamente
encontrarão os meios necessários. Uma instituição preocupada com a qualidade de
sua função docente manterá, permanentemente, estruturas próprias visando o objetivo
de garantir a pertinência dos ensinamentos ministrados a seus alunos. Como,
aliás, ocorre em outras áreas de prestação de serviços.
Na
terminologia dos órgãos que se dedicam aos estudos sobre qualidade em geral, o
“conceito de "Garantia" está associado ao risco potencial de
não-qualidade. Em outras palavras, um produto (bem ou serviço) tem garantia de
qualidade quando seu fornecedor estabelece um processo de trabalho de tal forma
que a probabilidade de falhas no produto seja nula. Um Sistema de Garantia da
Qualidade é um conjunto planejado de atividades, que se adiciona ao processo
natural de fornecimento de um dado produto, com o objetivo de reduzir o risco
de falhas.
Os
Sistemas de Garantia da Qualidade foram inicialmente desenvolvidos a partir de
exigência explícita de clientes em determinados segmentos de mercado. Esses
segmentos de mercado se caracterizavam pelo fato de que o custo provocado pela
não-qualidade do bem recebido por esses
clientes era muitas vezes superior ao preço do bem adquirido.” (
http://www.qualidade.com/glos-01.htm, Capturado em 20/01/2014).
Essa
mesma fonte especializada adverte que o custo gerado pela não-qualidade inclui muitos
“danos provocados à sociedade”, uma realidade com a qual nos defrontamos a todo
instante, quando são noticiados erros médicos grosseiros, desabamentos por
força de projetos de engenharia falhos, acidentes de trânsito por imperícia do
condutor, catástrofes as mais variadas por falta de gestão eficaz na
administração pública, repetidos acidentes de trabalho por inobservância das
normas de segurança, ações policiais desastradas e assim por diante. O custo da
má qualidade da educação, em todos os níveis e modalidades, é elevadíssimo, do
ponto vista humano e material.
Nos
dois exemplos citados, a garantia de qualidade seria possível com medidas
óbvias. Instituições que se dedicam a formar para o mercado de trabalho devem
estar em dia com a tecnologia mais moderna da área em que atuam, prestar
atenção permanente à evolução dos respectivos
setores de produção, contratar professores que conhecem o “estado atual da
arte” na sua matéria, utilizar-se de equipamentos e materiais atualizados. Consultoria
de profissionais especializados, intercâmbio com os meios empresariais,
contatos com órgãos que fazem a intermediação de emprego etc são algumas providências que devem se tornar
rotineiras. Dessa forma, a qualidade da educação profissionalizante seria
provavelmente preservada no curto prazo, embora mudanças radicais na tecnologia
do setor sejam possíveis e imprevisíveis. Aí entrariam os instrumentos emergenciais
de “recuperação de qualidade”. O
estabelecimento pode oferecer aos seus ex-alunos, durante os anos imediatamente
posteriores à conclusão de seus cursos, a baixo custo ou até gratuitamente, o
acesso a material didático (apostilas,
vídeos, programas de computador ou mesmo cursos online) apresentando conteúdos
que atualizem conhecimentos e habilidades porventura tornados obsoletos durante
o período pré-estabelecido. Seria uma assistência técnica que é parte da
garantia oferecida. Nos casos extremos, pode-se até prever o ”recall” para o
aluno refazer parte do curso ministrado em que ocorreram falhas comprovadas ou cujo
conteúdo foi superado, parcial ou integralmente, no mundo real.
Tratando-se
da educação geral, a concretização da “garantia de qualidade” é mais complexa,
mas a solução estará quase sempre em disponibilizar para a população as várias
modalidades da educação continuada a seu alcance. Oferta universal, que é tarefa
que cabe aos poderes públicos e é negligenciada em nosso país.
A
realidade prova que o direito à educação,
assegurado em nossa Constituição, não é suficiente. Todo brasileiro deveria ter
garantia de acesso a uma educação de qualidade.
Comente, critique, concorde, discorde, mas apresente
suas ideias em favor da educação.