Governos competentes precisam enfrentar eventuais crises com muita criatividade. A
solução para déficits fiscais não pode ser simplesmente a de elevar impostos,
principalmente quando a carga tributária já é muito elevada e mesmo
insuportável. Embora a mais cômoda, talvez seja a menos eficaz e a mais
perigosa de todas as saídas disponíveis. Reduzir despesas correntes e procurar
manter investimentos prioritários é receita universalmente reconhecida como a
mais adequada.
Visitei cerca de 500
municípios brasileiros ao longo de minha vida profissional. Essas viagens eram parte importante de minhas obrigações, sobretudo
durante os 9 anos em que dirigi o MOBRAL.
Foi uma experiência enriquecedora sob todos os aspectos.
Com fina ironia, um
de meus assessores mais competentes - Roberto Gursching (o Beto) - afirmava que
“a ida a campo distorcia a realidade”. O
tom gozador dessa crítica era apenas aparente e a observação tinha certa razão:
casos particulares, muitas vezes, induzem a erro os gestores de projetos de
amplitude nacional, como o MOBRAL, os quais devem guiar-se primordialmente pelas estatísticas globais e
não pelas exceções.
Mas eu teimava e
desobedecia a essa lógica fria, porque o MOBRAL tinha um forte componente de
emoção e havia um enorme prazer em ver o ótimo trabalho que o bravo pessoal da
instituição realizava, muitas vezes em condições adversas. Foram ótimas lições...
Assistir, todos os
dias, os noticiários de rádio e TV a descrever os mais variados problemas que
afligem nossa população, em diversos recantos do território nacional, não me
surpreende. Sei, com certeza, que existem
no Brasil dezenas ou centenas de municípios sem qualquer possibilidade de
atender aos compromissos que lhes são atribuídos pela legislação em vigor. Já nasceram inviáveis, criados sem o mínimo
planejamento, apenas ao sabor de interesses políticos subalternos. Vivem em
constante desequilíbrio financeiro,
enfrentando grandes carências, com populações sofridas, desassistidas.
Neste momento, em que nosso país atravessa grave crise
econômica, caem as receitas e as transferências de verbas rareiam, a fusão de
municípios inviáveis é uma exigência irrecusável. Essa medida viria muito a
calhar, neste momento em que o Brasil necessita
urgentemente de medidas poupadoras de recursos públicos. E é assustador que não vejamos surgir uma única voz, seja de gestor do Executivo, seja de político com
mandato, para aventar essa hipótese da fusão de municípios deficitários e
levantar uma bandeira reformista de uma clareza inegável.
Com a queda de arrecadação, o Fundo de Participação dos
Municípios reduz-se e muitas Prefeituras ficam, neste momento, sem a mínima
condição de cumprir os compromissos que lhes são legalmente atribuídas, muitas
das quais de obrigatoriedade inquestionável. Esses Municípios deprimidos são
quase “fantasmas”. Aliás, não existem nem no mundo virtual, sequer têm portais
na web, impossibilitando o acesso do cidadão às suas informações básicas.
Em 1960, segundo o IBGE, existiam 2.766 municípios no país;
em 1970 já eram 3.952; daí até 1980 tiveram um crescimento modesto e passaram a
3.991; mas em 1991 deram um salto e aumentaram
para 4.491; finalmente, em 2000, pularam
para 5.561, atingindo um gigantismo injustificável.
O Brasil, em meados de 2015 – ano de uma grande crise
econômica que certamente vai alcançar 2016 - tem 5.570 Municípios, igual número de Prefeitos, milhares
de Secretários e cerca de 60.000
vereadores. Gestores de repartições sem verbas, nem têm o que administrar mas
recebem seus salários - alguns até abusivos.
Estão certamente entre
aqueles municípios que não cumpriram, por exemplo, a tarefa obrigatória de elaborar um plano
municipal de educação para a próxima década. São os 55% dos municípios brasileiros que deverão ter déficit no abastecimento de água
em 2015. Nos quais não há creches: a candidata Dilma Rousseff prometeu 6 mil
creches na campanha do seu primeiro mandato mas só entregou pouco mais de mil. Na
saúde a situação é ainda mais crítica e o vácuo assistencial nos municípios é
assustador.
Dentre as principais transferências constitucionais da União
para os estados, o DF e os municípios, destacam-se o Fundo de Participação dos
Estados e do Distrito Federal (FPE); o Fundo de Participação dos Municípios
(FPM); o Fundo de Compensação pela Exportação de Produtos Industrializados
(FPEX); o Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério (Fundef); e o Imposto sobre a Propriedade Territorial
Rural (ITR). Todos estão em baixa e a tendência é de queda...
Será que surgirá algum homem público com discernimento e
coragem para propor essa fusão?