Fico muito preocupado com o anúncio de que o Brasil vai
aplicar 10% do PIB em educação. Nos últimos anos, o Ministério da Educação (MEC)
elevou substancialmente suas despesas, mas muitos desses recursos foram e são
desperdiçados, pois em termos de gestão o órgão parece prisioneiro de um
determinismo fatal, que o persegue há mais de dez anos: lá nada dá certo, a
qualidade de nossa educação continua péssima e o motivo primordial é a falta de
planejamento, agravada pela orientação ideológica da instituição. A esquerda parece
estar mais preocupada em se perpetuar no poder através da doutrinação da juventude do que desejosa de construir uma nação
justa, digna e ética.
Mesmo as boas ideias naufragam calamitosamente no MEC. Um
exemplo é o programa “Cientistas sem Fronteiras”, resultante de trabalho conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do MEC, no qual se prevê a utilização de até 101 mil bolsas em quatro anos para que nossos alunos universitários
de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior, em sistemas
educacionais mais avançados em termos de tecnologia e inovação. (Capturado a
17/11/2014, do sítio http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/o-programa).
Na campanha eleitoral falou-se que se tratava de um programa de R$ 3 bilhões.
Essa iniciativa, meritória, esbarrou logo de início numa
triste realidade: o MEC não conseguiu reunir o número necessário de estudantes capacitados
para usufruir das bolsas disponíveis. Afrouxando a seleção dos candidatos, para
cumprir suas metas quantitativas, o MEC errou, enviando ao exterior candidatos sem
a necessária qualificação. Resultado: muitos dos bolsistas voltaram ao Brasil
sem cumprir seus objetivos, pela incapacidade de seguirem as aulas. Dinheiro público
jogado fora, muita frustração e um atestado de incompetência. A razão primeira
de todo o episódio é de entristecer: a falta de domínio de uma língua
estrangeira pelos candidatos. Fruto de uma educação básica de péssima qualidade,
não conseguimos 101 mil universitários bilíngues! E note-se que o país registrou no ensino superior de graduação, em
2013, 6.152.405 estudantes matriculados em cursos presenciais e 1.153.572 em educação
a distância, totalizando mais de 7,3 milhões alunos. Os concluintes chegaram
quase a 1 milhão!
O MEC fingiu ignorar – ou ignorava mesmo - essa realidade monoglota e deu com os burros
n´água literalmente. Agora reage, tardiamente, lançando um programa
complementar, denominado “Idiomas sem Fronteiras”. Programa emergencial, que
deveria ter precedido o “Cientistas sem Fronteiras”. Embora a solução real, sem dúvida, seja melhorar a qualidade de nosso ensino básico, pois
nessa deficiência repousa o maior dos males de nossa educação. O problema,
porém, é que o MEC ignora o planejamento e limita-se a “correr atrás do
prejuízo”.
Um exemplo:
O Brasil terminou outubro de 2014 com 279 milhões de
telefones móveis em plena utilização. Um fenômeno típico do consumo de massa associado
à tecnologia moderna e que explodiu em nosso país graças à privatização do
setor. O celular já mudou para melhor a
vida de milhões de pessoas, no trabalho, no lar, nas relações sociais, mas pode
fazer ainda mais.
No caso do jovem brasileiro médio o uso do telefone móvel é
um aspecto central, da maior importância em todas as suas ações cotidianas. Em
muitas das nossas escolas, porém, o celular é tratado por professores e
diretores como um inimigo da disciplina e do rendimento dos alunos. Talvez, muito ao
contrário, se devesse aproveitar a sedução dessa mídia espetacular em favor da
educação. Como elemento de motivação, como novidade pedagógica, como agregador
para o trabalho em equipe.
O MEC, caso tivesse visão prospectiva, providenciaria de
imediato um grande concurso nacional visando inventariar os diversos usos
possíveis do telefone móvel para dinamizar a educação no Brasil. A seguir,
partiria para incentivar a iniciativa privada à realização dos vários programas,
jogos e aplicativos cabíveis com os conteúdos pedagógicos próprios do ensino
básico. Em vez de um elemento de disputa, o celular seria certamente um
auxiliar poderosíssimo na educação de nossas crianças e adolescentes. Quem sabe
se a nova administração do MEC não o desperta do torpor que o caracterizou nos
últimos anos?