quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O BIQUINI DO IBGE DO E... NO EMPREGO

Roberto Campos – com quem tive o prazer de trabalhar e conviver por muitos anos - costumava lembrar com fina ironia que “a estatística é como o biquíni: o que mostra é sugestivo  mas o que esconde é essencial”. Economista formado nos Estados Unidos, Campos recordava a feliz imagem criada pelo professor Aaron  Levenstein: "Statistics are like a bikini. What they reveal is suggestive, but what they conceal is vital.”
Acredito na Estatística e a formação acadêmica de engenheiro me permite dominar alguns conceitos (probabilidade, teoria dos erros, grau de fidedignidade  etc) que relativizam adequadamente sua valia. De todo modo,  considero-a muito importante para o processo de tomada de decisões, uma ferramenta valiosa de gestão democrática e um instrumento inigualável para a formação de uma opinião pública consciente.
Creio que a má fama da Estatística como elemento de embuste e embromação – especialmente na atividade política - se deve quase exclusivamente a maus profissionais que se aproveitam  do fato de a população ser constituída de leigos, não iniciados em números, para distorcer a realidade e iludir eleitores.
Hoje, constatei satisfeito que boa parte da mídia divulgou com precisão os resultados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de janeiro de 2016, ressaltando que  a taxa de desocupação nela estimada, de 7,6%, se refere apenas a 6 (seis) Regiões Metropolitanas e não ao Brasil como um todo, onde o desemprego já deve estar na casa dos 10%.  A PME cobre um universo de apenas  25 milhões de trabalhadores  e o país como um todo tem uma força de trabalho superior a 102 milhões.
Infelizmente, essa transparência geralmente não prevaleceu no passado e a divulgação da taxa de desemprego da PME era apresentada na mídia como a TAXA DE DESOCUPAÇÃO DO BRASIL, desinformando a opinião pública e minimizando um dos grandes problemas que já flagelam nosso povo, especialmente o mais humilde, desde 2014.
O IBGE- que deveria ser um órgão técnico e não político -  tem grande culpa nessa confusão, até pelo fato de insistir em  realizar uma pesquisa – a PME - que já caducou há muito, desde quando se deu uma relevante desconcentração da produção, com interiorização da indústria e dos serviços, antes limitados aos grandes centros urbanos e suas cercanias. Meio sutil do IBGE do E para confundir os leigos e mascarar as altas taxas de desocupação. A PNAD Contínua foi  implementada pelo órgão com um atraso de muitos anos. Os governos das duas últimas décadas, igualmente culpados, continuaram subsidiando – com o dinheiro dos contribuintes, como eu  e você – algumas pesquisas de emprego totalmente inúteis, que usavam conceitos errados, com fins políticos, financiando as chamadas “ONGs  amigas” e mantendo apenas os empregos de seus fiéis servidores. Assunto que abordei em blogue tempos atrás.
Como o desemprego está  crescendo fortemente e levando ao desespero muitas famílias brasileiras, é preciso redobrar a atenção da opinião pública em relação às respectivas informações.
Neste momento, por exemplo, os analistas aguardam ansiosos os dados do CAGED do Ministério do Trabalho para janeiro de 2016, que normalmente seriam divulgados em meados do mês e até agora não vieram a público. Infelizmente, analisando o retrospecto de incompetência e politicagem reinantes,  os resultados, sendo ruins, só sairão na sexta feira (26/02/2016) à tarde, pois os marqueteiros governamentais sabem que há poucos noticiários e comentários no sábado e domingo, minimizando a repercussão negativa. Truque para lograr os amadores no ramo.
Mas finalizo abalando a crença na Estatística, lembrando que meu amigo Mario Henrique Simonsen viveu uma fase (eu também sofri a minha) em que tinha pavor de viajar de avião. Ia, cumpria seus compromissos, mas sofria. Um dia, tentando  sua conversão a “amigo do ar”, lembrei a Simonsen que ele era um excepcional matemático e que a Estatística ensinava que a probabilidade de acidente com um voo já era baixíssima naquela época, de 1:36.000. De imediato, Mario respondeu que não era “grande número” e que se aquele seu avião caísse ele estava perdido...* Biquini!

*No Reino Unido, um estudo mostrou que atualmente a probabilidade de acidente aéreo é de 1 em 67.000 voos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

"DANDO BOLA" AO DESEMPREGO

O  Clube dos  Caiçaras, fundado em 1931, é um complexo de lazer na Lagoa Rodrigo de Freitas que ocupa uma ilha situada em frente ao Jardim de Alah, o qual margeia o canal que separa Ipanema  do Leblon. É um daqueles patrimônios valiosos que tornam essa região do Rio de Janeiro  – deitada aos pés do Cristo Redentor - extremamente  charmosa  e encantadora. O Caiçaras foi  a inspirada  criação de algumas famílias do bairro, dentre as quais a do sociólogo Marcos de Carvalho Candau, cujo patriarca Jarbas de Carvalho foi  também fundador da ABI. Pioneirismo a que devemos agradecimento eterno.
Fui sócio do  Caiçaras na década dos 70 e lá desfrutei de maravilhosos momentos com minha família. Antes disso, já  frequentara eventualmente sua piscina, seus bailes e jogara futebol de salão e voleibol em seu ginásio.  Lembro-me bem, desde sempre, da garotada que agilizava os jogos de tênis, devolvendo com presteza as bolas aos sacadores – os “boleiros”, na gíria dos tenistas. Equivalentes aos “gandulas” do futebol.
Os “boleiros” do Caiçaras estão no centro de uma polêmica, definidos como vítimas do cruel trabalho infantil e proibidos de continuar a atuar no clube sem o vínculo de “menor aprendiz”. Estão na rua, sem renda, comida e assistência médica e odontológica que o clube provia.
Não é nada confortável a situação do Brasil na área de trabalho. Grosso modo, de acordo com a PNAD Contínua relativa ao trimestre de setembro a novembro de 2015, dos 165 milhões de brasileiros em idade de trabalhar (PIA), apenas 101 milhões participavam da força de trabalho.  Destes, 92 milhões estavam ocupados e 9 milhões penavam procurando emprego. 
Dentre os 92 milhões  ocupados há 56 milhões de empregados  (10 milhões sem carteira assinada), 4 milhões de empregadores, 6 milhões de trabalhadores domésticos, 23 milhões de trabalhadores por conta própria e quase 3 milhões de auxiliares não remunerados de suas famílias.
Há, portanto, cerca de 64 milhões que não participam do mercado de trabalho. Estão nesse grupo os estudantes (46 milhões no total) e membros das 14 milhões de famílias que  vivem  do Bolsa Família e outras transferências de renda de cunho social.
Todos os países devem objetivar a universalização do trabalho decente, conforme definido pela OIT e têm a obrigação de coibir a atividade infantil degradante. Mas no Brasil atual a prioridade é criar emprego e não destruí-los. E na gestão pública devem sempre prevalecer o bem comum e o bom senso. Se a atividade dos “boleiros” do  Caiçaras for coibida, corremos o risco, em breve, de assistir à autuação das “escolinhas” de vôlei, futebol, boxe, judô etc  etc  etc e respectivas ONGs como perigosos antros de exploração do trabalho infantil.

E não haverá espírito esportivo que possa suportar uma insanidade desse teor do nosso onipresente BIG BROTHER!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

PISA NO ACELERADOR BRASIL!

Fui convidado pela OECD a participar do seu Webinar (Seminário pela internet) de 10 de fevereiro de 2016, sobre o tema “ Low-performing Students: Why they Fall Behind and How to Help them Succeed” (Estudantes de baixo desempenho: porque ficam para trás e como ajudá-los a ter sucesso). Foi ótimo!
Após alguns anos de aplicação do teste PISA em diversos países, a OECD dispõe de informações interessantíssimas, preciosas mesmo, sobre a educação de uma boa parte do mundo. Com base nos resultados do período de 2003 a 2012, Andreas  Schleicher   apresentou no Seminário um  estudo que focalizou os estudantes que tiveram o pior desempenho nos testes PISA – exatamente aqueles que merecem maior atenção quando se busca a igualdade de oportunidades.  Objetivos do estudo:  lançar alguma luz sobre as causas do fracasso escolar (diagnóstico) e levantar hipóteses sobre as ações necessárias para elevar o rendimento desses estudantes (políticas públicas).
A OECD define como de "baixo desempenho" aqueles estudantes que pontuam abaixo do Nível 2 em matemática, leitura e / ou ciências no teste PISA. O Nível 2 é considerado o nível basal de proficiência, necessário para alguém participar plenamente na sociedade. Os estudantes que obtêm o Nível  1 podem responder a questões que envolvem orientações claras e que requerem uma única fonte de informação e ligações simples; mas esses alunos não podem desenvolver raciocínios mais complexos, para resolver os tipos de problemas que são rotineiramente enfrentados pelos adultos de hoje nas sociedades modernas.
A conclusão mais  abrangente do estudo foi decepcionante:  a maioria dos países fez pouco progresso na ajuda aos seus alunos mais fracos para melhorar seu desempenho em leitura, matemática e ciências ao longo da última década. Isto significa que muitos jovens ainda estão deixando a escola sem as habilidades básicas necessárias para viver na sociedade moderna e ter bom desempenho no trabalho, prejudicando seu futuro e o crescimento econômico, a longo prazo, de seus países.
Analisando os resultados do estudo PISA da OCDE entre 2003 e 2012, o estudo revela que alguns países têm conseguido melhorias entre os estudantes de baixo desempenho. No caso da Matemática, países  economicamente  e culturalmente diversos como Brasil, Alemanha, Itália, México, Polónia, Portugal, Rússia, Tunísia e Turquia reduziram sua participação de alunos com fraco desempenho  entre 2003 e 2012.  O que mostra que a redução da percentagem de alunos com fraco desempenho é possível em qualquer lugar, escolhidas as políticas certas e havendo vontade de implementá-las. Infelizmente, porém, o Brasil não conseguiu progresso significativo  nas duas outras matérias componentes do teste PISA: Leitura e Ciências. Precisamos fazer mais!
 "Os ganhos sociais e económicos decorrentes da eliminação do baixo desempenho cobrem qualquer custo concebível para obter essa  melhoria", disse Andreas Schleicher, diretor da OCDE para Educação e Habilidades. "Políticas e práticas de Educação podem ajudar a superar este problema. A Educação deve ter prioridade e ser  dotada dos meios necessários para que toda criança possa ter sucesso na escola ".
Para quebrar o ciclo de absenteísmo e baixo desempenho, o relatório apresenta uma série de recomendações que incluem:

·         Identificar baixo desempenho e projetar uma estratégia de política sob medida  para superá-lo;

·         Reduzir as desigualdades no acesso à educação infantil;

·         Fornecer suporte de recuperação para os alunos de baixo desempenho o mais cedo possível;

·         Incentivar o envolvimento dos pais e das comunidades locais;

·         Fornecer um apoio orientado para as escolas ou famílias desfavorecidas;

·         Oferecer programas especiais para imigrantes, minorias  linguísticas e  estudantes rurais;

No decorrer do Webinar enviei minha sugestão, focada na realidade brasileira. A sugestão de instituir o “Professor de Família”, no âmbito do Programa BOLSA FAMÍLIA:
At least in countries implementing income transfer programs – like Brazil - should be instituted the figure of the "Family Teacher," a Human Development Agent to visit the homes of those families in need, living in absolute poverty.  The  agent  would  assist all family  members - children , adolescents, adults and elderly - mainly (but not exclusively) guiding them on public policies and the means of continuing education available locally or regionally, to overcome the barriers of lack of knowledge.  Those FAMILY MEMBERS who are already in the educational system, especially in elementary school, would receive an important support for the realization of school work. This kind of student generally cannot find this  important  support  within their family - it also lacking with regard to education .

Acredito que seria uma medida essencial para tirar o Brasil de sua incômoda posição de inferioridade na Educação. O Relatório mostra que estão considerados de baixo aproveitamento 68,3% dos estudantes brasileiros testados no PISA em Matemática; 50,8% dos alunos avaliados em Leitura e 55,2% dos nossos participantes em Ciências. Em todos os três casos, estamos entre os 6 países de pior desempenho dentre os 64 analisados pela OECD. Como diriam os estatísticos, estamos no decil inferior! Uma lástima!

VIAGEM AO PASSADO

O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca... Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência In...