Amante do voleibol, não posso deixar de homenagear Bebeto de
Freitas, craque como jogador e insuperável
como técnico do esporte da rede. Com uma grande vantagem: posso fazer um
comentário objetivo, desapaixonado, pois tínhamos um convívio de simpatia mútua
mas distante. E nas quadras fomos
adversários ferrenhos, nos duelos entre o seu Botafogo e o meu Fluminense.
Bebeto foi um dos mais importantes jogadores do voleibol
brasileiro e para bem explicar seu papel de relevo é preciso rever a trajetória
internacional de nossas seleções masculinas.
Nos anos 50 e 60 as seleções masculinas brasileiras de
voleibol foram vítimas de um grande equívoco. A observação, no Mundial de 1956,
das seleções de ponta a nível mundial – todas da Cortina de Ferro, mas
especialmente a União Soviética e a Tchecoslováquia – foi falha e rendeu um
período negro de nossas seleções por muitos anos. Nosso técnico confundiu-se e pensou que as
equipes da Cortina de Ferro jogavam com 6 cortadores e sem um levantador
especialista. Na verdade, havia um levantador, de alto nível e com um
diferencial: eventualmente ele também cortava e isso confundiu nosso
observador.
O Brasil passou então a adotar um sistema de jogo sem levantador
especialista. Nosso time era sempre composto de 6 cortadores e os grandes
levantadores brasileiros da época não eram convocados para participar da
seleção. Não havia nem a oportunidade de comparar, nos treinamentos, equipes
com levantador especialista contra aquelas que só tinham cortadores, todos
improvisados para uma função que exige habilidades muito especializadas.
Repetindo: o que nosso técnico não percebeu foi o fato de
que em verdade aquelas equipes de ponta
tinham um levantador especialista, só que com um importante diferencial:
ele também cortava muito bem e nosso observador o tomou por atacante! Por esse
motivo, além da dificuldade da altura – éramos mais baixos que os europeus –
tínhamos que jogar com levantadas deficientes...
O resultado foi péssimo e perdurou até que surgiu um grande
levantador que também cortava muito bem: era Bebeto de Freitas. A partir daí
nossas seleções foram se tornando cada vez mais competitivas. Graças a esse
craque polivalente: BEBETO DE FREITAS! Daí sua importância como jogador. Ele provocou
a inflexão de nossas performances
internacionais.
Como técnico Bebeto atingiu todas as glórias. Não posso
fazer um julgamento completo, pois não assistia sua performance nos
treinamentos. Em compensação, não tenho nenhuma dúvida de que, dentro da
quadra, Bebeto foi o técnico que melhor mexia em sua equipe, em especial nos
momentos decisivos. Ágil, perspicaz, levou as equipes brasileiras ao topo,
tornando nosso país uma potência voleibolística. E fez escola. José Roberto e
Bernardinho, nossos super-técnicos do presente, muito aprenderam com Bebeto.
Bebeto era motivo de orgulho nacional. Um dos grandes
prazeres de minha vida foi ligar o rádio e ouvir a irradiação de uma partida de "pallavolo" entre Itália e Sérvia, sendo o time da bota peninsular dirigido por
Bebeto. Eu estava com Marisa e nossas filhas Cláudia e Carla, descendo de carro
as Dolomitas, os Alpes italianos, vindo da magnífica Áustria e rumando para a
Toscana. Naquela paisagem maravilhosa a vitória da Itália pareceu-nos a vitória de todos nós, brasileiros,
graças ao trabalho irretocável do craque Bebeto de Freitas.
Descansa em paz, Bebeto, sobre os louros de suas
inigualáveis vitórias. E obrigado por tudo que fez pelo progresso do voleibol
brasileiro. Você jamais morrerá em nossa memória.