terça-feira, 13 de março de 2018

VOLEIBOL PERDE UM CRAQUE: BEBETO DE FREITAS


Amante do voleibol, não posso deixar de homenagear Bebeto de Freitas, craque como jogador e insuperável  como técnico do esporte da rede. Com uma grande vantagem: posso fazer um comentário objetivo, desapaixonado, pois tínhamos um convívio de simpatia mútua  mas distante. E nas quadras fomos adversários ferrenhos, nos duelos entre o seu Botafogo e o meu Fluminense.
Bebeto foi um dos mais importantes jogadores do voleibol brasileiro e para bem explicar seu papel de relevo é preciso rever a trajetória internacional de nossas seleções masculinas.
Nos anos 50 e 60 as seleções masculinas brasileiras de voleibol foram vítimas de um grande equívoco. A observação, no Mundial de 1956, das seleções de ponta a nível mundial – todas da Cortina de Ferro, mas especialmente a União Soviética e a Tchecoslováquia – foi falha e rendeu um período negro de nossas seleções por muitos anos.   Nosso técnico confundiu-se e pensou que as equipes da Cortina de Ferro jogavam com 6 cortadores e sem um levantador especialista. Na verdade, havia um levantador, de alto nível e com um diferencial: eventualmente ele também cortava e isso confundiu nosso observador.
O Brasil passou então  a adotar um sistema de jogo sem levantador especialista. Nosso time era sempre composto de 6 cortadores e os grandes levantadores brasileiros da época não eram convocados para participar da seleção. Não havia nem a oportunidade de comparar, nos treinamentos, equipes com levantador especialista contra aquelas que só tinham cortadores, todos improvisados para uma função que exige habilidades muito especializadas.
Repetindo: o que nosso técnico não percebeu foi o fato de que em verdade aquelas equipes de ponta tinham um levantador especialista, só que com um importante diferencial: ele também cortava muito bem e nosso observador o tomou por atacante! Por esse motivo, além da dificuldade da altura – éramos mais baixos que os europeus – tínhamos que jogar com levantadas deficientes...
O resultado foi péssimo e perdurou até que surgiu um grande levantador que também cortava muito bem: era Bebeto de Freitas. A partir daí nossas seleções foram se tornando cada vez mais competitivas. Graças a esse craque polivalente: BEBETO DE FREITAS! Daí sua importância como jogador. Ele provocou  a inflexão de nossas performances internacionais.
Como técnico Bebeto atingiu todas as glórias. Não posso fazer um julgamento completo, pois não assistia sua performance nos treinamentos. Em compensação, não tenho nenhuma dúvida de que, dentro da quadra, Bebeto foi o técnico que melhor mexia em sua equipe, em especial nos momentos decisivos. Ágil, perspicaz, levou as equipes brasileiras ao topo, tornando nosso país uma potência voleibolística. E fez escola. José Roberto e Bernardinho, nossos super-técnicos do presente, muito aprenderam com Bebeto.
Bebeto era motivo de orgulho nacional. Um dos grandes prazeres de minha vida foi ligar o rádio e ouvir a irradiação de uma partida de "pallavolo" entre Itália e Sérvia, sendo o time da bota peninsular dirigido por Bebeto. Eu estava com Marisa e nossas filhas Cláudia e Carla, descendo de carro as Dolomitas, os Alpes italianos, vindo da magnífica Áustria e rumando para a Toscana. Naquela paisagem maravilhosa a vitória da Itália pareceu-nos a vitória de todos nós, brasileiros, graças ao trabalho irretocável do craque Bebeto de Freitas.
Descansa em paz, Bebeto, sobre os louros de suas inigualáveis vitórias. E obrigado por tudo que fez pelo progresso do voleibol brasileiro. Você jamais morrerá em nossa memória.

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