quinta-feira, 16 de agosto de 2018

MULTINACIOMAL


Nestes tempos de falta de confiança dos grandes investidores, atormentados por um Congresso tipo “toma lá dá cá”, um Executivo impopular e um Judiciário dizendo “nem isto nem aquilo, muito pelo contrário”, verifica-se com satisfação que empreendedores mais modestos ainda acreditam no futuro deste país em crise.
Um tipo de negócio do meu tempo de criança, que parecia estar desaparecendo, surge agora com grande dinamismo e nova roupagem: a barbearia, com ou sem adendos. Esse ressurgimento na área de serviços ocorre até mesmo no Estado do Rio de Janeiro onde, além da crise, grassou a mais daninha e bilionária onda de corrupção, envolvendo Governos e PETROBRAS – empresa que retardou seus projetos por força de um endividamento recordista até mesmo no âmbito mundial e que iria investir pesadamente no território fluminense, em especial no COMPERJ.
As barbearias ressurgem por todos os lados, certamente como exigência da nova moda masculina: utilizar o couro cabeludo como uma tela, inovação cujo pioneirismo deve ser atribuído por justiça aos jogadores de futebol, modelos de uma parte considerável de nossa juventude, certamente maravilhada com seus impressionantes exemplos de rápida ascensão social e econômica.
Mas não é só moda: a nova vaga tem muito de utilitária. Gerações que não conviveram desde cedo com a navalha, largamente usada para barbear nos meus tempos de criança, não adquiriram a intimidade necessária para lidar com o temível instrumento. Assim, dificilmente se adaptariam ao seu uso nestes tempos de correria em busca do nada e do talvez... Manuseá-la e manejá-la como instrumento artístico e seguro exige agora uma qualificação específica, de caráter profissional e o domínio dessa técnica gerou uma boa oportunidade de negócio para os iniciados.
Outro fator influente é a impossibilidade, no Brasil, de se fazer uma boa barba, econômica, no ambiente doméstico. As tentativas tecnológicas, com barbeadores elétricos, fracassaram e as lâminas... são caras e de qualidade inferior até ao SUS e à nossa educação básica nas escolas públicas.
Linha do tempo: quando trabalhei no IPEA, de 1965 a 1972, a instituição recebia farta assistência técnica do exterior e muitos especialistas estrangeiros eram nossos colegas no dia a dia do escritório. As viagens deles e nossas eram uma constante, para os Estados Unidos e para a Europa. Na véspera das partidas sempre havia aquela oferta amiga: a de trazer pequenas e leves encomendas para os colegas de trabalho. E não dava outra: dois pedidos principais, invariáveis, de pasta para dentes sensíveis e lâminas de barbear. O primeiro porque não havia similar nacional do creme dental; a segunda, pela gritante diferença de qualidade, as nossas lâminas sendo muito inferiores às da mesma marca e modelo vendidas nos países onde há controle de qualidade para valer.
A multinacional que fabrica o milagroso creme dental, de uma eficácia espetacular, rapidamente identificou o promissor mercado brasileiro e passou a fazê-lo localmente, com a mesma qualidade do produto vendido no resto do mundo e resultados fabulosos. É um sucesso.
Quanto às lâminas de barbear, 50 anos depois, continuam sendo de péssima qualidade no Brasil, prometendo na publicidade uma performance que nem de longe atingem. Dá aos consumidores a impressão de que esse produto jamais teve sua qualidade testada pelos órgãos responsáveis. Será que o INMETRO não tem o equipamento adequado para fazê-lo?
Liberal na área econômica, considero muito útil a presença de multinacionais  no setor produtivo brasileiro, pois nos trazem investimentos, empregos, avanços tecnológicos e competição. Mas há exceções...
Ainda bem que no caso em foco essa “multinaciomal” fez tantas “barbeiragens” que acabou reabilitando um tipo de negócio que parecia obsoleto.

VIAGEM AO PASSADO

O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca... Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência In...