quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A VITÓRIA DA OPORTUNIDADE

Realizar uma Olimpíada em cidades do primeiro mundo, dotadas das infraestruturas adequadas de transporte público e hospitalidade, capazes de atender a uma grande demanda, é bem mais simples do que se colocava como desafio ao nosso Rio de Janeiro. O desafio, porém, gerou uma grande oportunidade, aproveitada de modo adequado em vários aspectos. Tomando Londres  como exemplo, estávamos diante de uma cidade rica  onde o metrô tem mais de 100 anos e uma enorme abrangência, além da perfeita integração com a malha ferroviária do país. No Rio, por outro lado, colocava-se logo de início a dificuldade estrutural da falta de  transportes públicos e do déficit  de leitos. Foi preciso construir essa malha viária e expandir a rede hoteleira.

Quando os três grandes eixos  de BRT e a linha 4 do Metrô estiverem operando a plena capacidade, após a Paralimpíada, nossa Cidade do Rio de Janeiro será outra, mais valorizada e sustentável. Transoeste, Transcarioca, Transolímpica e o Metrô ampliado pela Linha  4 permitirão uma maior integração de todo território carioca. Uma revitalização sem precedentes e uma melhoria decisiva da qualidade de vida da população.   



Agora, é pensar em melhorias e novas alternativas, exercer a criatividade, aprender com exemplos bem sucedidos de outras cidades.
De início, deve-se  complementar a integração do transporte de massa com meios mais sustentáveis e ao mesmo tempo valorizar duas joias da natureza carioca – as lagoas da Barra da Tijuca e a Rodrigo de Freitas -, o que é totalmente viável. Os passos são óbvios: dragar, eliminar o despejo de esgotos, baixar a poluição a quase zero e implantar linhas de navegação que tragam a população  em trânsito para as estações da Linha 4 do Metrô às suas margens, a saber, Jardim Oceânico (no caso da Barra), Jardim de Alá e General Osório (saída na Lagoa) em Ipanema. Principalmente no caso da Zona Oeste, há uma grande população não atendida pelo transporte de massa que poderia beneficiar-se da via aquática. A operacionalização não terá óbices: em troca das respectivas concessões, surgiriam muitas empresas candidatas a uma parceria público-privada sem ônus para o erário. Pois essas linhas, além de servirem à integração mencionada, atrairão os turistas interessados em conhecer parte fascinante de nossa cidade de um ângulo diferente.
Outro tipo de integração, igualmente sustentável, pode ser feita pela bicicleta e eventuais sucedâneos (triciclos e similares), que complementariam o acesso de proximidade das populações residentes a certas estações de metrô e BRT. Ciclovias e  bicicletários  com segurança precisam ser providenciados para servir a esse fim.
Com o sucesso das Olimpíadas, o futuro do Rio de Janeiro como destino turístico de primeira grandeza está assegurado, garantindo a ocupação adequada e a economicidade dos novos hotéis construídos.
Há providências mais trabalhosas a tomar, certamente: construir algumas alças em estações viárias de integração, adquirir maior número de veículos para metrô e BRT, intensificar a captação de eventos internacionais e a propaganda do Rio no exterior etc  Mas nada que seja tão difícil quanto o que foi realizado para viabilizar o sucesso das Olimpíadas. Mãos à obra, pois!

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

ENTENDER O BRASIL É COISA PARA PROFISSIONAIS

Ao final, as Olimpíadas do Rio de Janeiro acabaram aprovadas universalmente,   depois de muito preconceito e inúmeras desconfianças – algumas fundadas e  outras inventadas.
a)      Quando dirigi o Centro Nacional de Recursos Humanos (CNRH) do IPEA,  o setor de Assistência Técnica Internacional estava sob minha responsabilidade - pois a vinda de peritos estrangeiros é uma forma de incorporação de talentos  à força de trabalho do país receptor. O IPEA tinha uma grande experiência própria, pelo fato de receber desde sua fundação um grande número de especialistas do exterior para colaborar em  nossos trabalhos de pesquisa e planejamento econômico.  O Brasil lucrou muito com o "know how" desses profissionais altamente qualificados, mas havia exceções. Em face da realidade observada - não só no Brasil mas também em outros países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento – corria entre nós uma série infinita de estórias  jocosas  exagerando as trapalhadas daquele tipo de especialista que chega a um país que não conhece e logo dá receitas “infalíveis” para a solução de problemas seculares. A mais famosa delas  dava conta de um “expert”  enviado para missão na Argentina e que ainda no aeroporto enviara um minucioso “report” sobre suas observações iniciais, já com inúmeras sugestões operacionais. Ao buscar sua bagagem descobriu que desembarcara no Uruguai...
b)      Outra experiência interessante de minha juventude permitiu-me conhecer a redação de um dos maiores jornais brasileiros – CORREIO DA MANHÃ – onde, Indicado pelo brilhante Janos Lengyel, escrevi durante 5 anos uma coluna dominical sobre voleibol, esporte no qual ainda era um atleta atuante e de ponta.  Alguns “coleguinhas” contavam fatos curiosos da cultura profissional vigente. Exemplo: sempre que faltava assunto para a matéria obrigatória do dia seguinte, o jornalista recorria ao seu fichário mental, escolhia um inimigo de estimação e fazia um libelo contra o desafeto – que podia ser uma pessoa ou uma instituição.

A combinação de (a) e (b) explica a maior parte das matérias dos jornais estrangeiros que asseguravam que as Olimpíadas do Rio seriam calamitosas. Tom Jobim me disse certa vez que “entender o Brasil era coisa para profissionais”. Tinha inteira razão.

VIAGEM AO PASSADO

O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca... Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência In...