Vi pelas televisões a indignação da imprensa contra a
prática comercial de um cursinho pré-vestibular de Montes Claros. Esse tipo de estabelecimento
de ensino, que prepara os estudantes para exames de ingresso na Universidade, é
uma resposta clássica do mercado às disfuncionalidades centenárias da educação básica brasileira.
Não existiria se os alunos estivessem realmente prontos ao concluir com êxito (formal)
o ensino médio. O cursinho mineiro tem salas em que sentam 100, 200 e até 300
alunos simultaneamente. Geralmente, os professores que dão essas aulas para
verdadeiras multidões, dominam os conteúdos curriculares e são quase- artistas,
com grande capacidade para motivar e prender a atenção dos estudantes,
utilizando-se de truques e meios audiovisuais diversos. Ainda assim, por motivos variados, o
posicionamento favorável dos estudantes na sala tem importância estratégica.
Nasceu, por esse motivo, a natural ideia da direção do cursinho de cobrar um adicional de quatrocentos reais anuais daqueles alunos que quisessem gozar do
privilégio de uma cadeira cativa nas primeiras filas. São as tais “cadeiras VIP”, brancas, mencionadas
e mostradas nas reportagens indignadas da mídia.
Imediatamente o PROCON e o Ministério Público intervieram e
a prática foi descontinuada. Sanções ao
cursinho estão em andamento... Folgo em saber que a prestação de serviços
educacionais entrou na pauta dos órgãos de defesa do consumidor e estimo que
daqui em diante sejam ampliadas as ações desse tipo, como já aconselhei em blog
anterior. O controle de qualidade da educação, alvo de minhas preocupações mais
recentes, só será efetivo quando assumir a relevância que já tem a vigilância
exercida, pelo consumidor em geral, em relação aos demais produtos e serviços, tornando-se
uma prática rotineira da nossa população.
Apesar de “a compra da cadeira VIP” ser facultativa, agiram
bem as autoridades competentes (sic) ao
proibi-la, pois a meta do poder público para a educação deve ser a busca,
simultaneamente, de qualidade e equidade, pois é exatamente isso que mais falta
no Brasil.
PROCON e Ministério Público deveriam agora, por uma questão igualmente
de justiça e equidade, levar a endereços mais nobres o mesmo tipo de intimação
a que submeteram o modesto cursinho de Montes Claros. Sugestões?
1)
Visitar Prefeituras e Palácios de Governos
Estaduais: ainda agora, ao final de março de 2014, há mais de um milhão de
estudantes da escola pública brasileira ainda sem aulas, por motivos os mais
variados: greves diversas, déficits crônicos de professores, absenteísmo
exagerado dos quadros docentes, licenças médicas fajutas para mestres
preguiçosos, falta de transporte escolar ou de uniformes para os alunos do
ENCINO (assim estava escrito nas camisas compradas pelo governo) público e
assim por diante. Reflexo da péssima atenção que o Brasil dá a sua educação e
da gestão irresponsável das autoridades competentes (rsrsrs). Falta de
planejamento, incapacidade de prever o previsível, cumplicidade com auxiliares
desidiosos, interesses eleitoreiros espúrios, enfim uma constelação de
equívocos. Por tudo isso, intimá-los...
2)
Acampar na Esplanada dos Ministérios, em frente
ao MEC e ao MTE, desviando parte dos fiscais para o Palácio do Planalto:
a) no momento atual, o governo faz um
grande e louvável esforço para ministrar educação profissional inicial e
continuada a milhões de trabalhadores pelo PRONATEC, em virtude de o Ministério
do Trabalho ter sumido com as verbas do FAT que nos últimos 12 anos deveriam ter treinado nossos jovens,
provocando assim um “apagão de mão de obra sem precedentes”. A produtividade de
nossa indústria caiu; nossos serviços estão caríssimos, em função dos
desperdícios causados por trabalhadores desqualificados; a mão de obra rural, cada vez mais problemática,
está sendo substituída massivamente por máquinas. O grande problema é que os
candidatos que chegam ao PRONATEC não são treináveis de imediato! Motivos: não
sabem ler e entender uma folha de instruções; não sabem fazer cálculos simples
de soma e subtração e assim por diante. Causa, uma só: receberam uma educação básica
de péssima qualidade.
b) o Brasil tenta distribuir mais de 100 mil bolsas de estudo gratuitas no
exterior para as Universidades, mas acaba de descobrir que não há candidatos em
número suficiente! Motivo: falta de proficiência no domínio de uma segunda
língua. Causa, a mesma: receberam uma educação de péssima qualidade.
UM APELO:
Autoridades competentes do PROCON e do
Ministério Público, por favor: intimem nossa Presidente e seus Ministros, pois
eles também cobram dos contribuintes brasileiros pelas “cadeiras VIP da
educação”. Se você, caro leitor, quer dar uma educação decente a seus filhos, além do que já sangra pelos impostos escorchantes dos governos, pague por uma cadeira branca em um bom colégio particular, desses que estão
sempre nos primeiros lugares do ENEM. Caso contrário, seus filhos vão sentar lá
atrás, como a maioria do nosso povo, milhões de brasileiros que vão ficar pelo resto
da vida no fundo da sala, sem ver, sem ouvir, sem entender.