sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

PROGRAMAS DE UM MINISTÉRIO FRONTEIRIÇO


Fico muito preocupado com o anúncio de que o Brasil vai aplicar 10% do PIB em educação. Nos últimos anos, o Ministério da Educação (MEC) elevou substancialmente suas despesas, mas muitos desses recursos foram e são desperdiçados, pois em termos de gestão o órgão parece prisioneiro de um determinismo fatal, que o persegue há mais de dez anos: lá nada dá certo, a qualidade de nossa educação continua péssima e o motivo primordial é a falta de planejamento, agravada pela orientação ideológica da instituição. A esquerda parece estar mais preocupada em se perpetuar no poder através da doutrinação da juventude do que desejosa de construir uma nação justa, digna e ética.
Mesmo as boas ideias naufragam calamitosamente no MEC. Um exemplo é o programa “Cientistas sem Fronteiras”, resultante de trabalho conjunto dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do MEC, no qual se prevê a utilização de até 101 mil bolsas em quatro anos para que nossos alunos universitários de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior, em sistemas educacionais mais avançados em termos de tecnologia e inovação. (Capturado a 17/11/2014, do sítio http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/o-programa). Na campanha eleitoral falou-se que se tratava de um programa de R$ 3 bilhões.
Essa iniciativa, meritória, esbarrou logo de início numa triste realidade: o MEC não conseguiu reunir o número necessário de estudantes capacitados para usufruir das bolsas disponíveis. Afrouxando a seleção dos candidatos, para cumprir suas metas quantitativas, o MEC errou, enviando ao exterior candidatos sem a necessária qualificação. Resultado: muitos dos bolsistas voltaram ao Brasil sem cumprir seus objetivos, pela incapacidade de seguirem as aulas. Dinheiro público jogado fora, muita frustração e um atestado de incompetência. A razão primeira de todo o episódio é de entristecer: a falta de domínio de uma língua estrangeira pelos candidatos. Fruto de uma educação básica de péssima qualidade, não conseguimos 101 mil universitários bilíngues! E note-se que o país  registrou no ensino superior de graduação, em 2013, 6.152.405 estudantes matriculados em cursos presenciais e 1.153.572 em educação a distância, totalizando mais de 7,3 milhões alunos. Os concluintes chegaram quase a 1 milhão!
O MEC fingiu ignorar – ou ignorava mesmo -  essa realidade monoglota e deu com os burros n´água literalmente. Agora reage, tardiamente, lançando um programa complementar, denominado “Idiomas sem Fronteiras”. Programa emergencial, que deveria ter precedido o “Cientistas sem Fronteiras”. Embora a solução real, sem dúvida, seja melhorar a qualidade de nosso ensino básico, pois nessa deficiência repousa o maior dos males de nossa educação. O problema, porém, é que o MEC ignora o planejamento e limita-se a “correr atrás do prejuízo”.
Um exemplo:
O Brasil terminou outubro de 2014 com 279 milhões de telefones móveis em plena utilização. Um fenômeno típico do consumo de massa associado à tecnologia moderna e que explodiu em nosso país graças à privatização do setor.  O celular já mudou para melhor a vida de milhões de pessoas, no trabalho, no lar, nas relações sociais, mas pode fazer ainda mais.
No caso do jovem brasileiro médio o uso do telefone móvel é um aspecto central, da maior importância em todas as suas ações cotidianas. Em muitas das nossas escolas, porém, o celular é tratado por professores e diretores como um inimigo da disciplina e do rendimento dos alunos. Talvez, muito ao contrário, se devesse aproveitar a sedução dessa mídia espetacular em favor da educação. Como elemento de motivação, como novidade pedagógica, como agregador para o trabalho em equipe.

O MEC, caso tivesse visão prospectiva, providenciaria de imediato um grande concurso nacional visando inventariar os diversos usos possíveis do telefone móvel para dinamizar a educação no Brasil. A seguir, partiria para incentivar a iniciativa privada à realização dos vários programas, jogos e aplicativos cabíveis com os conteúdos pedagógicos próprios do ensino básico. Em vez de um elemento de disputa, o celular seria certamente um auxiliar poderosíssimo na educação de nossas crianças e adolescentes. Quem sabe se a nova administração do MEC não o desperta do torpor que o caracterizou nos últimos anos?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

DESEMPREGO: UM CONCEITO TÉCNICO


Políticos com más intenções, visando seus objetivos de poder, sempre iludiram os trabalhadores brasileiros de boa fé. Como os conceitos técnicos referentes às estatísticas de emprego são de difícil entendimento, inclusive para as pessoas de elevado nível cultural, esse tema sempre foi  um dos mais explorados por esses mestres do charlatanismo.
Durante a última campanha eleitoral um Deputado da Oposição, guiado pelo bom senso, protestou: “como é que o Governo Federal diz que o desemprego é reduzido em nosso país se ao mesmo tempo afirma que 54 milhões de brasileiros são beneficiados com o programa Bolsa Família? Quem recebe Bolsa Família não está trabalhando!” A dúvida é cabível, mas a questão é mais complicada do que parece.
Tecnicamente, o desemprego tem uma definição, aceita internacionalmente, que é muito restritiva na caracterização de quem está desempregado. Para ser considerado desocupado o indivíduo deve preencher simultaneamente algumas condições: (a) deve ter idade para trabalhar, (b) fazer parte da população economicamente ativa e (c) estar procurando uma ocupação em um determinado período de referência considerado no levantamento estatístico.  Note-se que os requisitos (b) e (c) são atos de volição do indivíduo, o qual só faz parte da população economicamente ativa e só procura emprego se assim o desejar. Caso não o queira, nem por isso será considerado desocupado do ponto de vista da boa técnica estatística. Fará parte de um grupo populacional específico descrito como Fora da Força de Trabalho. Assim, mesmo os beneficiários adultos do programa Bolsa Família que não trabalham, se não estiverem buscando emprego, não são considerados desocupados.
Para talvez ilustrar melhor a questão, pode-se segmentar a população brasileira sob a ótica do trabalho, mostrando como a situação se apresentava no 1º. Trimestre de 2014,  segundo os dados levantados pela PNAD Contínua do IBGE, que atualmente é o levantamento estatístico que melhor retrata a realidade do emprego no Brasil.
Sob o ponto de vista do trabalho, a População Total (PT) do país é dividida de início em dois grandes grupos, por faixas etárias, considerando-se que só a partir da idade de corte (14 anos segundo convencionado pelo IBGE) é que as pessoas estão aptas a  trabalhar.
A População Total (PT) do Brasil, naquele momento, 1º. Trimestre de 2014, era de 202 milhões de habitantes. A População com 14 e mais anos de idade, formava a chamada População em Idade de Trabalhar (PIA)  que era então de 173 milhões de habitantes (86% da PT). A População restante, com menos de 14 anos,  era então de 29 milhões (14% da PT), não sendo levada em conta nas estatísticas de trabalho.
Uma parte expressiva da PIA está fora do mercado de trabalho, parcela esta que alguns chamam de População Inativa, outros de População Não Economicamente Ativa (PNEA) e o IBGE denominou de População fora da Força de Trabalho na PNAD Contínua. Esse grupo reunia 75 milhões de pessoas, representando 43% da PIA e 37% (mais de um terço!) da População Total do país.
A População Economicamente (PEA) ou População na Força de Trabalho, à época somando 98 milhões de trabalhadores, constituía o universo que é considerado para se medir a desocupação. A PEA  se divide em dois grupos. No período  enfocado, o grupo que estava trabalhando, isto é, a População Ocupada (PO) era  de 91 milhões e a População Desocupada (PD) e à busca de emprego, era de  7 milhões de trabalhadores. A taxa de desocupação, pela definição técnica do IBGE, era então de 7,1%  (7 milhões desocupados no total de 98 milhões de trabalhadores na força de trabalho).
Esse número, desfavorável, foi omitido pela mídia e em nenhum momento utilizado pelos oposicionistas, que aparentemente não o conheciam. Os governistas, espertamente, usaram e abusaram da menção às taxas de desocupação mensalmente levantadas pelo mesmo IBGE em apenas seis regiões metropolitanas do país (de SP, RJ, BH, PA, RE e Salvador). São taxas de desemprego consideravelmente mais baixas que no restante do país.  Longe de representar a nova realidade brasileira, com interiorização crescente e agronegócio próspero, esse levantamento, denominado Pesquisa Mensal de Emprego (PME) está obsoleto e deverá desaparecer.
Esse tipo de desperdício – fazer levantamentos e pesquisas de emprego perfeitamente inúteis – é comum no Brasil. Há um exemplo histórico interessantíssimo e irônico, do qual fui testemunha. Nos governos militares houve um grande crescimento econômico, muitas obras de infraestrutura e de habitação, de modo que o desemprego permaneceu muito baixo durante anos seguidos. Claro que os oposicionistas detestavam essas conquistas da política econômica nos anos 60 e 70. O que fizeram os intelectuais de esquerda? Tiveram uma ideia brilhante, gerada no CEBRAP, órgão financiado pela Fundação norte-americana FORD. Criaram uma espécie de COMISSÃO DA VERDADE DO EMPREGO! MUDARAM A DEFINIÇÃO DE DESEMPREGO!
A partir daí, os meios acadêmicos e sindicais, dóceis às ordens da esquerda, passaram a calcular uma taxa de desemprego que embora fosse fajuta era mais alta que a real e portanto servia a seus desígnios políticos. No CEBRAP pontificava Fernando Henrique Cardoso, ao lado de outros menos votados.

Mas a verdade é implacável! FHC e sua turma assumiram o Governo e como se sabe seu desempenho no campo do emprego foi  um tremendo fracasso (fato que o PT explorou muito bem na última campanha presidencial). O desemprego aumentou muito, o Brasil perdeu milhões de postos de trabalho e a informalidade cresceu enormemente. Fruto da falta de planejamento. E FHC ainda teve um ônus adicional. Naquelas alturas já eram feitos levantamentos de desemprego por entidades esquerdistas com a metodologia fajuta que o CEBRAP inventara para desmerecer o regime militar: os números do desemprego durante o Governo de FHC eram sempre de 15% para cima, chegando a 20% ou coisa semelhante. Era uma ironia que aqueles números irreais fossem atingir em cheio os mentirosos de outrora - que não podiam protestar!

terça-feira, 11 de novembro de 2014

TIRANDO A FAMÍLIA DO BOLSA? OU TIRANDO A BOLSA DA FAMÍLIA?


Está em pauta! Na Esplanada dos Ministérios, principalmente nos gabinetes que arruinaram a economia brasileira nos últimos anos, já se fala em algo impensável até recentemente: reduzir fortemente as despesas com o programa Bolsa Família (BF)!  Dependendo de como venha a concretizar-se, essa decisão é preocupante, pois um país potencialmente rico como o Brasil não pode negar socorro emergencial aos seus pobres e miseráveis.
“O Bolsa Família (BF) é um programa federal de transferência direta de renda que beneficia famílias extremamente pobres (com renda mensal de até R$ 70 por pessoa) ou pobres (com renda mensal entre R$ 70 e R$ 140 por pessoa). O valor depositado depende do tamanho da família, da idade dos seus membros e da sua renda. Há benefícios específicos para famílias com crianças, jovens, gestantes e nutrizes. A família assume alguns compromissos ao entrar no BF: as crianças devem ser vacinadas e ter acompanhamento nutricional; as gestantes precisam fazer o pré-natal; e as crianças e jovens devem frequentar a escola.” (Site do MDS, Capturado em 10/11/2014). O BF surgiu da unificação dos programas Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás, criados em 2001/2002, no Governo FHC, com base no Cadastro Único das famílias carentes do país.
O sucesso desse tipo de programa social, em seu começo, costuma – e até pode - ser medido pelo número de famílias cadastradas, identificadas como pobres ou miseráveis e incluídas na transferência de renda, já que essa prospecção é difícil.  Mas após sua consolidação – e o BF já tem 13 anos! – o sucesso desse tipo de programa deve ser medido pelo número de famílias que adquirem a capacidade de gerar rendas próprias, se tornam autônomas e deixam de receber a transferência de renda do Governo. No início, a prioridade é a entrada no programa; após 5 ou 6 anos de funcionamento, o objetivo passa a ser a saída do programa.
Aquelas “condicionalidades” (os compromissos da família) sempre foram insuficientes para garantir o sucesso do programa e há muito tempo deveriam ser ampliadas. Trata-se, porém, de um vício de origem. O programa nasceu errado, com aquela visão esquerdista típica que enxerga na pessoa carente um ser frágil, incapaz de crescer e se tornar autônomo. A esquerda se nutre da manutenção da pobreza... Vai daí...
O programa deveria ter usado metodologias de operacionalização totalmente diferentes das utilizadas nos Governos de FHC e Lula. A transferência de renda deveria ser encarada, desde sua implantação, como uma ação inclusiva no âmbito de uma filosofia mais ampla de desenvolvimento comunitário. Seria um grande movimento de solidariedade nacional, indispensável em um país de fortes desigualdades como o Brasil, cujos cidadãos chegavam a um pacto social em favor dos mais carentes. Os beneficiários receberiam o auxílio e em contrapartida prestariam serviços às suas comunidades. Em última essência, a si próprios! Auxiliar na preparação da merenda ou limpeza da escola dos filhos; plantar árvores nas encostas, margens de rios, ruas das vizinhanças; cultivar hortas comunitárias nos terrenos baldios... Há uma infinidade de possibilidades. Nesses serviços, devidamente assistidos e apoiados por agentes de desenvolvimento comunitário, os beneficiários do BF receberiam orientações gerais e qualificação profissional específica para desenvolver as tarefas que lhes coubessem – nunca impostas mas sim escolhidas voluntariamente, em reuniões da comunidade. Desse modo, apareceriam na posição muito digna de ganhar por serviços por eles prestados ao bem comum. Não estariam recebendo uma esmola do Governo, em cujos candidatos devem votar para garantir a continuidade do benefício. Pois é assim que os contribuintes interpretam o programa. Por outro lado, treinados nesse processo, os participantes do BF seriam preparados para obter uma ocupação que futuramente os liberaria do assistencialismo governamental.
Quando fui Subsecretário Adjunto da Secretaria de Trabalho e Renda do Estado do Rio de Janeiro, tive logo de início uma reunião com representantes da Secretaria Estadual de Assistência Social, a qual era encarregada da versão fluminense original do atual Bolsa Família. Discorri sobre essa ideia - de que o programa fosse desenvolvido como parte de uma ação mais ampla de desenvolvimento comunitário. Eu discorri e eles “correram”... Literalmente. Nunca mais tive o prazer de me reunir com aquela turma, que desapareceu como que por encanto. Pois é muito mais cômodo distribuir dinheiro, cheques ou cartões de débito – e ganhar votos - do que fazer um trabalho comunitário, que muitas vezes é penoso e até vai conscientizar o povo, expor as fragilidades dos serviços públicos prestados pelas diferentes esferas administrativas governamentais, seja por omissão, duplicidade ou falta de coordenação.
A propósito, deve-se reconhecer os progressos do BF nos três últimos anos, implementando ações e programas complementares que objetivam o desenvolvimento humano das famílias  beneficiárias, de modo que consigam superar sua situação de vulnerabilidade. O esforço ainda é tímido mas o caminho é correto e promissor.
De qualquer forma, no momento, a questão é outra, muito séria e preocupante: a dificuldade de continuar pagando o benefício, nos níveis atuais, pois o Governo Federal gasta mais do que arrecada e marcha a passos largos para a irresponsabilidade fiscal, apavorando os investidores nacionais e estrangeiros. Ultimamente só dá notícia ruim: déficit de 20 bilhões em setembro; inflação em alta; saldo negativo na balança comercial, apesar de o agronegócio estar vendendo horrores para a Rússia, Arábia Saudita e outros compradores novos (carne de frango e suína); arrecadação e produção em queda acelerada na indústria, pouco competitiva; aumento dos juros, da gasolina e da energia elétrica e assim por diante...
Como consequência, serão reduzidos drasticamente, de início, alguns benefícios previdenciários e certamente o Abono Salarial e o Seguro-Desemprego, que o Governo Lula elevou desmesuradamente a partir de 2003. Esses aumentos despropositados, demagógicos, foram feitos exaurindo os recursos do FAT, desviando-os do Programa de Qualificação do FAT (Ministério do Trabalho), causando o gravíssimo “apagão de mão de obra” que já dura anos  e agora o Governo tenta compensar com o PRONATEC, no qual está colocando verbas vultosas, sem os controles adequados.
É claro que a redução do  Bolsa Família (BF) não será anunciada/confessada pelo Governo. Seguirá uma estratégia gradual, disfarçada, que paradoxalmente até pode colocar o programa no trilho certo. Assessorando o Governo Federal, sugerir-se-ia os seguintes passos:
·         O Governo Federal sabe que há muita fraude no programa: várias famílias estão recebendo há tempos a BF sem atenderem aos critérios estabelecidos de renda e/ou às denominadas “condicionalidades”. Há de tudo: intrigantes afirmam que até gatos, e funcionários públicos recebem o BF! Mas antes das eleições a ordem era “pegar leve”, pois o programa era o grande trunfo no pleito presidencial. Passado o susto da derrota, chegada a hora de pagar a conta, inicia-se o “virtuoso” combate à fraude, que constitui a primeira fase da operacionalização do plano de redução do BF e que já está em pleno andamento. No momento, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) faz a chamada Revisão Cadastral e espera por informações sobre 580 mil famílias que ainda precisam ser atualizadas pelas prefeituras até meados de dezembro. Está lá no site do MDS, textualmente: “A Revisão Cadastral garante que as informações declaradas pelas famílias no Cadastro Único estejam atualizadas. Com dados de maior qualidade, é possível avaliar se o beneficiário do Bolsa Família ainda atende às condições necessárias para continuar a fazer parte do programa. E, dependendo das mudanças na situação da família - como, por exemplo, alteração de renda, mortes ou nascimentos -, ela pode ter direito a um valor diferente daquele que recebia antes de atualizar o cadastro.” Esse recadastramento será agora acelerado, de modo a remover do BF o maior número possível de beneficiários que não atendem às exigências, para assim reduzir sua despesa mensal. Uma boa ideia, combatendo a corrupção miúda: em outubro de 2014, 13.982.036 familias participantes do BF receberam R$ 2.372.284.427,00 dos cofres federais.
·         O Governo sabe que muitos trabalhadores recusam-se a ter suas carteiras  de trabalho registradas (“assinadas”), permanecendo na informalidade para omitir sua renda real, a qual, declarada,  os faria perder o benefício da BF: atacando nessa frente, o Governo intensificará a fiscalização de todos aqueles que não assinam as carteiras de trabalho de seus empregados. Essa fiscalização atingirá micro e pequenas empresas mas será sobretudo severa em relação às famílias que contratam empregadas domésticas, pois esta classe profissional concentra numerosos beneficiários irregulares do programa BF. A regulamentação da PEC das domésticas – que foi um dos muitos “golpes de mestre” que o PT deu, visando aniquilar a classe média - será o pretexto para deflagrar esse tipo de ação coercitiva. Portanto, dona de casa, cuidado! Os fiscais, comissários do povo, baterão à sua porta, como nos bons tempos do comunismo, antes da Queda do Muro. E as punições serão exemplares.
·         O Governo intensificará a partir de agora a qualificação profissional dos jovens e adultos beneficiários do BF e sua colocação no mercado de trabalho. Essa medida, denominada de “inclusão produtiva”, deveria ter sido implementada desde a primeira hora do programa BF, ainda no Governo FHC. Com essa boa prática, muitas famílias elevariam sua renda, graças aos salários recebidos, conquistando autonomia financeira e deixando o programa. O caminho já está sendo trilhado. O MDS transfere recursos aos municípios, para ajudar a inserir os usuários da assistência social no mundo do trabalho, seja por meio do emprego formal (com “carteira assinada”), do empreendedorismo individual (trabalho “por conta própria”) ou de empreendimentos de economia solidária (como as cooperativas).

Enfim, talvez a escassez de recursos venha a aprimorar um programa que os políticos utilizaram mais como um instrumento eleitoral do que uma ferramenta de equidade e ascensão social.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

DA EDUCAÇÃO AO TRABALHO

Em 29/10/2014, convidado pela filial de  Buenos Aires do Instituto Internacional de Planejamento da Educação (IIPE) da UNESCO, participei como ouvinte do debate ao vivo na internet, organizado pela RedEtis, sobre o tema “Transição da Escola para o Trabalho” ("Los puentes entre la escuela y el trabajo: variaciones en clave latinoamericana”). Infelizmente, entre os debatedores não havia um brasileiro e nossa realidade ficou de fora.
Essa questão sempre foi relevante, mas atualmente está na ordem do dia, especialmente em função de um fenômeno que aflige a maioria dos países, incluindo o Brasil: as elevadas taxas de desemprego que atingem as camadas mais jovens da população. Trata-se, em sua maioria, daqueles recentemente diplomados ou evadidos, embora haja também o caso dos que saíram da escola há mais tempo e ainda não conseguiram uma ocupação.  Estes últimos, aliás, têm maior probabilidade de engrossar a multidão dos jovens que não estudam nem trabalham, correndo elevado risco de desalento, de desvios de conduta e sofrendo uma constelação de outros problemas que as sociedades gostariam de evitar.
As deficiências de articulação e passagem entre os sistemas de educação e o mercado de trabalho não são novas e existem desde sempre, embora teoricamente quase todos os países já disponham do tipo de mecanismos adequados para resolver o problema, os quais todavia não funcionam corretamente ou são insuficientes para atender à demanda potencial existente. Em geral, o maior obstáculo a vencer é a falta de coordenação entre as instituições públicas envolvidas, as quais pertencem a Ministérios e Secretarias distintas: Educação e Trabalho.
No caso do ensino superior, a situação é amenizada tanto pela existência de organizações que fazem a integração entre as empresas e as universidades, quanto pelo grande número de oportunidades oferecidas nos programas empresariais de “trainees” e ainda pelas iniciativas das próprias representações acadêmicas dos estudantes, pela multiplicação das incubadoras que fomentam o empreendedorismo dos jovens e até pelo fato de que a opção individual por uma certa carreira -  já feita anteriormente  - cria um foco, um objetivo mais claro a perseguir.
O problema da transição penosa prejudica principalmente os alunos da educação básica, que concluem os estudos do ensino fundamental ou do ensino médio, sendo ainda mais grave para os que se evadem do sistema no decorrer de um desses cursos. Até hoje, no Brasil, os jovens que deixam os estudos e almejam de imediato uma ocupação são, em sua maioria esmagadora, tomados pela perplexidade ante a enorme gama de possibilidades – e dúvidas – quanto ao seu futuro. Qual a carreira profissional a seguir? Qual o caminho para chegar lá? Quais os requisitos? Há necessidade de um curso adicional de qualificação profissional ou de Línguas? Informática? Onde?
Infelizmente, a escola - na qual os estudantes estiveram durante um ou mais anos letivos - geralmente não lhes  dá qualquer orientação, o que seria mais lógico já que essa instituição, pela convivência, deve bem conhecer suas aptidões e competências. Há exceções, é claro, mas são poucos os estabelecimentos de ensino que mesmo ao fim do curso médio e principalmente na conclusão do ensino fundamental, colocam serviços de orientação e encaminhamento profissional à disposição de seus alunos.  Com os estudantes que se evadem ao longo de sua trajetória discente, aliás necessitados de maior assistência, ocorre o mesmo: a omissão e indiferença da escola quanto ao seu futuro profissional.
Há 60 anos fiz o curso científico (atual ensino médio) no Colégio Mello e Souza e lá fui testado e  recebi aconselhamento ocupacional do ISOP (Instituto de Seleção e Orientação Profissional), dirigido pelo pioneiro Professor Mira y López. Deu Engenharia “na cabeça” e lá fui eu para o Largo de São Francisco, confiante no futuro. Há 60 anos... privilégio de uma parcela ínfima da população que frequentava escolas particulares de qualidade.
Note-se que naqueles tempos as coisas eram bem mais simples, inclusive porque havia um número reduzido de opções profissionais – principalmente no ensino superior. Com o tempo, porém, a economia diversificou-se, tornou-se muito mais complexa e o número de ocupações não parou de multiplicar-se.  Na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) de 1994 elas eram 2.356, mas na grande revisão mais recente, na CBO 2002, as ocupações aumentaram para 2.422 e a cada ano são feitos acréscimos relevantes.
As soluções racionais e adequadas para inclusão profissional – especialmente para a primeira ocupação - ainda inexistem para muitos brasileiros. Embora tenhamos progredido gradualmente, falta um longo caminho a percorrer. As medidas a adotar, para facilitar essa passagem tranquila do estudo para o trabalho, são teoricamente viáveis, pois já se dispõe no Brasil das estruturas públicas básicas que permitiriam sua operacionalização e universalização.
O encaminhamento da solução sugeriria:

·         Dinamização, no Brasil, da educação continuada em todos os níveis, accessível e universalizada, de modo a possibilitar a elevação do perfil de educação geral da população e sua qualificação profissional crescente e diversificada. A educação permanente, adequadamente estruturada, facilita a volta do trabalhador ao ensino geral ou profissionalizante, à busca de crescimento, em qualquer momento de sua vida ativa, assim como, no sentido inverso, possibilita o reingresso do estudante/treinando no mercado de trabalho, em situação mais favorável. Essa permeabilidade favorece a ascensão pessoal contínua, baseada no mérito, trazendo ganhos econômicos e sociais para os setores produtivos e a sociedade como um todo.

·         A operacionalização da educação continuada depende da íntima articulação entre o sistema educativo e o sistema nacional de emprego (SINE), mantido em convênios dos Estados e Municípios de maior porte (mais de 200 mil habitantes) com o Ministério do Trabalho. A rede do SINE era composta de cerca de 1.600 unidades já em 2012, cobrindo as áreas mais populosas do país. As escolas básicas deveriam incorporar, nas atividades de seus alunos das séries terminais, o contato com a cultura do trabalho, para isso estabelecendo vínculos estreitos com associações de classe e principalmente com as agências públicas de emprego de suas vizinhanças. Estas, por seu turno, além de manter ativa sua função básica de intermediação de mão de obra, ou seja, colocação de candidatos no mercado de trabalho,   intensificariam suas capacidades de aconselhamento e orientação profissional, de modo a atender os estudantes dos estabelecimentos educacionais de sua área de influência. O encaminhamento de graduandos às agências de emprego, em busca de colocação no mercado de trabalho ou de alocação à educação profissional, deve tornar-se uma atividade de rotina das escolas.
Casos Especiais:
·         Jovens estudantes das famílias participantes do Programa Bolsa Família deveriam receber especial atenção da escola, na transição do estudo para o trabalho, uma vez que geralmente não dispõem, no lar, do suporte para buscar um encaminhamento adequado. Além disso, como o responsável pelo núcleo familiar, em sua maioria, não pertence à população economicamente ativa, esse jovem necessita de um maior contato com a cultura do trabalho e precisa como ninguém obter uma ocupação, inclusive para adquirir autonomia e tirar sua família da dependência ao programa de transferência de renda. Caso a geração seguinte repita a condição de dependência dos pais ao programa BF, o Brasil corre o risco de ver diminuir  o número de pobres (pois recebem o BF) mas aumentar o de miseráveis (jovens que não trabalham e constituem novas famílias). Um resultado oposto ao que se deseja.
·         Programas de integração entre escola e empresa, entre estudo e trabalho/treinamento, como é o caso do Menor Aprendiz, do Pro-Jovem e outros similares, obviamente facilitam a transição pretendida.
·         Com a legislação que prevê percentuais mínimos de trabalhadores deficientes em empresas de maior porte, criou-se uma demanda, ainda não atendida, de pessoal qualificado  com essas características especiais. Empresários afirmam não ter como atender à lei por falta de trabalhadores deficientes com as competências e habilitações necessárias. Estudantes nessa condição especial devem receber prioridade de suas escolas no encaminhamento às agências públicas de emprego.

No evento de que participei, debatedores e demais participantes eram principalmente educadores, certamente escolhidos por seu prestígio e mérito profissional. Fiquei chocado ao constatar que afora as exceções de praxe, os educadores autolimitam suas áreas de interesse, isolam-se em seu universo particular, muito sedutor e absorvente, entregando-se a ele de corpo e alma. Essa devoção admirável, porém, pode padecer de um vício de origem: a aversão à multidisciplinaridade. É difícil gostar daquilo que se desconhece. Esse isolacionismo dos educadores merece uma crítica clara e eloquente, pois está na raiz de muitos dos problemas que a educação enfrenta mundo afora. Não há autossuficiência na pedagogia, assim como não a há em qualquer campo do conhecimento humano, uma vez que o mundo real é muito complexo. Problemas e principalmente suas soluções são sempre multifacetadas, exigem enfoque multidisciplinar e contributos de natureza diversa. Muitos educadores acham que a educação deve ser seu monopólio e não admitem interferências de outros profissionais. Essa minha observação vem a propósito do fato de ter constatado no debate – abrangendo centenas de ouvintes – que a maioria esmagadora dos participantes parecia ignorar que todos os países latino-americanos dispõem de sistemas públicos de emprego ativos (e caros), abertos a toda população, dentre outros objetivos visando o aconselhamento vocacional, a orientação profissional, o encaminhamento para os circuitos de educação continuada, a captação de vagas e a colocação de mão de obra no mercado laboral. Sendo o tema discutido a passagem do estudo ao trabalho, a articulação entre os sistemas educativos e os sistemas de emprego seria o passo básico, o mais importante, do processo de transição. Uma coordenação imprescindível e olvidada por quase todos participantes.
Fiquei lamentando o fato de que muitos educadores brasileiros provavelmente ignoram a existência do SINE, o Sistema Nacional de Emprego, com suas 1.600 agências de emprego espalhadas pelo Brasil, as quais deveriam ter uma ligação íntima com as escolas básicas.
Mas como culpá-los, se a própria Presidente da República desconhece o SINE?  No último debate antes das eleições, desastrosamente, Dilma recomendou que uma participante desejosa de um emprego procurasse o SENAC – órgão de treinamento da Confederação Nacional do Comércio –  esquecendo tratar-se de função precípua do desprezado SINE, do seu (???) Ministério do Trabalho.


domingo, 12 de outubro de 2014

EMPREGO DE MENTIRA NA CAMPANHA PRESIDENCIAL


Em São Paulo, Wall Street e Pequim todo mundo já sabe que a economia brasileira está afundando. Nosso Governo, porém, argumenta que apenas temos uns poucos problemas, não muito graves,  pois continuamos a criar empregos”. Será? Testar essa gabolice seria um bom exercício para a oposição...
Roberto Campos, seminarista, diplomata e político, era autodepreciativo na análise de sua trajetória profissional. Com ironia, afirmava ter aprendido no seminário a sutil diferença entre o vício e o pecado. Depois, na diplomacia, descobrira que em todo o mundo a doença ocupacional mais comum na “carrière” era um vício: o alcoolismo. Optando finalmente pela política, veio o pior: em seu novo trabalho, o sucesso eleitoral dependia  da prática criativa e desenfreada de um pecado: a mentira. Só mesmo Roberto Campos – que não era nem alcoólatra nem mentiroso - para comentar com franqueza esse determinismo profissional...
 Quanto ao PT, não há dúvida alguma: tem “culpa no cartório” em ambos os aspectos - no vício e no pecado. Sob seu comando, a economia brasileira parece uma “nau sem rumo”, bêbada, Titanic cambaleante, enquanto seus dirigentes dizem que está tudo bem... O PT não hesita em fazer da mentira audaciosa sua grande arma para iludir o povo. Especialmente quando vislumbra uma fragilidade no adversário... Sendo assim, sai de baixo! É o caso do EMPREGO, tema no qual a mentira deslavada do PT só é possível e prevalece por força da omissão e tibieza do adversário.
Dilma, estabelecendo comparações despropositadas com o Governo FHC, totalmente fora do contexto no tempo e no espaço, faz campanha política apregoando aos quatro cantos do país sua grande capacidade de criar empregos. VERDADE?
Em 2013 havia no Brasil meio milhão a mais de trabalhadores desocupados do que em 2012.  Isso mesmo! De 2012 para 2013, em pleno Governo Dilma, o número de desocupados no Brasil, na população de 15 anos e mais de idade, aumentou em MEIO MILHÃO DE PESSOAS. E quem mostra isso é a PNAD do IBGE, órgão do governo. A PNAD 2012 apontou a existência de 6.149.000 pessoas sem trabalho naquela faixa etária. Já a  PNAD 2013 registrou um número substancialmente maior de desocupados: 6.637.000. Meio milhão de desocupados a mais!
A EXPLICAÇÃO:  Lula, na campanha de 2002, prometera criar 10 milhões de empregos durante os quatro anos de seu primeiro governo. Após dois anos e meio no poder, usando as estatísticas do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Lula anunciou que já havia criado 3.135.000 empregos. Na verdade, os empregos gerados no Governo Lula, nos seus primeiros trinta meses, foram apenas 1,6 milhão,  pois os restantes mais de 1,5 milhão de trabalhadores simplesmente tiveram a Carteira de Trabalho registrada. Esses 1,5 milhão de trabalhadores já estavam ocupados, ganhando seus salários e apenas saíram da informalidade, tiveram a carteira assinada e por  isso entraram nas estatísticas do CAGED, do Ministério do Trabalho e Emprego. Não houve geração de emprego.
Lula nunca cumpriu sua promessa eleitoreira mas o PT descobrira o “mapa da mina” para enganar a população leiga, fazendo a proposital confusão entre a criação de empregos e a criação de vínculos empregatícios (assinar a carteira de trabalho). São duas coisas diferentes! Como metade da população ocupada estava trabalhando na informalidade em 2002, o Governo do PT passou a transformar os informais (não registrados) em formais e chamou essa mudança de posição na ocupação de criação de emprego. Para obter essas novas carteiras assinadas fez de tudo: mudou legislação e regras do jogo, apertou a fiscalização, forçou situações de “trabalho escravo” quando havia apenas informalidade e outras coisas mais, denunciadas pelo empresariado como violações inaceitáveis. As trapalhadas nas estatísticas de emprego administradas pelo MTE sempre foram e ainda são inúmeras... Três dias antes das eleições de 2006, em que Lula conquistou seu segundo mandato, a RAIS foi divulgada sem qualquer ressalva pelo Ministério do Trabalho com erros grosseiros, anunciando com estardalhaço que haviam sido criados 1.830.000 empregos formais em 2005. Mas como, se o CAGED, outro levantamento (mensal) do mesmo Ministério do Trabalho, registrava que só foram gerados 1.254.000 empregos formais em 2005? Como explicar essa enorme diferença de quase 600 mil empregos, surgida na calada da noite pré-eleitoral ? Impossível ! Mesmo porque a PNAD de 2005, levantamento do IBGE divulgado poucas semanas antes, confirmava o CAGED e desmentia a RAIS quanto à criação de empregos formais entre 2004 e 2005.

Quem sabe se os economistas ou os marqueteiros do PSDB não aprofundam seus conhecimentos nessa área em que o PT se apresenta como o grande realizador para ver se tudo é verdade mesmo?

terça-feira, 7 de outubro de 2014

ECONÔMICO x SOCIAL


Escândalos à parte, o duo “Econômico x Social” será o embate predominante no segundo turno da eleição  presidencial.
O Governo Dilma arrasou a economia do país – e este é um de seus importantes passivos, talvez decisivo - mas ampliou fortemente os programas de transferência de renda, nos quais os beneficiários recebem mensalmente um repasse de dinheiro dos cofres públicos. Atualmente, são pagos Benefícios de Prestação Continuada (BPC) a 4.256.570 idosos e deficientes (dados de agosto/14); ao mesmo tempo (dados de setembro/14), 13.983.099 famílias carentes recebem o dinheiro do programa Bolsa Família (BF). O crescimento desses programas sociais foi tão expressivo nos últimos anos que ninguém se lembra que sua criação se deu no Governo de Fernando Henrique, pois o oportunismo e a ousadia dos marqueteiros petistas roubaram-lhe os “direitos autorais”.
A lógica quantitativa do resultado no primeiro turno indicaria o desejo majoritário de trocar de Presidente (o voto de 60% do eleitorado foi nos outros candidatos),  mas não se sabe qual o caminho dos 22 milhões de votos dados à terceira colocada e há forças poderosas que atuam em favor do continuísmo petista.
A grande esperança é que o segundo turno da eleição  presidencial, em princípio, beneficiará o eleitor consciente. Ele terá mais tempo para decidir se quer ou não mudar os rumos do país. O primeiro turno, com uma divisão desigual do  tempo de televisão, cria distorções decisivas para o resultado da votação. A TV, ainda o meio de comunicação mais democrático e importante no Brasil, atingia 97,2% dos 65,1 milhões de  domicílios brasileiros em 2013 e este ano deve ultrapassar 98%. O mesmo raciocínio – reflexão sobre a qualidade da escolha - não se aplica, é claro, aos brasileiros que votam fisiologicamente – cujo imediatismo é uma realidade compreensível em regiões pobres e cujo nível de conscientização é precário.
 A principal das forças continuístas é a possibilidade de Dilma conseguir muitos milhões de votos por atribuir-se e ter reconhecida a propriedade dos programas sociais – embora eles sejam mantidos com os impostos cobrados a todos os brasileiros.  Afinal é o meu, o seu, o nosso dinheiro!
A maior fragilidade de Dilma é o péssimo desempenho na administração do país em geral, mas particularmente como essa incompetência se refletiu na deterioração acelerada de nossa economia, cuja situação já pode ser considerada grave. Aliás, os investidores estão cientes dessa crise já em andamento e o simples fato de haver uma esperança de mudança no Governo já fez a Bolsa abrir com alta de 7% e o dólar com queda de 2,5% no dia útil seguinte à eleição do primeiro turno. Números otimistas  que há muito não eram vistos...
Os 43 milhões de votos de Dilma estão concentrados  sobretudo naquela população dependente das transferências governamentais.  Há uma forte correlação positiva das maiores fontes de votação de Dilma com o atingimento territorial do programa  Bolsa Família. No Piauí, por exemplo, Estado em que Dilma teve 77% dos votos, o benefício é dado a metade (49%) das famílias lá residentes.
Essa fortaleza, aparentemente inexpugnável, dos redutos eleitorais petistas haverá, porém, de ter suas fragilidades, que devem ser expostas à exaustão pela propaganda oposicionista, em linguagem que o povo entenda:
1.       Inflação, que corrói o poder de compra do povo. Especialmente a inflação dos preços dos alimentos (Exibir lista de preços de alimentos no dia da posse de Dilma x preços atuais dessa mesma lista). Só o lucro dos bancos subiu mais, muito mais que a inflação dos alimentos.
2.       Corrosão das pensões dos aposentados (Série histórica de 2003 a 2014 da relação entre valor das pensões INSS e o valor do salário mínimo). Pobres velhinhos com mais de 90 anos que o Ministro do PT, Berzoini, obrigou a ir aos bancos provar que estavam vivos. Lembram?
3.       Estagnação Econômica do Brasil  (Crescimento pífio do PIB, queda no saldo da balança comercial com o exterior, endividamento público galopante, despesas governamentais em excesso, carga tributária escandinava e serviços públicos africanos – tudo no no período Dilma)
4.       Saúde – mostrar vídeos dos corredores dos hospitais e emergências, com a realidade assustadora e desumana
5.        Infraestrutura deteriorada – a que aí está, onerando o custo-Brasil,  foi a que sobrou do período militar
6.       Indústria falida, não competitiva – legado petista para o futuro
7.       Taxa de Investimentos – baixa, ridícula mesmo, por falta de confiança no Governo, em função da quebra de contratos
8.       Queda do valor da PETROBRAS – descrédito, desinteresse dos investidores por força da péssima gestão e escândalos bilionários

9.       Resultados dos alunos brasileiros no teste PISA da OECD – sempre entre os últimos colocados dentre as dezenas de países participantes

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CHOQUE CIVILIZATÓRIO


Não é fácil readaptar-se às circunstâncias de um país que parece desorientado – como é o caso do Brasil atual - após umas semanas de viagem por nações onde predominam a ordem, o respeito, a segurança e outros requisitos básicos do que se costuma chamar de civilização.  Eu diria mesmo que minha percepção dos problemas brasileiros pode ser medida pela intensidade desse choque.
Desta vez senti fortemente seus efeitos letárgicos sobre meu ânimo: fiquei preguiçoso, deprimido – sei lá! -  mas fui afinal despertado ao receber e ler o livro (QUAIS RUMOS QUEREMOS SEGUIR?) de Harald Hellmuth (HH),  meu colega de turma na Escola Nacional de Engenharia. A pergunta que HH propõe a seus leitores e usa como título de sua obra mais recente, reflete a garra de um brasileiro que não perde a esperança e luta por suas ideias;  retrata sua preocupação com o futuro de nosso país, em função do panorama negativo no qual o Brasil está mergulhado, justo motivo de indignação de todos os cidadãos conscientes. Sua análise da situação, dos aspectos mais sombrios de nosso pesadelo, são totalmente confirmados pela realidade cotidiana. Mas ele não se limita à crítica e coloca sugestões cabíveis, realistas, adequadas ao momento.  A abrangência do livro de HH é ampla, mas o autor dedica especial atenção aos temas de educação e sustentabilidade. Muito justo: da educação depende o futuro do Brasil; da sustentabilidade depende a sobrevivência da Humanidade. Harald merece parabéns, pela tenacidade e pelo altruísmo. Seu trabalho merece leitura e reflexão e vem a público em momento oportuno, decisivo mesmo. Os problemas nele  levantados explicam porque o Governo pune fortemente as viagens dos brasileiros ao exterior. Nosso país vive um momento trágico: o desrespeito a todas as regras predomina (“levar vantagem em tudo”); a cizânia entre minorias e seus supostos algozes é semeada pelos próprios  governantes (“dividir para reinar”); a violência dos mais ousados contra o povo indefeso é permanente e  a inépcia das autoridades uma constante. A comparação as nações do primeiro mundo deve ser evitada.
Como o tema de mobilidade está em pauta, dou um exemplo que acabo de viver...
No Dia Mundial Sem Carro, na contramão dos países civilizados, todos brasileiros saíram com suas “máquinas”. No Rio e em São Paulo registraram-se  recordes de congestionamento. Mês passado, estávamos na tradicional Gare de Saint Pancras, uma das principais estações ferroviárias de Londres, prestes a embarcar  no trem para Bruxelas. Turistas até por desespero. Afinal, ninguém aguenta 365 dias por ano de violência, desrespeito a tudo e a todos, corrupção explícita dos “donos da bola” e outros malfeitos da República Sindicalista.  Nestes tempos de smartphones, aproveitamos o wi-fi de St. Pancras e avisamos nossas filhas sobre o hotel em que ficaríamos nos dias seguintes. As moças estavam saindo de um evento na Cidade Nova,  lá na Presidente Vargas, Centro do Rio. A caçula pegava seu carro para voltar à Barra da Tijuca, passando por Ipanema, onde deixaria a irmã.
O trem parou primeiro em Ebbsfleet, ainda na Inglaterra e logo submergiu  no Oceano Atlântico, por baixo do Canal da Mancha; subiu em Calais, já na França, para nova escala; depois passou por Lille e chegou ao destino, 2 horas e 5 minutos após a partida de Londres. Já em Bruxelas, avisamos as filhas. A mais velha ficara em Ipanema.  A outra, para surpresa dos pais, respondeu que ainda estava em um engarrafamento em São Conrado. No século XXI é mais rápido e fácil cruzar três países e passar por baixo do Canal da Mancha do que ir da Avenida. Presidente Vargas à Sernambetiba. Explicação: a qualidade dos administradores públicos... Dos daqui e dos de lá. Nós somos e seremos cada vez mais punidos por viajarmos, pois não devemos tomar consciência dessa distância entre nossa infeliz realidade e a dos “gringos”. Governos monoglotas não perdoam conterrâneos “dazelite” que vão gastar suas divisas para viver uns poucos dias na civilização. Portanto, 6,38% de IOF no cartão deles! Ganha a (re)eleição, talvez limitem o número de viagens ao exterior. Querem trem-bala? Esperem o prometido Rio-Campinas!

JK optou pelo monopólio da rodovia e do carro, destruiu a malha ferroviária brasileira, a pretexto de eliminar os chamados “ramais deficitários” e atrasou o País 50 anos nos 5 em que reinou absoluto. Lula e Dilma incentivaram a compra de carros apesar das emissões de carbono – afinal lá no abençoado ABC, berço da indústria automobilística, foi incubado o maldito  “ovo da serpente” que está destruindo o Brasil. Esqueceram, porém, de investir em mais ruas e rodovias, assim como muitos dos incautos compradores de carros financiados a perder de vista (posteriormente promovidos a inadimplentes), ignoraram que além das 72 prestações da “máquina” (cujo preço é o dobro do internacional)  teriam que pagar IPVA, seguro, combustível e lubrificantes... Custo-Brasil, filas de caminhões, portos inacessíveis, falta de motoristas qualificados, mortandade nas ruas e estradas... Eis o preço do “rodoviarismo” brasileiro. Até quando?

terça-feira, 3 de junho de 2014

BRASIL: SAÚDE PARA TODOS (OS BOLSOS)


A nossa demagógica Constituição de 1988 garante que o atendimento em saúde é um direito de todos os brasileiros mas a realidade é bem diferente.
A OMS publicou  recentemente as Estatísticas Sanitárias Mundiais atualizadas, em seu site  (http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2014/world-health-statistics-2014/es/), dando conta dos expressivos progressos mundiais no aumento da expectativa de vida e da longevidade do ser humano. A esperança de vida dos nascidos em 2012  era de 73 anos para mulheres e 68 anos para homens - aumento, em média, de 6 anos em relação a 1990.    
O Brasil foi muito beneficiado nesse aspecto (8 anos de aumento) e está envelhecendo com rapidez. Em 2000 nossos idosos eram 14,5 milhões, equivalentes a 8,6%  da população global.  Segundo estimativas do IBGE, a atual população total do país é de 202,5 milhões de habitantes, dos quais 22,3 milhões (11%) com 60 e mais anos de idade. Quem está entrando hoje na terceira idade no Brasil tem uma perspectiva de viver mais 20 anos e quem chega agora aos 77 anos (como eu) viverá em média mais 11 anos. Muito bom, para um país ainda com tantos problemas graves.  Para muitos analistas, um resultado até surpreendente.
O salto de nossa longevidade resultou em parte do crescimento econômico brasileiro, propiciando melhor qualidade de vida à população em geral, mas teve uma grande contribuição do progresso científico mundial, que facultou o acesso barato às vacinas e medicamentos. Edward Jenner, que desenvolveu a primeira vacina (contra a varíola) no fim do século 18 e Fleming, que descobriu o primeiro antibiótico nos anos 40 do século 20,  permitiram uma revolução terapêutica a baixo custo, após a II Guerra Mundial, na medida em que a indústria farmacêutica se aperfeiçoou e passou à produção em massa.
O panorama brasileiro seria ainda mais favorável se nossas deficiências notórias nas áreas de habitação, saneamento, educação, segurança e saúde pública fossem amenizadas. Em um país repleto de favelas, sempre insalubres e geralmente dominadas pelo crime organizado, com um passivo de 60 mil mortes violentas a cada ano, utilizando equipamentos públicos de saúde sucateados, com populosas áreas urbanas sem saneamento, ministrando educação básica de péssima qualidade, é quase um milagre que tantos cheguem à terceira idade. Pena, também, que esse fenomenal alongamento da vida não seja acompanhado pelas providências cabíveis em todos os setores da vida nacional, de modo a atender adequadamente os idosos. Os aspectos específicos de saúde e nutrição, habitação e meio ambiente, família, proteção do consumidor, bem estar social e educação, além da geração de emprego e renda mereceriam melhor tratamento das políticas públicas para a terceira idade. Sempre com o sentido final de assegurar autonomia, participação,  proteção social e dignidade ao idoso. Velhice sem qualidade de vida é tortura...
Um bom sistema de saúde, logicamente, é essencial para a população em geral e os idosos em particular. Aí está a sintonia fina que conduz à  longevidade. Mas no Brasil a desigualdade no caso da saúde é enorme, pois o acesso às novas tecnologias e materiais empregados na  medicina diagnóstica e curativa moderna, fator de aumento da longevidade, não é  barato. No Brasil o gasto em saúde é de US$ 1.000/habitante/ano. Na Alemanha a despesa per capita atinge US$ 4.500 anuais, o que explica nossas deficiências na saúde pública. Ricos e remediados brasileiros pagam duas vezes para ter um bom atendimento. Primeiro, honrando suas obrigações com os pesados impostos - que alimentam as torneiras incontroláveis das despesas governamentais; depois, para livrar-se dos péssimos serviços públicos de saúde, prestados à população em geral, pagando por atendimento privado de qualidade.
A medicina brasileira de ponta permitiu-me sobreviver a 45 anos de tabagismo e chegar ao século XXI, saindo incólume de duas cirurgias de alta complexidade. Nas últimas semanas, usufruí das benesses de um plano de saúde de qualidade e tive o privilégio de ser operado pela equipe chefiada pelo Dr. Marcus Humberto Tavares Gress, um cirurgião endovascular de altíssimo nível. Operação de grande porte, com resultados excelentes .Imediatamente antes e logo após a cirurgia, fui atendido pelo Dr. Robson Chicrala, competente cardiologista/intensivista que afinal me deu alta da excelente Casa de Saúde São José. Naquele estabelecimento, com 90 anos de rica experiência, senti a todo momento o carinho e a dedicação de seus servidores, como as enfermeiras Flávia e Roberta que pacientemente cuidaram de mim na Unidade de Terapia Intensiva. A nobreza de sentimentos é essencial na Medicina,  pois se faltarem a ética profissional, a solidariedade humana e a piedade, um infartado pode agonizar por muito tempo à porta de um hospital de cardiologia de referência (???) sem receber a assistência médica que poderia salvá-lo da morte.

Após vivenciar essa realidade da Medicina de ponta, fica cada vez mais penoso testemunhar na mídia o sofrimento da esmagadora maioria da população brasileira, sujeita às incertezas da saúde pública, que tem traços de alta qualidade em certos momentos e situações, mas é normalmente muito precária.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

SÃO JORGE CHEGOU ATRASADO

Não sei se foi o inédito fechamento da Avenida Brasil ou a demolição inusitada da obra perfeita e acabada da Perimetral e sua substituição pelo indecifrável e intransponível binário (???), mas o fato é que o cavalo de São Jorge empacou e chegou atrasado ao Rio de Janeiro. Pois a batalha foi ontem... e o santo guerreiro se perdeu entre a Capadócia e a Cidade Maravilhosa, deixando Copacabana aos cuidados de São Sebastião que recebeu algumas flechadas adicionais e não evitou os tumultos que repercutiram mundo afora, atingindo a já abalada imagem da Cidade Olímpica. Hoje, nosso querido São Jorge pouco poderá fazer além de recolher as cinzas e destroços de uma noite sem precedentes, resultado da orquestração bem sucedida do crime organizado, sempre à espreita para aproveitar-se das debilidades de nossa política de segurança e utilizar-se de seus terroristas de aluguel para levar o horror à população que paga seus impostos em dia -  mas não vê muitos resultados na aplicação dos dinheiros públicos.
Na década dos 60 um amigo meu comprou um amplo apartamento na Rua Sá Ferreira, no quarteirão da praia, símbolo indesmentível de status e riqueza. Viveu ali muitos anos prósperos e felizes até que sua esposa faleceu. Nos trâmites do inventário, ao ter que pagar o imposto de transmissão do imóvel, verificou que o Estado lhe cobrava muito mais do que seria razoável, supervalorizando o bem. Pediu minha ajuda no sentido de avaliar o apartamento e eu o fiz, chegando à metade do valor que lhe fora atribuído pelo Estado. Aprendi então, ao abordar o caso específico dos imóveis da região, situados no entorno da favela do Pavão-Pavãozinho, que a vizinhança daquele mostrengo, dominado por traficantes e criminosos de todos os calibres, desvalorizava enormemente todas as propriedades atingidas pela metástase urbana causada pela favela. Até então, o investimento em imóveis era caracterizado pela baixa rentabilidade, a média liquidez e a elevada segurança. Com a favelização crescente, a cumplicidade dos políticos oportunistas e a desídia das autoridades, o investimento em imóveis perdeu seu ponto forte - a segurança - pois é bem possível que plantem uma favela em poucos dias ao lado de sua casa e seu patrimônio vá para o inferno. E isso era especialmente verdadeiro para a Cidade do Rio de Janeiro, em que o sucesso eleitoral dependia muito de relaxar na proibição da expansão das favelas, fornecer tijolos para a construção de barracos de alvenaria, asfaltar becos e vielas de terra.
Com a política de pacificação, as vizinhanças das favelas que iam  recebendo UPPs renasceram e passaram a viver melhores dias. Caíram rapidamente os índices locais de criminalidade e desapareceu o sentimento generalizado de insegurança. Meu amigo viu seu luxuoso apartamento recuperar parte substancial do valor original. Ipanema e principalmente  Copacabana foram beneficiadas pela volta aos velhos e  bons tempos.
Ontem, dia 22 de abril, data do Descobrimento do Brasil - lamentavelmente ignorada pela mídia e a opinião pública - a descoberta foi outra: a de que tudo pode voltar aos tempos em que a marginalidade imperava na Zona Sul do Rio de Janeiro. O crime organizado - que tem seus planejadores - está tentando retomar sua antiga  posição territorial de força, explorando os pontos fracos da política de segurança que precisa reagir rápida e vigorosamente.
Na Guerra do Vietnã, um dos principais fatores de enfraquecimento das forças aliadas dos norte-americanos era a inesperada insurreição de aldeias - outrora pacíficas ou neutras - que se aliavam aos vietcongues e aumentavam os territórios e efetivos comunistas da noite para o dia. Cientistas sociais americanos foram chamados a colaborar na guerra e o fizeram através de pesquisas que determinavam quando uma aldeia vietnamita típica se tornava prestes à insurreição. Os pesquisadores construíram uma taxonomia, com vários atributos e variáveis, das aldeias do Vietnã e determinavam quando a probabilidade de a população se aliar aos vietcongues assumia valores perigosos. Nesse momento era feita a intervenção adequada na comunidade de modo a reverter a expectativa. Creio que a inteligência da Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro deveria atuar nesse mesmo sentido em relação às favelas pacificadas. Caso contrário, a bandidagem em breve estará batendo às nossas portas e invadindo nossas praias. Literalmente. A não ser que o trânsito no Rio melhore (improvável!) e São Jorge chegue na hora certa para fazer o milagre de aniquilar o dragão do crime organizado de nossa pobre Cidade...
PS - Nas décadas de 50 e 60 moravam na Ladeira Saint  Roman - hoje acesso deprimido  à favela Pavão-Pavãozinho - algumas das famílias mais ricas do Brasil. Lembro de Azevedo Antunes, Juraci Magalhães e Levy Gasparian...


domingo, 23 de março de 2014

AS CADEIRAS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Vi pelas televisões a indignação da imprensa contra a prática comercial de um cursinho pré-vestibular  de Montes Claros. Esse tipo de estabelecimento de ensino, que prepara os estudantes para exames de ingresso na Universidade, é uma resposta clássica do mercado às disfuncionalidades  centenárias da educação básica brasileira. Não existiria se os alunos estivessem realmente prontos ao concluir com êxito (formal) o ensino médio. O cursinho mineiro tem salas em que sentam 100, 200 e até 300 alunos simultaneamente. Geralmente, os professores que dão essas aulas para verdadeiras multidões, dominam os conteúdos curriculares e são quase- artistas, com grande capacidade para motivar e prender a atenção dos estudantes, utilizando-se de truques e meios audiovisuais diversos.  Ainda assim, por motivos variados, o posicionamento favorável dos estudantes na sala tem importância estratégica. Nasceu, por esse motivo, a natural ideia da direção do cursinho  de cobrar um adicional  de quatrocentos reais  anuais daqueles alunos que quisessem gozar do privilégio de uma cadeira cativa nas primeiras filas.  São as tais “cadeiras VIP”, brancas, mencionadas e mostradas nas reportagens indignadas da mídia.
Imediatamente o PROCON e o Ministério Público intervieram e a prática foi descontinuada.  Sanções ao cursinho estão em andamento... Folgo em saber que a prestação de serviços educacionais entrou na pauta dos órgãos de defesa do consumidor e estimo que daqui em diante sejam ampliadas as ações desse tipo, como já aconselhei em blog anterior. O controle de qualidade da educação, alvo de minhas preocupações mais recentes, só será efetivo quando assumir a relevância que já tem a vigilância exercida, pelo consumidor em geral, em relação aos demais produtos e serviços, tornando-se uma prática rotineira da nossa população.
Apesar de “a compra da cadeira VIP” ser facultativa, agiram bem  as autoridades competentes (sic) ao proibi-la, pois a meta do poder público para a educação deve ser a busca, simultaneamente, de qualidade e equidade, pois é exatamente isso que mais falta no Brasil.
PROCON e Ministério Público deveriam agora, por uma questão igualmente de justiça e equidade, levar a endereços mais nobres o mesmo tipo de intimação a que submeteram o modesto cursinho de Montes Claros.  Sugestões?
1)      Visitar Prefeituras e Palácios de Governos Estaduais: ainda agora, ao final de março de 2014, há mais de um milhão de estudantes da escola pública brasileira ainda sem aulas, por motivos os mais variados: greves diversas, déficits crônicos de professores, absenteísmo exagerado dos quadros docentes, licenças médicas fajutas para mestres preguiçosos, falta de transporte escolar ou de uniformes para os alunos do ENCINO (assim estava escrito nas camisas compradas pelo governo) público e assim por diante. Reflexo da péssima atenção que o Brasil dá a sua educação e da gestão irresponsável das autoridades competentes (rsrsrs). Falta de planejamento, incapacidade de prever o previsível, cumplicidade com auxiliares desidiosos, interesses eleitoreiros espúrios, enfim uma constelação de equívocos.  Por tudo isso, intimá-los...
2)      Acampar na Esplanada dos Ministérios, em frente ao MEC e ao MTE, desviando parte dos fiscais para o Palácio do Planalto:
a) no momento atual, o governo faz um grande e louvável esforço para ministrar educação profissional inicial e continuada a milhões de trabalhadores pelo PRONATEC, em virtude de o Ministério do Trabalho ter sumido com as verbas do FAT que nos últimos 12  anos  deveriam ter treinado nossos jovens, provocando assim um “apagão de mão de obra sem precedentes”. A produtividade de nossa indústria caiu; nossos serviços estão caríssimos, em função dos desperdícios causados por trabalhadores desqualificados;  a mão de obra rural, cada vez mais problemática, está sendo substituída massivamente por máquinas. O grande problema é que os candidatos que chegam ao PRONATEC não são treináveis de imediato! Motivos: não sabem ler e entender uma folha de instruções; não sabem fazer cálculos simples de soma e subtração e assim por diante.  Causa, uma só: receberam uma educação básica de péssima qualidade.
b) o Brasil tenta distribuir  mais de 100 mil bolsas de estudo gratuitas no exterior para as Universidades, mas acaba de descobrir que não há candidatos em número suficiente! Motivo: falta de proficiência no domínio de uma segunda língua. Causa, a mesma: receberam uma educação de péssima qualidade.
UM APELO:
Autoridades competentes do PROCON e do Ministério Público, por favor: intimem nossa Presidente e seus Ministros, pois eles também cobram dos contribuintes brasileiros pelas “cadeiras VIP da educação”. Se você, caro leitor, quer dar uma educação decente a seus filhos, além do que já sangra pelos impostos escorchantes dos governos,  pague por uma cadeira branca em um bom colégio particular, desses que estão sempre nos primeiros lugares do ENEM. Caso contrário, seus filhos vão sentar lá atrás, como a maioria do nosso povo, milhões de brasileiros que vão ficar pelo resto da vida no fundo da sala, sem ver, sem ouvir, sem entender.



sexta-feira, 7 de março de 2014

ESPORTE E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Ensino de qualidade tem que incluir a educação física como matéria obrigatória e propiciar oportunidades reais de prática desportiva aos estudantes.
Quando fui membro do CFE - Conselho Federal de Educação (atual CNE -  Conselho Nacional de Educação), no início da década dos 70, participei da elaboração da Reforma do Ensino Primário e Médio, consubstanciada na  Lei no 5.692, de 11 de agosto de 1971. Lutei  e votei pela obrigatoriedade da prática da educação física e desportiva no sistema educacional brasileiro. Posteriormente, aprovada a lei,  fui  escolhido Relator da regulamentação dessa obrigatoriedade no Conselho. À época eu dirigia o CNRH – Centro Nacional de Recursos Humanos do EPEA (hoje IPEA) que produziu o I Diagnóstico da Educação Física e Esportes no Brasil e que a seguir coordenou a elaboração do I Plano Nacional de Educação Física e Esportes, um marco histórico desse setor.  Minha informação a respeito estava bem atualizada.  Atleta de voleibol do Fluminense e ex-jogador da  Seleção brasileira, meus colegas  do CFE consideraram minhas credenciais suficientes  para que eu realizasse o trabalho. Fui assessorado  pelos Professores Lamartine Pereira da Costa e José Garcez Ballariny, do EPEA, cuja colaboração foi decisiva.
Ao correr  do tempo, não só pela evolução tecnológica da sociedade moderna – um convite permanente e sedutor  ao sedentarismo – mas pela minha própria observação  do cotidiano – verificando que a boa qualidade de vida está  no equilíbrio entre trabalho e lazer, atividades físicas e intelectuais – considero que aquela legislação do CFE foi uma ótima contribuição à educação  brasileira.  Esporte e educação física são fundamentais para nossa formação.  
O esporte tem notável  influência positiva na socialização, na saúde física e mental, contribui para uma visão equilibrada e regrada da competição, impõe a aceitação da natural alternância entre vitórias e derrotas durante a vida, estimula o companheirismo, a lealdade, a pertinácia e beneficia  muitos aspectos importantes da esfera psicossocial. O esporte  é um efetivo antídoto contra a proliferação das drogas e da violência, além de um fator de ascensão  social cada vez mais importante, à medida que o esporte escolar vai permitindo aos adolescentes e jovens pobres a oportunidade de revelar seus talentos. O  que não acontece com os dotes intelectuais dos alunos carentes, sufocados por uma escola de má qualidade, que não oferece a base de conhecimentos de que necessitam para tentar o ingresso na Universidade e trilhar os caminhos nobres da ciência, da tecnologia e da prática profissional de ponta. Na escola de qualidade vão surgir as vocações de futuros atletas  - que irão percorrer o trajeto esporte-profissão, entrando em  um importante segmento do atual mercado de trabalho e das  relações  internacionais, cujas tendências futuras de crescimento são  extremamente promissoras.
 Na escola de qualidade também devem nascer  os hábitos da prática sadia da atividade física para toda a vida e a educação da educação física presta-se maravilhosamente às abordagens transversais, que permitem enfocar problemas sérios que crescentemente vão acometendo nossa sociedade. Temas não faltam: o combate aos vícios em geral, seja do  uso de drogas lícitas (como o fumo e o álcool) como das ilícitas; a conscientização acerca da futilidade do falso culto ao corpo; o perigo dos excessos comuns em  alguns centros de preparação física, tanto na intensidade dos exercícios em si quanto no  uso de substâncias que prometem força e beleza a curto prazo, mas cobram um alto preço em saúde. Todas essas questões têm que ser enfocadas pelos bons professores de educação física com seus alunos - crianças, adolescentes ou jovens.
Não custa repetir que são múltiplas e cada vez mais eloquentes as pesquisas na área médica consolidando a atividade física como um dos mais importantes fatores de higidez, de melhoria  da qualidade de vida e aumento da longevidade. Embora ainda sujeitas a controvérsias, investigações recentes tendem a mostrar a igualmente  importante  contribuição dos exercícios físicos para o desenvolvimento  do intelecto.  Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Boston (BUSM) encontraram evidências de que a atividade física é benéfica para a saúde do cérebro e para a cognição. Certos hormônios,  secretados durante o exercício, ajudariam a melhorar a memória.  Em outro estudo, publicado em outubro de 2013, o Dr. Bruce Spiegelman, do Instituto Dana-Farber  Cancer  e Harvard Medical School relatou que uma molécula chamada FNDC5 e seu subproduto, irisina, tornam-se elevadas no cérebro quando fazemos  exercícios de resistência.  Spiegelman e a sua equipe também descobriram que aumentos nos níveis de irisina estão na origem da melhoria da capacidade da neurogênese  - crescimento de novos neurônios. Querendo saber mais, leia o Apêndice.
MENS SANA IN CORPORE SANO
Tive o privilégio de estar no sítio arqueológico  de Olímpia, cidade-berço da  competição entre os maiores atletas da Grécia Antiga, origem  das Olimpíadas modernas.   Foi em  776 a.C  que se realizou o primeiro torneio, que se repetiria de quatro em quatro anos, suspendendo as guerras eventualmente em andamento,  até que o imperador romano Teodósio I o suprimiu em 394. Senti uma intensa emoção ao visitar o estádio e imaginar como seriam  então os Jogos, origem de um tipo de atividade humana que me deu tantas alegrias, oportunidades e inculcou-me a perseverança e muito vigor para a luta por toda a vida. Recordei  que ali se fundiam, harmoniosamente,  esporte e arte. Fídias, o maior dos escultores gregos, mantinha em Olímpia um ateliê que ocupava durante os Jogos, ao lado do Templo de Zeus.  Deus que Fídias representou em  uma gigantesca estátua em marfim e ouro, considerada uma das sete  maravilhas do mundo antigo.
Durante muito tempo, vários Diretores de escolas brasileiras apresentavam a falta de espaço como álibi para não oferecer a atividade esportiva a seus alunos.  Conversa fiada... Escola cujo objetivo  seja ministrar ensino de qualidade inclui os esportes  e  a educação física dentre as atividades preferenciais oferecidas a seus alunos, usando de todos os meios para consegui-lo. No site  http:// www.procrie.com.br   -  mantido pelo Professor Roberto Pimentel  - qualquer interessado obterá, por exemplo,  as informações pertinentes para usar o minivoleibol como centro das atividades esportivas/educativas na escola, com a grande vantagem da ampla abrangência etária de praticantes potenciais, dos baixos custos dos materiais  usados e dos pequenos espaços requeridos para sua prática. Melhor ainda se o Prefeito se interessar em obter uma assistência técnica específica de Roberto Pimentel  para sua implantação no sistema de ensino público do Município.

APÊNDICE: “Exercising Intelligence: How research shows a link between physical activity and smarts”. Autoria de Jay Bonaretti        
Um grande estudo realizado na Academia  Sahlgrenska e pelo  Hospital Universitário Sahlgrenska , em Gotemburgo , na Suécia, revela que os jovens adultos que se exercitam regularmente têm escores de QI mais altos e são mais propensos a ingressar na universidade .
O estudo foi publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências (PNAS) , e envolveu mais de 1,2 milhões de homens suecos . Os homens estavam realizando o serviço militar e nasceram entre os anos de 1950 e 1976 . Ambos os resultados dos testes físicos e de QI foram revisados ​​pela equipe de pesquisa . Os resultados da análise revelam uma clara ligação entre a aptidão física e os resultados dos testes de QI. Em particular, a compreensão verbal e o pensamento lógico mostram maior associação com a aptidão. No  entanto , a força não foi associada com um aumento no QI.
"Estar em forma significa que você também tem bom coração e capacidade pulmonar e que seu cérebro fica cheia de oxigênio ", diz Michael Nilsson, professor da Academia Sahlgrenska e médico -chefe do Hospital da Universidade de Sahlgrenska . "Esta pode ser uma das razões pelas quais nós podemos ver uma ligação clara com a aptidão , mas não com a força muscular. Nós também observamos  que existem fatores de crescimento que são importantes."
Os pesquisadores também analisaram os dados de gêmeos e concluíram que fatores ambientais são mais importantes que a genética na associação entre QI e fitness. "Também mostramos que esses jovens que melhoraram  a sua aptidão física entre as idades de 15 e 18 anos também  aumentaram o seu desempenho cognitivo ", diz Maria Åberg , pesquisadora da Academia Sahlgrenska e médica no Centro de Saúde DBY. " Sendo este o caso , a educação física é um assunto que tem um lugar importante nas escolas, e é uma necessidade absoluta , se quisermos obter  bom desempenho em matemática e outras disciplinas teóricas. "
Outro resultado interessante da análise foi a descoberta de que aqueles que estavam mais aptos na idade de  18 anos eram mais propensos a frequentar a universidade e a encontrarem melhores empregos no mercado de trabalho.
O estudo foi realizado no Centro de Reparação e Reabilitação Cerebral de Gotemburgo, em conjunto com o Karolinska Institutet .

Referência: Aberg MA, Pedersen NL, Toren K., Svartengren M., Bäckstrand B., T. Johnsson , Cooper- Kuhn CM , Aberg ND, Nilsson M., Kuhn HG (2009). Aptidão cardiovascular está associada com a cognição na idade adulta jovem . Proc . Natl . Acad . Sci . U.S.A. 106 , 20.906-20.911 (“Exercising Intelligence: How research shows a link between physical activity and smarts” in Site http://www.ironmanmag.com.au, Capturado em 06/03/2014)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

MONITOR DE HOJE É O PROFESSOR DO AMANHÃ

Nos meus tempos de colégio, o monitor era aquele aluno que se destacava em determinada matéria e era escolhido pelo professor para ajudá-lo em suas aulas e eventualmente realizar algumas tarefas específicas com os colegas, tais como reações de química, exercícios de matemática, experimentos de física e assim por diante. No Colégio Mello e Souza, o monitor de Química era o Victor, uma vocação de mestre. Victor Notrica, depois de formado, foi um professor de ponta e quando o revi era Diretor do Instituto Guanabara, na Tijuca, Rio de Janeiro. Até o fim de 2013 foi o Presidente do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino Particular no Rio de Janeiro (SINEPE Rio) e hoje é seu Vice-Presidente.
Monitor! Aí está uma velha ideia que ainda cabe nestes tempos de escassez de vocações para o professorado. A busca de talentos para o magistério deve começar desde cedo, no próprio ambiente escolar – o mais propício para o recrutamento e a seleção de jovens motivados para o exercício da profissão. Dentro dessa perspectiva, a instituição, nas escolas públicas de nível médio, da figura do “aluno-monitor” (ou simplesmente monitor), pode contribuir para a renovação dos respectivos quadros docentes. Os monitores seriam escolhidos dentre os melhores alunos, ao fim da primeira série do ensino médio e ajudariam os docentes da disciplina escolhida nas duas séries seguintes, havendo uma política deliberada de estímulos diversos para lograr seu comprometimento natural com a profissão docente.  Para a identificação e a assistência ao trabalho dos monitores, as Secretarias de Educação (ou os Diretores das escolas, por delegação da Secretaria) designariam “professores-tutores”, verdadeiros olheiros e treinadores, encarregados da busca e orientação dessas vocações precoces (os alunos-monitores). Os monitores receberiam bolsas de iniciação à docência como remuneração, no valor mensal de um terço do salário mínimo, para sua manutenção pessoal, compra de livros, equipamentos de informática e demais materiais didáticos. No caso de mau aproveitamento escolar, a critério dos Diretores, o monitor deixaria o Projeto.
Quando o monitor participar do ENEM (só poderá fazê-lo uma vez depois de seu ingresso no projeto) e ficar colocado entre os 1.000 candidatos com maiores notas globais no Brasil, os “professores-tutores” que os indicaram receberão uma gratificação (por aluno indicado e colocado) da respectiva Secretaria de Educação. Sempre que um monitor se classificar para o ensino superior e optar por cursar uma Licenciatura, seu tutor também será gratificado.
Todos os estudantes, dentre os 10.000 melhores classificados no ENEM, que optarem por cursar as Licenciaturas em Universidades públicas, receberão bolsas de manutenção pessoal equivalentes a um salário mínimo, durante toda a duração do curso de Licenciatura. Os bolsistas perderão o benefício caso sejam reprovados, se evadam ou mudem de curso.  Esse número (10.000) poderá variar em função das necessidades do sistema e das disponibilidades de recursos. Os estudantes, dentre esses mencionados, que frequentarem estabelecimentos de ensino superior em que não haja gratuidade, receberão adicionalmente bolsas do PROUNI que cubram 100% das suas anuidades durante todo curso,  desde que sejam aprovados em todas as matérias (ou em todos semestres letivos), cessando o benefício no caso de reprovação, evasão ou mudança de curso.
No decorrer da Licenciatura, esses estudantes, a cada ano, farão estágio de 1 mês, dando aula no ensino médio público, ganhando remuneração cumulativa com as bolsas que porventura recebam.
Formados na Licenciatura e depois de dois anos de serviço no ensino médio público esses professores, antigos monitores, passarão a ser elegíveis para receberem licenças remuneradas e bolsas para fazerem cursos de  Mestrado gratuitamente.
Dois anos após completado o Mestrado, os professores poderão ser elegíveis para ganharem novas licenças remuneradas e bolsas para fazerem o Doutorado gratuitamente.
Cinco anos depois de concluído o Doutorado, os professores podem apresentar um projeto visando um estágio de especialização em Universidades do exterior.

  • ONG selecionada poderia liderar o Projeto Monitoria, firmando convênio com as Secretarias de Educação que aceitassem as condições deste projeto (concessão de licenças remuneradas para educação continuada dos docentes e designação e gratificação dos “tutores”).  A ONG obteria também a adesão de empresas para cobrirem os custos dos monitores até o fim de suas Licenciaturas. A ideia é manter o Projeto ativo durante um longo período, suficiente para formar um estoque apreciável de docentes talentosos.


  • As ONGs atuando no Brasil mantêm incontáveis “escolinhas” de futebol, voleibol, basquete etc além de numerosíssimos cursos de iniciação à música, dança, capoeira etc etc mas não há  publicidade de qualquer iniciativa desse teor visando descobrir futuros matemáticos, físicos, químicos, biólogos e principalmente professores. Este projeto - quem sabe? - pode ser o início desse novo modismo, com reflexos positivos e importantes para o Brasil.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

PROFESSORES TALENTOSOS SÃO CELEBRIDADES

  • O CONTEXTO
O país necessita de instrumentos de política para atrair os jovens talentosos para o professorado das escolas públicas de nível  médio, ainda em expansão, pois os efeitos nocivos dos respectivos deficits vão agravar-se a curto prazo. Em 2011 o ensino médio brasileiro tinha 8,4 milhões de alunos e ocupava cerca de 500 mil professores. Sua expansão é relativamente recente e continua em andamento (o ensino  obrigatório dos 4 aos 17 anos só foi inserido na Constituição em 2009), sem que se tenha feito a respectiva formação dos quadros docentes, com bons padrões de qualidade. Pior: a relação candidatos/vagas nas Licenciaturas deteriora-se em termos qualitativos (candidatos são cada vez menos habilitados). Agravando o deficit, há uma demanda concorrente de professores para as novas unidades federais de ensino técnico, construídas nos últimos anos: em 2002 existiam 140 dessas escolas; em 2012 já são 354 e em 2014 serão  562.  Emergencialmente, essas instalações estão sendo utilizadas pelo PRONATEC, um programa que visa atender a milhões de jovens para sanar o “apagão de mão de obra qualificada” que está prejudicando muito a economia do país, baixando sua produtividade e a competividade de nossos produtos e serviços.
  • CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS
O controvertido “sistema de cotas” é  sintoma eloquente de que o  ensino público de  nível médio é um obstáculo à democratização de oportunidades no Brasil. Frequentado pelos jovens pobres e dos estratos de menor renda da classe média, seus diplomados têm  dificuldades no acesso ao curso superior de melhor qualidade e na transição para o mercado de trabalho. A “hora da verdade” para formados nos cursos médios das escolas públicas pode chegar nos maus resultados em exames vestibulares, em provas do ENEM e na dificuldade de classificação para o SISU e o PROUNI. Agora mesmo há sobra de bolsas de estudo no exterior dentro do programa Ciência sem Fronteiras pelo fato de os estudantes brasileiros não dominarem uma segunda língua. A má qualidade do ensino público pode também evidenciar-se quando da busca do primeiro emprego formal, dificultada pelo desprestígio da formação recebida, deficiente e cheia de lacunas, já bem conhecida das empresas. Em muitos casos, por não dominar certos conhecimentos básicos, esses jovens fracassam até mesmo ao frequentar os cursos de qualificação profissional necessários à  colocação em postos de trabalho exigentes em competências e habilidades específicas. Nessas situações, os estudantes estão pagando o preço dos desfalques nos quadros docentes, repetidos a cada ano letivo, em muitas escolas das várias Unidades da Federação; sendo penalizados pelo absenteísmo/grevismo exagerados de seus mestres desmotivados, uma constante; e lamentam as poucas aulas ministradas em matérias essenciais – como Matemática, Física e Química – nas quais o déficit  de professores é mais agudo. Esta proposta, por tudo isso, prioriza a atração/retenção de docentes para o ensino médio público.
  • FORÇAS DE ATRAÇÃO E REPULSÃO
A conquista de talentos para o exercício do magistério em nossa educação básica pública encontra uma barreira inicial na situação em que a maioria dos professores exerce atualmente essa profissão. Fato muito divulgado pela mídia, mostrando escolas localizadas em zonas de risco, em condições físicas deploráveis, sem equipamentos essenciais; ou realçando o fato de que a violência das periferias e favelas e a penetração das drogas entre os jovens já adentraram as salas de aula.  Culminando com a omissão de certas autoridades, cuja gestão displicente e burocrática falha no apoio aos funcionários e docentes trabalhando nessas condições de risco. Testemunhos eloquentes de que dificilmente se poderia  caracterizar o magistério público como uma carreira estimulante, recompensadora, capaz de exercer fascínio sobre as novas gerações, sobretudo atraindo seus elementos mais capazes. Ao contrário, a realidade atual é importante fator de repulsão à profissão. A valorização do corpo docente em atividade é, por isso mesmo, condição “sine qua non” para captar talentos para a carreira, em face de seu “efeito demonstração”.  Além do que há risco de perder  muitos dos docentes em atividade - provavelmente alguns dos mais qualificados - propensos a migrar para ocupações melhores, em setores mais promissores. Neste vasto país continental, nos sistemas públicos de ensino médio, de qualidade sofrível, há  porém trabalhos valiosos em andamento. Exemplos de boas práticas que devem ser divulgados, visando sua universalização.
  • A FORÇA DO MARKETING E CRITÉRIOS MERITOCRÁTICOS
A situação desfavorável do professorado em atividade não é, todavia, um obstáculo intransponível para recrutar novos e bons valores para a carreira. Certas analogias desmentem esse determinismo. A profissão que maior atração exerce sobre a nova geração do sexo masculino no Brasil é a de jogador de futebol. Não havendo problemas de recrutamento para esse esporte, a vasta demografia brasileira resulta em oferta abundante de talentos.  E como o sistema de seleção funciona obedecendo aos critérios de mérito, nossos jogadores fazem sucesso global e ocupam espaços abundantes na mídia mundial. Fechando o “círculo virtuoso”, há cada vez mais brasileirinhos que almejam e tentam o estrelato futebolístico. No entanto, quando se vai pesquisar a situação real dos jogadores atuando no Brasil, verifica-se que além de a carreira ser curta, a esmagadora maioria trabalha em condições precárias, mora em alojamentos desconfortáveis, recebe remunerações modestas – abaixo da média salarial do trabalhador brasileiro, pesquisada nas seis maiores regiões metropolitanas pelo IBGE (na Pesquisa Mensal de Emprego). A grande atratividade dessa profissão deve-se ao sucesso de algumas poucas centenas de jogadores de ponta que ganham somas milionárias, levam uma vida social charmosa, têm acesso ao “grand monde” e muita exposição nas mídias. O apelo da carreira futebolística resulta de os jovens pretendentes acreditarem na sua própria capacidade para “chegar lá” e na prevalência do mérito, como fator de julgamento para definir quem vai fazer sucesso. Na prática do jogo, predomina a meritocracia: os atletas estão sempre expostos aos olhos dos técnicos e ao julgamento das multidões. O marketing das estrelas e a prevalência do mérito atraem os jovens talentosos. Já existem algumas iniciativas no ensino público – muito tímidas e suscitando forte reação contrária - no sentido da implantação de sistemas de remuneração diferenciada segundo o mérito. O fato de a educação presencial ainda ter as características econômicas de um artesanato, em que a produtividade média da mão de obra é baixa, torna inviável pagar altos salários às centenas de milhares de professores em atividade. Assim, a gradação salarial fundamentada na produtividade talvez fosse uma das boas soluções para atrair talentos para a docência. Infelizmente, trata-se de um sonho irrealizável no momento brasileiro atual. De um lado, pela própria dificuldade de realizar comparações de mérito nos serviços públicos, desorganizados e incapazes de supervisionar suas unidades. De outro,  em função da ideologia dominante nas esferas de poder brasileiras – uma mentalidade que repele a evidenciação das diferenças individuais e não admite nem discutir soluções meritocráticas. Finalmente, a resistência dos próprios professores e seus sindicatos de se deixarem avaliar.
  • A SOLUÇÃO

É preciso contornar – ainda que parcialmente – as barreiras à prevalência do mérito. Buscar caminhos para premiar generosamente os professores talentosos, transformá-los em “celebridades”, criar o “efeito demonstração” que torne a carreira atraente e charmosa. A proposta para reter os milhares de docentes em atividade – e de quebra motivar jovens candidatos ao magistério - seria conceber e executar uma programação de CONCURSOS variados de BOAS PRÁTICAS  DE ENSINO, com grande publicidade e ótimos prêmios, abertos aos professores do ensino médio público. Cada Concurso teria: a) divulgação ampla na grande mídia, cobrindo sua abertura, premiação e resultados finais, de modo a tornar conhecidos e admirados os professores vencedores – transformando-os em personalidades midiáticas; b) recompensa pecuniária elevada para os docentes vitoriosos, que realizem trabalhos notáveis, de  modo a generalizar a crença de que a carreira permite acumular um bom patrimônio e que seu mérito é reconhecido pela sociedade; c) divulgação detalhada, pelos meios adequados, do conteúdo dos trabalhos premiados, de modo a servirem como motivação, inspiração e treinamento prático para os demais docentes em atividade. Os participantes dos Concursos seriam os atuais professores do ensino médio público, que poderiam apresentar trabalhos individuais ou em grupo (estimulando a multidisciplinaridade), mas o programa também influenciaria os jovens talentosos que estão no período de escolha da profissão. O ensino médio brasileiro é urbano (97%),  mas os Concursos, seus vencedores e os projetos premiados, dependendo dos recursos midiáticos utilizados na divulgação, serão conhecidos em todo território nacional, influenciando docentes de todos os níveis. O prestígio social em alta, a notoriedade granjeada pelos ganhadores – “celebridades do conhecimento” – e o dinheiro auferido na disputa, são as motivações para atrair e reter mestres talentosos em geral, dando-lhes a esperança de que seu trabalho terá o justo reconhecimento. A percepção acerca da carreira no ensino público se fará sob um novo olhar, identificando dinamismo, espírito de iniciativa e de inovação onde antes só parecia haver imobilismo e burocracia. O projeto tem a vantagem de que um pequeno grupo pode coordenar sua implementação. Especialista em Concursos se encarregará de sua concepção e execução, com um ou dois educadores para assessorá-lo. Haverá um sítio próprio e exclusivo dos Concursos na internet, com a respectiva equipe terceirizada, o que facilitará o envio do material pelos concorrentes – o qual poderá atingir quantidades ponderáveis e adquirir formatos diversos: vídeo com som; vídeo ilustrando texto; “power point show” ou similar; texto com ilustrações etc etc. Um grupo de jurados de notório saber, escolhido a cada Concurso, será responsável pela seleção inicial dos concorrentes. Na maioria dos casos, os vencedores dessa primeira “peneira” serão submetidos a uma segunda etapa de validação e julgamento, realizada  “in loco” (na comunidade, escola etc) e bem documentada, precedendo a decisão final. Havendo televisionamento e sucesso dos Concursos, pode-se ter votação popular em cada julgamento final, por meio do sítio na web ou através de telefonemas - neste caso a receita revertendo para os vencedores e/ou a produção do programa. O ideal seria utilizar o programa de TV de algum comunicador com grande audiência para lançamento, julgamento final e divulgação dos resultados. E sobretudo para celebrizar os vencedores. Há viabilidade de conseguir  cotas de patrocínio de empresas de âmbito nacional, pelo próprio valor publicitário da promoção ou dentro de seus programas de responsabilidade social. O Concurso pode levar o nome do patrocinador principal ou de  marca de sua escolha. É possível começar o programa quase de imediato, devendo o Concurso preceder o início dos semestres letivos. Cada um deles estender-se-á por um ou dois semestres, mas a série será duradoura, na medida do êxito e sempre que  novos temas de competição sejam idealizados. O resultado esperado é a retenção dos bons docentes em atividade, o crescimento do prestígio social da carreira e a maior adesão futura de talentos à profissão. O lançamento do Concurso em si melhorará a qualidade do ensino médio público de imediato, pois os docentes em atividade se esforçarão por desenvolver trabalhos pedagógicos relevantes, visando a própria participação no certame. Podem ter todo esse impacto esperado, por exemplo, os Concursos para professores versando sobre: a) criação de jogos educativos (eletrônicos ou não) de caráter pedagógico; b) desenvolvimento e execução de  atividades criativas de envolvimento dos alunos com a comunidade; c) projetos de ciência e tecnologia desenvolvidos em suas classes; d) concepção de programas de computador visando a  educação a distância; e) idealização e aplicação de projetos de atividades pedagógicas em parceria com empresas;  f) criação e aplicação, com seus alunos, de projetos de economia solidária em comunidades carentes; g) idealização e execução,  em benefício de seus alunos, de projetos de empreendedorismo e colocação no emprego; h) elaboração, individualmente ou em grupo, de material didático para tópico(s) relevante(s) de determinada matéria ou temas interdisciplinares. Será também possível lançar Concurso(s) idealizado(s) de forma dirigida para professores desta ou daquela disciplina, cujos efetivos são mais deficitários ou no caso de falta de candidatos talentosos à  respectiva Licenciatura.  Ao longo do tempo, os temas podem ter complexidade crescente, por exemplo Concursos sobre trabalhos de criação de tecnologias sustentáveis realizados pelos docentes com seus alunos ou então a concepção, formulação e implementação de projetos que tornem o resultado de determinada política pública mais eficaz  para a comunidade em que se insere a escola etc etc. Cada um desses Concursos dará origem a rico material didático multimídia, utilizável para treinamento presencial ou a distância de professores, atuais e futuros, do ensino médio. Após alguns Concursos e uma pós-produção adequada do material, ter-se-á uma  coletânea dos projetos vencedores que se constituirá em excelente e abrangente curso de aperfeiçoamento de docentes em práticas pedagógicas. E montar-se-á, automaticamente, uma equipe de “craques” do magistério: serão os próprios vencedores e melhores colocados dos diversos certames, provavelmente residindo em vários locais diferentes, que poderão funcionar como rede capilar para realizar diversas tarefas importantes: atuar como propagandistas, instrutores e multiplicadores dessas coleções didáticas, dar treinamentos, palestras, participar de Seminários Operacionais. O material didático de qualidade, assim produzido, é passível de concorrer a financiamento dos programas de material didático do MEC. Há uma gama ampla de possibilidades dentro da lógica deste projeto, extensível a outros níveis de ensino e até para atingir mais diretamente os jovens talentosos que estão na fase de escolher a profissão. Com a continuidade, esta série de Concursos será um poderoso instrumento de política educacional. Independente, democrático, fundamentado no mérito.

VIAGEM AO PASSADO

O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca... Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência In...