terça-feira, 14 de janeiro de 2020

VIAGEM AO PASSADO


O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca...
Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência Internacional de Alfabetização de Persépolis, como Presidente do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e representante do Governo brasileiro. Viajei com meu Chefe de Gabinete, Marcos de Carvalho Candau, que já tinha familiaridade com a nação persa e seu programa de alfabetização, dirigido pela nossa anfitriã, a Princesa Ashraf  Pahlavi, irmã gêmea do Xá Rheza Pahlavi, o supremo governante do país.
Persépolis, local do evento, é um desses cenários mágicos de nosso planeta. Cidade  monumental  da Antiguidade que Dario mandou erigir em 515 a.C, para substituir Pasárgada como capital do Império Aquemênida,  Persépolis foi consecutivamente ampliada por seu filho Xerxes I e seu neto Artaxerxes I. Funcionava como capital cerimonial, para as festas do ano novo e para a prestação de contas dos sátrapas – os Governadores das províncias anexadas à Persia, que viajavam com delegações das nações subjugadas e homenageavam o Imperador, levando-lhe oferendas das terras conquistadas.
Foi em um complexo de tendas luxuosas, ao lado de Persépolis, em 1971, que se hospedaram os Chefes de Estado convidados pelo Xá para a comemoração dos 2.500 anos da fundação do Império Persa por Ciro, o Grande. Foi uma comemoração das mais requintadas e dispendiosas do mundo no século XX.
A impressão que o Irã de 1976 me deu foi das melhores. O progresso material explodia por todos os lados, lastreado principalmente nas reservas e na produção gigantesca de petróleo e seus derivados. As reformas em curso no país focavam em maior liberdade para a população em geral, mas principalmente para as mulheres, então relegadas a um papel social subalterno nas sociedades predominantemente muçulmanas.
Conhecemos também Shiraz, onde a Princesa Ashraf possuía um palácio belíssimo, no qual recebeu os participantes da Conferência para um jantar inesquecível para pobres mortais como nós. Nessa noite a Princesa mostrou grande deferência para com o Brasil, convidando-me a sentar junto a ela – que estava isolada, em lugar de honra. Conversamos sobre variados assuntos a a noite fluiu muito agradável. Marcos Candau, um diplomata nato, ficou entusiasmadíssimo com essa demonstração de prestígio internacional do MOBRAL. Roger Garaudy, uma celebridade, filósofo francês de origem católica, foi o único participante da Conferência, além de mim, a ter essa conversa reservada com a anfitriã. Ele durante a refeição e eu na sobremesa...
Essa amizade pelo Brasil, trouxe a Princesa a nosso país em 1978.
Em 21/08/1978 recepcionei a Princesa Ashraf  que visitou a sede do MOBRAL no Rio de Janeiro e conheceu, com grande admiração, as realizações pioneiras do órgão no campo da educação continuada, como a Alfabetização pela TV, o Programa de Autodidatismo, o Programa de Tecnologia da Escassez e o Programa de Ação Comunitária. A foto mostra nosso reencontro à entrada da Presidência do MOBRAL, na Ladeira do Ascurra, Cosme Velho, Rio de Janeiro.
Um episódio interessante ocorreu logo à chegada de Ashraf Pahlavi, quando a apresentei à equipe de recepção, composta por um ex-Embaixador, uma ex-Embaixatriz e...uma PRINCESA! Sim, a Princesa Isabel de Orleans e Bragança, da Família Imperial brasileira, que era funcionária do MOBRAL, uma instituição em que tudo parecia acontecer na hora certa, de modo perfeito. A Princesa iraniana, visivelmente surpresa, desfez-se em gentilezas e certamente sentiu-se muito confortável com a companhia da nossa caríssima Isabel.
Em uma de minhas muitas idas a Paris precisei visitar o Escritório da Delegação do Brasil junto à UNESCO, que ficava na Rue de Miollis 1. Normalmente meu trabalho se dava na sede da instituição, na Place de  Fontenoy.7. Essa ida ocasional me propiciou o contacto com uma das funcionárias da Delegação que me atendeu muito eficientemente. Era Isabel, poliglota, gentilíssima, que dominava perfeitamente as tarefas que lhe eram atribuídas. Posteriormente, quando Isabel manifestou o desejo de voltar ao Brasil, foi contratada pelo MOBRAL, ao qual prestou excelentes serviços na área de Relações Internacionais. O MOBRAL, durante minha gestão, deu assistência técnica a 23 países e Isabel foi sempre utilíssima na realização desses trabalhos.


A visita da Princesa Ashraf foi um sucesso e uma vitória diplomática do Brasil.




 Com a Revolução dos Aiatolás, em 1979, porém, o Irã sofreu um recuo cultural sem precedentes, mergulhando 200 anos para um passado teocrático, radical, opressivo e cruel.

O incrível é que o Irã está atualmente na moda exatamente por ser um país “démodé”

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