terça-feira, 3 de junho de 2014

BRASIL: SAÚDE PARA TODOS (OS BOLSOS)


A nossa demagógica Constituição de 1988 garante que o atendimento em saúde é um direito de todos os brasileiros mas a realidade é bem diferente.
A OMS publicou  recentemente as Estatísticas Sanitárias Mundiais atualizadas, em seu site  (http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2014/world-health-statistics-2014/es/), dando conta dos expressivos progressos mundiais no aumento da expectativa de vida e da longevidade do ser humano. A esperança de vida dos nascidos em 2012  era de 73 anos para mulheres e 68 anos para homens - aumento, em média, de 6 anos em relação a 1990.    
O Brasil foi muito beneficiado nesse aspecto (8 anos de aumento) e está envelhecendo com rapidez. Em 2000 nossos idosos eram 14,5 milhões, equivalentes a 8,6%  da população global.  Segundo estimativas do IBGE, a atual população total do país é de 202,5 milhões de habitantes, dos quais 22,3 milhões (11%) com 60 e mais anos de idade. Quem está entrando hoje na terceira idade no Brasil tem uma perspectiva de viver mais 20 anos e quem chega agora aos 77 anos (como eu) viverá em média mais 11 anos. Muito bom, para um país ainda com tantos problemas graves.  Para muitos analistas, um resultado até surpreendente.
O salto de nossa longevidade resultou em parte do crescimento econômico brasileiro, propiciando melhor qualidade de vida à população em geral, mas teve uma grande contribuição do progresso científico mundial, que facultou o acesso barato às vacinas e medicamentos. Edward Jenner, que desenvolveu a primeira vacina (contra a varíola) no fim do século 18 e Fleming, que descobriu o primeiro antibiótico nos anos 40 do século 20,  permitiram uma revolução terapêutica a baixo custo, após a II Guerra Mundial, na medida em que a indústria farmacêutica se aperfeiçoou e passou à produção em massa.
O panorama brasileiro seria ainda mais favorável se nossas deficiências notórias nas áreas de habitação, saneamento, educação, segurança e saúde pública fossem amenizadas. Em um país repleto de favelas, sempre insalubres e geralmente dominadas pelo crime organizado, com um passivo de 60 mil mortes violentas a cada ano, utilizando equipamentos públicos de saúde sucateados, com populosas áreas urbanas sem saneamento, ministrando educação básica de péssima qualidade, é quase um milagre que tantos cheguem à terceira idade. Pena, também, que esse fenomenal alongamento da vida não seja acompanhado pelas providências cabíveis em todos os setores da vida nacional, de modo a atender adequadamente os idosos. Os aspectos específicos de saúde e nutrição, habitação e meio ambiente, família, proteção do consumidor, bem estar social e educação, além da geração de emprego e renda mereceriam melhor tratamento das políticas públicas para a terceira idade. Sempre com o sentido final de assegurar autonomia, participação,  proteção social e dignidade ao idoso. Velhice sem qualidade de vida é tortura...
Um bom sistema de saúde, logicamente, é essencial para a população em geral e os idosos em particular. Aí está a sintonia fina que conduz à  longevidade. Mas no Brasil a desigualdade no caso da saúde é enorme, pois o acesso às novas tecnologias e materiais empregados na  medicina diagnóstica e curativa moderna, fator de aumento da longevidade, não é  barato. No Brasil o gasto em saúde é de US$ 1.000/habitante/ano. Na Alemanha a despesa per capita atinge US$ 4.500 anuais, o que explica nossas deficiências na saúde pública. Ricos e remediados brasileiros pagam duas vezes para ter um bom atendimento. Primeiro, honrando suas obrigações com os pesados impostos - que alimentam as torneiras incontroláveis das despesas governamentais; depois, para livrar-se dos péssimos serviços públicos de saúde, prestados à população em geral, pagando por atendimento privado de qualidade.
A medicina brasileira de ponta permitiu-me sobreviver a 45 anos de tabagismo e chegar ao século XXI, saindo incólume de duas cirurgias de alta complexidade. Nas últimas semanas, usufruí das benesses de um plano de saúde de qualidade e tive o privilégio de ser operado pela equipe chefiada pelo Dr. Marcus Humberto Tavares Gress, um cirurgião endovascular de altíssimo nível. Operação de grande porte, com resultados excelentes .Imediatamente antes e logo após a cirurgia, fui atendido pelo Dr. Robson Chicrala, competente cardiologista/intensivista que afinal me deu alta da excelente Casa de Saúde São José. Naquele estabelecimento, com 90 anos de rica experiência, senti a todo momento o carinho e a dedicação de seus servidores, como as enfermeiras Flávia e Roberta que pacientemente cuidaram de mim na Unidade de Terapia Intensiva. A nobreza de sentimentos é essencial na Medicina,  pois se faltarem a ética profissional, a solidariedade humana e a piedade, um infartado pode agonizar por muito tempo à porta de um hospital de cardiologia de referência (???) sem receber a assistência médica que poderia salvá-lo da morte.

Após vivenciar essa realidade da Medicina de ponta, fica cada vez mais penoso testemunhar na mídia o sofrimento da esmagadora maioria da população brasileira, sujeita às incertezas da saúde pública, que tem traços de alta qualidade em certos momentos e situações, mas é normalmente muito precária.

VIAGEM AO PASSADO

O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca... Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência In...