sábado, 21 de dezembro de 2019

ESPORTE AMADOR: UMA SAUDADE IMENSA



A foto que ilustra  este blog foi tirada na noite de 19 de dezembro de 2019, no Clube Monte Líbano, situado na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Mostra alguns dos ex-jogadores do voleibol oficial fluminense que compareceram ao jantar de confraternização que já se realiza há 26 anos, sempre no mês de dezembro. Alguns, por morarem longe ou pelas conveniências de transporte, já haviam saído e infelizmente não estão retratados. Mas todos, presentes e ausentes, encarnam bem o espírito do esporte amador, o qual permite o privilégio de amizades - inclusive de adversários -  que já duram 50, 60 ou até 70 anos. Um exemplo é a minha convivência com Ronaldo Gomes, meu espetacular levantador nos times de voleibol do Fluminense, por quase 20 anos.
Ronaldo e eu nos conhecemos nos anos 40, quando tínhamos 7 ou 8 anos de idade, morávamos em Ipanema e vivíamos no circuito "Praça General Osório, Rua Visconde Pirajá, Praia de Ipanema". Meu pai, flamenguista, era fã de Vadinho, pai do Ronaldo e ponta direita do time rubro-negro campeão carioca de 1927. Ronaldo era muito admirado pela sua habilidade com uma invejável prancha azul de madeira, na qual fazia bonito, pegando "jacarés" (o vovô do surfe). Além disso, as meninas de Ipanema o achavam um tremendo "boa pinta". Ronaldo não era dedicado ao futebol, como a imensa maioria dos garotos da época. Desde cedo, influenciado talvez pelo irmão Rogério, era mais ligado no voleibol e no esporte da rede acabou sendo um craque, um dos melhores levantadores brasileiros. No meu primeiro ano de voleibol no Fluminense fui seu reserva: em 1953, quando estreei, eu era baixo e levantador. Cresci nas férias seguintes e em 1954 virei cortador. Posição que só abandonei quando meu ombro direito literalmente "acabou", já depois dos 70 anos de idade: rompi todos os tendões (infra e supra espinhoso) e a cabeça longa do bíceps. Isso, após cerca de 960.000 cortadas e saques dados ao longo da vida, segundo estimativa que fiz à época do "desastre".


Ronaldo e eu conhecíamos as respectivas "linguagens do corpo" - a chave para saber qual era a jogada "ótima" para cada situação, durante a dinâmica do jogo. Combinações verbais, "a priori", eram exceção. Atualmente, no voleibol moderno, a grande tarefa das câmeras e computadores é decifrar para o técnico a "linguagem do corpo" do levantador adversário - chave para a vitória.
Nosso encontro, desta vez, contou com a presença da maior autoridade do voleibol oficial: o Presidente da Federação Internacional de Voleibol, Ary Graça, ex-jogador do Botafogo, compareceu acompanhado da esposa e o casal aparece na foto na primeira fileira, entre Barata e Julinho.
Foi uma noite maravilhosa, como em todos os outros encontros. Um privilégio dos atletas do meu tempo!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

ESPORTE AMADOR X PROFISSIONAL


Fui atleta nos tempos em que o amadorismo imperava no esporte brasileiro e agradeço muito e sempre pelo que sua prática me propiciou em termos morais, de socialização, de saúde  e no preparo geral para a vida. O esporte foi uma dimensão importante de minha formação... e continua sendo, para minha existência (ou será sobrevivência?)...
Naquela época, em que só o popularíssimo futebol era profissional – e por isso mesmo, de longe o mais praticado no país - o esporte amador de alto nível tinha grande prestígio social. Era uma atividade de lazer que privilegiava a saúde física e mental. Não era incompatível com carreiras profissionais de sucesso em outras áreas – muito pelo contrário, podendo até ser um facilitador, em função do “networking” que o convívio dos atletas nos clubes lhes propiciava. Mas tinha um problema grave: muito seletivo sob o aspecto social e econômico, geralmente estava restrito à classe média urbana, especialmente àquela fração que frequentava escolas de qualidade ou clubes, onde se dava sua iniciação esportiva.
A seletividade aludida cobrava seu preço: apesar da demografia extremamente favorável, os resultados esportivos internacionais do Brasil – à exceção do futebol profissional - eram pífios. Depois da profissionalização ainda não são os desejáveis e possíveis – pois sofremos as limitações inerentes ao fato de que nossa educação é muito deficiente e prejudica o acesso universal ao esporte diversificado. Todavia, pelo menos em certas modalidades, bem administradas, o progresso foi inegável, graças à massificação do acesso às oportunidades de sua prática. O voleibol, por exemplo, incorporou todas as classes sociais, graças às escolinhas e às “peneiras” bem planejadas, ocupando hoje uma posição hegemônica no âmbito mundial.
A profissionalização do esporte proporcionou a inclusão e esta o aproveitamento da grande riqueza demográfica brasileira, sempre que os dirigentes das várias modalidades souberam aproveitar o potencial de nossa população jovem.
A inclusão pelo esporte tem implicações humanas notáveis. O atleta profissional de ponta vai livrar da miséria e dar uma vida digna a sua família. Essa inclusão do atleta se propaga para os familiares, os quais terão oportunidades na educação e no esporte - que lhes eram negadas anteriormente pelas circunstâncias inerentes à pobreza.
Exibida no canal +GLOBOSAT, a série “Essa é a minha família”, um dos meus favoritos na TV, é muito bem conduzida por Izabel Salgado – conhecida craque do nosso voleibol. A produção demonstra grande sensibilidade na escolha dos atletas participantes - “heróis e heroínas” do programa. Resumindo seu conteúdo, Izabel visita a família de astros e estrelas de nossos esportes olímpicos e paraolímpicos, convive com seu cotidiano, mostra suas origens e transmite histórias de vida interessantes e edificantes. A essência humana do programa é insuperável. Foi emocionante o último capítulo que vi, focalizando a atleta paraolímpica Rosinha, que foi atropelada por um caminhão e perdeu uma perna aos 18 anos. Rosinha superou-se e se tornou campeã e recordista internacional nos arremessos de peso e disco. Um fenômeno!
O programa “Essa é a minha família” dá bem a ideia do formidável e maravilhoso impacto social do esporte profissional para as famílias de baixa renda.
Para que nosso esporte progrida ainda mais, falta-nos a escola de qualidade, universal, para todas as classes sociais e não apenas para uma elite restrita.
Caso eu tivesse tido o cargo de Secretário ou Ministro da Educação, todas as escolas sob minha gestão seriam equipadas com uma horta, um quiosque de reciclagem e uma mini-quadra esportiva, afora algum ambiente - específico para cada comunidade - capaz de atrair as famílias dos estudantes para encontros periódicos e atividades em conjunto. Além disso, apoiaria fortemente os projetos esportivos para jovens das favelas e periferias urbanas. Um concorrente à altura para a sedução dos tóxicos e do seu tráfico criminoso.

VIAGEM AO PASSADO

O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca... Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência In...