A execução de um programa visando melhorar a
qualidade da educação brasileira é, atualmente, a maior das prioridades
nacionais.
Os vários programas de controle de qualidade comprovam
a triste realidade de um ensino
precário, especialmente nos sistemas públicos de educação básica. Evidenciam,
por outro lado, as grandes desigualdades de qualidade entre as escolas
componentes do sistema. Confirmam, em última análise, a desconfortável posição brasileira no teste PISA, da OCDE, aparecendo sempre nas últimas
colocações dentre os países participantes. Corroboram, também, os rankings
internacionais em que nossas melhores Universidades figuram sistematicamente
classificadas atrás de uma ou duas centenas das melhores instituições
estrangeiras, rankings nos quais nossas atividades no setor científico-tecnológico são consideradas
irrelevantes.
Os efeitos mais visíveis dessa “não-qualidade” são
os inúmeros e angustiantes problemas com os quais nos defrontamos diariamente
como sociedade organizada. No plano mais concreto da economia, tudo fica muito
evidente: país deficiente em educação perde competividade e mercados a cada ano;
a negligência duradoura em relação ao treinamento profissional resulta em
“apagão” de qualificação da força de trabalho, alta rotatividade da mão de obra
e baixa produtividade; a falta de inovação e as deficiências gerais de gestão
pública têm também, como pano de fundo, uma educação ruim. Todo esse cenário
adverso é responsável pela pior e mais odiosa das perdas: a de preciosos
recursos humanos. Uma parte da população brasileira, excluída pela falta de
oportunidades naturalmente geradas quando há uma educação de qualidade, pouco
pode contribuir para o bem comum e o faz muito abaixo do que seria possível se
existisse uma boa escola pública e gratuita.
Ao mesmo tempo, nosso país está superpovoado de
programas de controle de qualidade da educação, coordenados pelo MEC. Os
críticos mais enfáticos afirmam tratar-se de uma centralização que não respeita
exatamente a maior riqueza deste país continental: sua diversidade. Para essa corrente, o Governo Federal promove
uma tentativa de tudo querer saber e controlar, ignorando vontades e liberdades
individuais à moda BIG BROTHER (vide “1984”, de George Orwell). Crítica
talvez exagerada, até porque o controle
de qualidade em educação é indispensável. O que deveria ser levantado como
crítica, certamente, é que controlar
qualidade não é o mesmo que melhorar qualidade. E nisso o Governo realmente deixa a desejar...
Outra crítica a considerar é que desde que o controle de qualidade virou moda e
se multiplicou no Brasil nos últimos anos, os gastos correspondentes tornaram-se
extremamente elevados. Aí cabe a pergunta: não seria mais
razoável usar esses mesmos e vultosos recursos para efetivamente melhorar a
qualidade do sistema? O mundo todo já sabe
que a qualidade da educação brasileira é medíocre e não é preciso mais nenhuma
prova disso.
Realmente, o controle de qualidade na educação brasileira
precisa sofrer uma verdadeira revolução. Essa medida é urgente, em especial devido à evolução quantitativa e à
diversificação da Educação a Distância, um produto totalmente distinto da
educação presencial e que merece um enfoque específico de vigilância da
qualidade..
• AGÊNCIA NACIONAL DE QUALIDADE DA EDUCAÇÃO (ANVIQUE)
É chegada a
hora de se criar, no Brasil, uma AGÊNCIA
NACIONAL DE VIGILÂNCIA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO! - órgão
nascido desse desejo de dispor de um motor de promoção da melhoria qualitativa
da educação nacional.
Precisamos de uma agência reguladora caracterizada
pela independência administrativa, estabilidade de seus dirigentes durante o
período de mandato e autonomia
financeira. Na estrutura da
administração pública federal, a agência seria vinculada mas não subordinada ao Ministério da
Educação, e sobretudo isenta da burocracia esterilizante que caracteriza o MEC.
Aliás, ao lado da criação da agência, impõe-se uma grande reforma
administrativa no MEC, um dinossauro extremamente caro, que ultimamente não
pode queixar-se da falta de verbas, mas do qual os contribuintes podem
queixar-se pelo desleixo em relação aos recursos que distribui. Seus dispêndios
com as ONGs amigas merecem uma atenção especial e dão uma tremenda trabalheira
ao Tribunal de Contas da União, Ministério Público etc. A duplicação de
atribuições, a falta de coordenação interna, e os inúmeros e repetidos erros
grosseiros, como os cometidos na realização do ENEM, já custaram muitos milhões
ao contribuinte. Quando se ouve a declaração de que haverá uma destinação de
10% do PIB para a educação, os temores devem aumentar exponencialmente, pois o
problema da nossa educação deficiente é muito menos a falta de recursos e muito
mais o gasto equivocado, desviado de sua finalidade, multiplicador do que está
errado.
A Agência teria como área de atuação todos os
setores relacionados à qualidade da educação da população brasileira. Seria um
órgão para fazer estudos e pesquisas aplicadas, promover experimentos,
estimular a inovação, premiar as boas práticas e punir a fraude e o ensino de
má qualidade. Órgão para lutar permanentemente por essa melhoria qualitativa e ordenar/coordenar os
esforços que já estão sendo realizados nesse sentido. ANVISA, ANP, ANEEL,
ANATEL, ANSS e muitas outras estão aí, atuando... Uma agência especializada para intervir no
mais grave problema brasileiro não seria também oportuna? Sabemos todos, no
Brasil, que algumas Agências são criaturas inteiramente dóceis aos seus
criadores – que estão ou estiveram no poder – mas é preciso correr esse risco,
que dependerá muito da legislação de sua criação e regulamentação e da
qualidade intelectual e moral de seus dirigentes.
Essa medida de criação de uma agência especializada
no Brasil é compatível com uma das premissas em que se deveria basear um
programa visando elevar a qualidade da educação brasileira: o controle de
qualidade como tarefa rotineira dentro do sistema de ensino. Com um enfoque no
qual, porém, deve-se atribuir aos alunos e seus responsáveis um papel de relevo
nesse controle. Exatamente como ocorre atualmente, de forma corriqueira, com o
consumidor de bens em geral. A fiscalização
por parte de agentes governamentais deve existir, mas ser minimalista. A do
consumidor, essa sim, deve ser intensiva e onipresente. Recordemos a menina, aluna em Santa Catarina,
e os efeitos de suas notícias singelas
sobre sua sala de aula e sua escola, apenas descrevendo seu cotidiano, mas
suscitando até ameaças e represálias, o que prova a força da palavra
denunciadora, partida dos estudantes. É
do clamor público que pode nascer a educação de qualidade no Brasil.
A luta pela melhoria da qualidade da educação é
obviamente universal e já temos inclusive modelos que deverão ser observados. O
Chile criou recentemente (2012) uma agência especializada em qualidade da
educação, um atestado da dificuldade encontrada por aquele país ao enfrentar
essa questão. A Espanha, desde 2002, tem sua ANECA - Agencia
Nacional de Evaluación de la Calidad y
Acreditación, que é uma fundação estatal cujo objetivo é contribuir para a
melhoria da qualidade da educação superior mediante a avaliação, certificação e
acreditação de professores e instituições de ensino.
A sigla ANVIQUE - Agência Nacional de Vigilância da
Qualidade da Educação sugere propositadamente que se pode mudar o triste cenário...
Bom dia, Arlindo!
ResponderExcluirMais uma excelente analise do panorama educacional do nosso país. Aprendo muito lendo seus textos, principalmente com seu poder de síntese. Obrigado.
JR.