Políticos com más intenções, visando seus objetivos de
poder, sempre iludiram os trabalhadores brasileiros de boa fé. Como os conceitos
técnicos referentes às estatísticas de emprego são de difícil entendimento,
inclusive para as pessoas de elevado nível cultural, esse tema sempre foi um dos mais explorados por esses mestres do
charlatanismo.
Durante a última campanha eleitoral um Deputado da Oposição,
guiado pelo bom senso, protestou: “como é que o Governo Federal diz que o
desemprego é reduzido em nosso país se ao mesmo tempo afirma que 54 milhões de
brasileiros são beneficiados com o programa Bolsa Família? Quem recebe Bolsa
Família não está trabalhando!” A dúvida é cabível, mas a questão é mais
complicada do que parece.
Tecnicamente, o desemprego tem uma definição, aceita
internacionalmente, que é muito restritiva na caracterização de quem está
desempregado. Para ser considerado desocupado
o indivíduo deve preencher simultaneamente algumas condições: (a) deve ter
idade para trabalhar, (b) fazer parte da população economicamente ativa e (c) estar
procurando uma ocupação em um determinado período de referência considerado no
levantamento estatístico. Note-se
que os requisitos (b) e (c) são atos de volição do indivíduo, o qual só faz
parte da população economicamente ativa e só procura emprego se assim o desejar.
Caso não o queira, nem por isso será considerado desocupado do ponto de vista da
boa técnica estatística. Fará parte de um grupo populacional específico descrito
como Fora da Força de Trabalho.
Assim, mesmo os beneficiários adultos do programa Bolsa Família que não
trabalham, se não estiverem buscando emprego, não são considerados desocupados.
Para talvez ilustrar melhor a questão, pode-se segmentar a
população brasileira sob a ótica do trabalho, mostrando como a situação se
apresentava no 1º. Trimestre de 2014, segundo os dados levantados pela PNAD Contínua
do IBGE, que atualmente é o levantamento estatístico que melhor retrata a realidade
do emprego no Brasil.
Sob o ponto de vista do trabalho, a População Total (PT) do país é dividida de início em dois grandes grupos,
por faixas etárias, considerando-se que só a partir da idade de corte (14 anos
segundo convencionado pelo IBGE) é que as pessoas estão aptas a trabalhar.
A População Total
(PT) do Brasil, naquele momento, 1º. Trimestre de 2014, era de 202 milhões
de habitantes. A População com 14 e mais
anos de idade, formava a chamada População
em Idade de Trabalhar (PIA) que era então
de 173 milhões de habitantes (86% da PT). A População restante, com menos de 14
anos, era então de 29 milhões (14% da
PT), não sendo levada em conta nas estatísticas de trabalho.
Uma parte expressiva da PIA
está fora do mercado de trabalho, parcela esta que alguns chamam de População Inativa, outros de População Não Economicamente Ativa (PNEA) e
o IBGE denominou de População fora da
Força de Trabalho na PNAD Contínua. Esse
grupo reunia 75 milhões de pessoas, representando 43% da PIA e 37% (mais de um terço!) da População Total do país.
A População
Economicamente (PEA) ou População na Força de Trabalho, à época somando 98
milhões de trabalhadores, constituía o universo que é considerado para se medir
a desocupação. A PEA se divide em dois grupos. No período enfocado, o grupo que estava trabalhando,
isto é, a População Ocupada (PO) era
de 91 milhões e a População Desocupada (PD) e à busca de emprego, era de 7 milhões de trabalhadores. A taxa de
desocupação, pela definição técnica do IBGE, era então de 7,1% (7 milhões desocupados no total de 98 milhões
de trabalhadores na força de trabalho).
Esse número, desfavorável, foi omitido pela mídia e em
nenhum momento utilizado pelos oposicionistas, que aparentemente não o
conheciam. Os governistas, espertamente, usaram e abusaram da menção às taxas
de desocupação mensalmente levantadas pelo mesmo IBGE em apenas seis regiões
metropolitanas do país (de SP, RJ, BH, PA, RE e Salvador). São taxas de
desemprego consideravelmente mais baixas que no restante do país. Longe de representar a nova realidade
brasileira, com interiorização crescente e agronegócio próspero, esse levantamento,
denominado Pesquisa Mensal de Emprego (PME) está obsoleto e deverá desaparecer.
Esse tipo de desperdício – fazer levantamentos e pesquisas
de emprego perfeitamente inúteis – é comum no Brasil. Há um exemplo histórico
interessantíssimo e irônico, do qual fui testemunha. Nos governos militares
houve um grande crescimento econômico, muitas obras de infraestrutura e de
habitação, de modo que o desemprego permaneceu muito baixo durante anos
seguidos. Claro que os oposicionistas detestavam essas conquistas da política
econômica nos anos 60 e 70. O que fizeram os intelectuais de esquerda? Tiveram
uma ideia brilhante, gerada no CEBRAP, órgão financiado pela Fundação
norte-americana FORD. Criaram uma espécie de COMISSÃO DA VERDADE DO EMPREGO! MUDARAM
A DEFINIÇÃO DE DESEMPREGO!
A partir daí, os meios acadêmicos e sindicais, dóceis às
ordens da esquerda, passaram a calcular uma taxa de desemprego que embora fosse
fajuta era mais alta que a real e portanto servia a seus desígnios políticos. No
CEBRAP pontificava Fernando Henrique Cardoso, ao lado de outros menos votados.
Mas a verdade é implacável! FHC e sua turma assumiram o
Governo e como se sabe seu desempenho no campo do emprego foi um tremendo fracasso (fato que o PT explorou
muito bem na última campanha presidencial). O desemprego aumentou muito, o
Brasil perdeu milhões de postos de trabalho e a informalidade cresceu
enormemente. Fruto da falta de planejamento. E FHC ainda teve um ônus
adicional. Naquelas alturas já eram feitos levantamentos de desemprego por
entidades esquerdistas com a metodologia fajuta que o CEBRAP inventara para
desmerecer o regime militar: os números do desemprego durante o Governo de FHC eram
sempre de 15% para cima, chegando a 20% ou coisa semelhante. Era uma ironia que
aqueles números irreais fossem atingir em cheio os mentirosos de outrora - que
não podiam protestar!
Excelente análise dos meandros da manipulação da "real realidade" de nosso pais!!!
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