Fui atleta nos tempos em que o amadorismo imperava
no esporte brasileiro e agradeço muito e sempre pelo que sua prática me
propiciou em termos morais, de socialização, de saúde e no preparo geral para a vida. O esporte foi
uma dimensão importante de minha formação... e continua sendo, para minha existência
(ou será sobrevivência?)...
Naquela época, em que só o popularíssimo futebol era
profissional – e por isso mesmo, de longe o mais praticado no país - o esporte
amador de alto nível tinha grande prestígio social. Era uma atividade de lazer
que privilegiava a saúde física e mental. Não era incompatível com carreiras
profissionais de sucesso em outras áreas – muito pelo contrário, podendo até
ser um facilitador, em função do “networking” que o convívio dos atletas nos
clubes lhes propiciava. Mas tinha um problema grave: muito seletivo sob o
aspecto social e econômico, geralmente estava restrito à classe média urbana,
especialmente àquela fração que frequentava escolas de qualidade ou clubes,
onde se dava sua iniciação esportiva.
A seletividade aludida cobrava seu preço: apesar da
demografia extremamente favorável, os resultados esportivos internacionais do
Brasil – à exceção do futebol profissional - eram pífios. Depois da
profissionalização ainda não são os desejáveis e possíveis – pois sofremos as
limitações inerentes ao fato de que nossa educação é muito deficiente e
prejudica o acesso universal ao esporte diversificado. Todavia, pelo menos em
certas modalidades, bem administradas, o progresso foi inegável, graças à
massificação do acesso às oportunidades de sua prática. O voleibol, por
exemplo, incorporou todas as classes sociais, graças às escolinhas e às “peneiras”
bem planejadas, ocupando hoje uma posição hegemônica no âmbito mundial.
A profissionalização do esporte proporcionou a
inclusão e esta o aproveitamento da grande riqueza demográfica brasileira,
sempre que os dirigentes das várias modalidades souberam aproveitar o potencial
de nossa população jovem.
A inclusão pelo esporte tem implicações humanas
notáveis. O atleta profissional de ponta vai livrar da miséria e dar uma vida
digna a sua família. Essa inclusão do atleta se propaga para os familiares, os
quais terão oportunidades na educação e no esporte - que lhes eram negadas
anteriormente pelas circunstâncias inerentes à pobreza.
Exibida no canal +GLOBOSAT, a série “Essa é a minha
família”, um dos meus favoritos na TV, é muito bem conduzida por Izabel Salgado
– conhecida craque do nosso voleibol. A produção demonstra grande sensibilidade
na escolha dos atletas participantes - “heróis e heroínas” do programa. Resumindo
seu conteúdo, Izabel visita a família de astros e estrelas de nossos esportes
olímpicos e paraolímpicos, convive com seu cotidiano, mostra suas origens e
transmite histórias de vida interessantes e edificantes. A essência humana do
programa é insuperável. Foi emocionante o último capítulo que vi, focalizando a
atleta paraolímpica Rosinha, que foi atropelada por um caminhão e perdeu uma
perna aos 18 anos. Rosinha superou-se e se tornou campeã e recordista
internacional nos arremessos de peso e disco. Um fenômeno!
O programa “Essa é a minha família” dá bem a ideia
do formidável e maravilhoso impacto social do esporte profissional para as
famílias de baixa renda.
Para que nosso esporte progrida ainda mais, falta-nos
a escola de qualidade, universal, para todas as classes sociais e não apenas
para uma elite restrita.
Caso eu tivesse tido o cargo de Secretário ou
Ministro da Educação, todas as escolas sob minha gestão seriam equipadas com
uma horta, um quiosque de reciclagem e uma mini-quadra esportiva, afora algum
ambiente - específico para cada comunidade - capaz de atrair as famílias dos
estudantes para encontros periódicos e atividades em conjunto. Além disso, apoiaria
fortemente os projetos esportivos para jovens das favelas e periferias urbanas. Um concorrente à altura para a sedução dos tóxicos e do seu tráfico criminoso.
O lado podre da profissionalização do esporte fica patente e exposto ao mundo com a suspensão da Russia das competições olímpicas, em função do uso continuado do doping, com o apoio das autoridades do país... Uma aberração inacreditável! O doping existia no amadorismo, em doses menores. Com a introdução do interesse econômico ocorreu uma verdadeira explosão dessa ação criminosa.
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