domingo, 23 de março de 2014

AS CADEIRAS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Vi pelas televisões a indignação da imprensa contra a prática comercial de um cursinho pré-vestibular  de Montes Claros. Esse tipo de estabelecimento de ensino, que prepara os estudantes para exames de ingresso na Universidade, é uma resposta clássica do mercado às disfuncionalidades  centenárias da educação básica brasileira. Não existiria se os alunos estivessem realmente prontos ao concluir com êxito (formal) o ensino médio. O cursinho mineiro tem salas em que sentam 100, 200 e até 300 alunos simultaneamente. Geralmente, os professores que dão essas aulas para verdadeiras multidões, dominam os conteúdos curriculares e são quase- artistas, com grande capacidade para motivar e prender a atenção dos estudantes, utilizando-se de truques e meios audiovisuais diversos.  Ainda assim, por motivos variados, o posicionamento favorável dos estudantes na sala tem importância estratégica. Nasceu, por esse motivo, a natural ideia da direção do cursinho  de cobrar um adicional  de quatrocentos reais  anuais daqueles alunos que quisessem gozar do privilégio de uma cadeira cativa nas primeiras filas.  São as tais “cadeiras VIP”, brancas, mencionadas e mostradas nas reportagens indignadas da mídia.
Imediatamente o PROCON e o Ministério Público intervieram e a prática foi descontinuada.  Sanções ao cursinho estão em andamento... Folgo em saber que a prestação de serviços educacionais entrou na pauta dos órgãos de defesa do consumidor e estimo que daqui em diante sejam ampliadas as ações desse tipo, como já aconselhei em blog anterior. O controle de qualidade da educação, alvo de minhas preocupações mais recentes, só será efetivo quando assumir a relevância que já tem a vigilância exercida, pelo consumidor em geral, em relação aos demais produtos e serviços, tornando-se uma prática rotineira da nossa população.
Apesar de “a compra da cadeira VIP” ser facultativa, agiram bem  as autoridades competentes (sic) ao proibi-la, pois a meta do poder público para a educação deve ser a busca, simultaneamente, de qualidade e equidade, pois é exatamente isso que mais falta no Brasil.
PROCON e Ministério Público deveriam agora, por uma questão igualmente de justiça e equidade, levar a endereços mais nobres o mesmo tipo de intimação a que submeteram o modesto cursinho de Montes Claros.  Sugestões?
1)      Visitar Prefeituras e Palácios de Governos Estaduais: ainda agora, ao final de março de 2014, há mais de um milhão de estudantes da escola pública brasileira ainda sem aulas, por motivos os mais variados: greves diversas, déficits crônicos de professores, absenteísmo exagerado dos quadros docentes, licenças médicas fajutas para mestres preguiçosos, falta de transporte escolar ou de uniformes para os alunos do ENCINO (assim estava escrito nas camisas compradas pelo governo) público e assim por diante. Reflexo da péssima atenção que o Brasil dá a sua educação e da gestão irresponsável das autoridades competentes (rsrsrs). Falta de planejamento, incapacidade de prever o previsível, cumplicidade com auxiliares desidiosos, interesses eleitoreiros espúrios, enfim uma constelação de equívocos.  Por tudo isso, intimá-los...
2)      Acampar na Esplanada dos Ministérios, em frente ao MEC e ao MTE, desviando parte dos fiscais para o Palácio do Planalto:
a) no momento atual, o governo faz um grande e louvável esforço para ministrar educação profissional inicial e continuada a milhões de trabalhadores pelo PRONATEC, em virtude de o Ministério do Trabalho ter sumido com as verbas do FAT que nos últimos 12  anos  deveriam ter treinado nossos jovens, provocando assim um “apagão de mão de obra sem precedentes”. A produtividade de nossa indústria caiu; nossos serviços estão caríssimos, em função dos desperdícios causados por trabalhadores desqualificados;  a mão de obra rural, cada vez mais problemática, está sendo substituída massivamente por máquinas. O grande problema é que os candidatos que chegam ao PRONATEC não são treináveis de imediato! Motivos: não sabem ler e entender uma folha de instruções; não sabem fazer cálculos simples de soma e subtração e assim por diante.  Causa, uma só: receberam uma educação básica de péssima qualidade.
b) o Brasil tenta distribuir  mais de 100 mil bolsas de estudo gratuitas no exterior para as Universidades, mas acaba de descobrir que não há candidatos em número suficiente! Motivo: falta de proficiência no domínio de uma segunda língua. Causa, a mesma: receberam uma educação de péssima qualidade.
UM APELO:
Autoridades competentes do PROCON e do Ministério Público, por favor: intimem nossa Presidente e seus Ministros, pois eles também cobram dos contribuintes brasileiros pelas “cadeiras VIP da educação”. Se você, caro leitor, quer dar uma educação decente a seus filhos, além do que já sangra pelos impostos escorchantes dos governos,  pague por uma cadeira branca em um bom colégio particular, desses que estão sempre nos primeiros lugares do ENEM. Caso contrário, seus filhos vão sentar lá atrás, como a maioria do nosso povo, milhões de brasileiros que vão ficar pelo resto da vida no fundo da sala, sem ver, sem ouvir, sem entender.



3 comentários:

  1. Bravo Arlindo,
    Grato por mais esta ilustração da realidade brasileira. Tomo a liberdade de sugerir um próximo artigo que seria a continuidade do atual. A lembrança que me ocorre partiu do Prof. José Pacheco: "Temos escolas do séc. XIX, professores do séc. XX e alunos no séc. XXI". Creio que as informações que nossos professores recebem em seus cursos acadêmicos, além de Metodologia e Pedagogia, carecem em muito de observarem o que ocorre nas TICs, O que acha?

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    1. Ótimo comentário, caro Roberto. O Prof. José Pacheco acertou em cheio. Assim que puder seguirei sua recomendação. Grato, Arlindo

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  2. "A ciência vai transformar a sala de aula" (Kosslyn)

    Após o seu restabelecimento estaremos todos aguardando seus dizeres. Enquanto isto, vou postulando alguns assuntos que se nos apresentam na mídia. Entre eles, a excelente entrevista na VEJA (nº14, 2 de abril/2014) concedida a Helena Borges de um dos grandes pesquisadores na área cognitiva, Stephen Kosslyn. Afirma ele que o conhecimento do cérebro é a chave para aprimorar o aprendizado e inserir a escola no século XXI. Sem dúvida, refere-se ao comentário que postei anteriormente. Recomendo a leitura da entrevista desenvolvida nas páginas amarelas da revista. Em outros pontos, dois outros articulistas comentam sobre Educação, um deles sobre avaliação de professores, uma receita que você já recomendou em suas postagens.

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