Ensino de qualidade tem que incluir a educação física como
matéria obrigatória e propiciar oportunidades reais de prática desportiva aos
estudantes.
Quando fui membro do CFE - Conselho Federal de Educação (atual
CNE - Conselho Nacional de Educação), no
início da década dos 70, participei da elaboração da Reforma do Ensino Primário
e Médio, consubstanciada na Lei no
5.692, de 11 de agosto de 1971. Lutei e
votei pela obrigatoriedade da prática da educação física e desportiva no
sistema educacional brasileiro. Posteriormente, aprovada a lei, fui escolhido Relator da regulamentação dessa
obrigatoriedade no Conselho. À época eu dirigia o CNRH – Centro Nacional de
Recursos Humanos do EPEA (hoje IPEA) que produziu o I Diagnóstico da Educação
Física e Esportes no Brasil e que a seguir coordenou a elaboração do I Plano
Nacional de Educação Física e Esportes, um marco histórico desse setor. Minha informação a respeito estava bem
atualizada. Atleta de voleibol do
Fluminense e ex-jogador da Seleção
brasileira, meus colegas do CFE consideraram
minhas credenciais suficientes para que
eu realizasse o trabalho. Fui assessorado pelos Professores Lamartine Pereira da Costa e
José Garcez Ballariny, do EPEA, cuja colaboração foi decisiva.
Ao correr do tempo,
não só pela evolução tecnológica da sociedade moderna – um convite permanente e
sedutor ao sedentarismo – mas pela minha
própria observação do cotidiano – verificando
que a boa qualidade de vida está no
equilíbrio entre trabalho e lazer, atividades físicas e intelectuais –
considero que aquela legislação do CFE foi uma ótima contribuição à educação brasileira. Esporte e educação física são fundamentais
para nossa formação.
O esporte tem notável
influência positiva na socialização, na saúde física e mental, contribui
para uma visão equilibrada e regrada da competição, impõe a aceitação da
natural alternância entre vitórias e derrotas durante a vida, estimula o
companheirismo, a lealdade, a pertinácia e beneficia muitos aspectos importantes da esfera
psicossocial. O esporte é um efetivo
antídoto contra a proliferação das drogas e da violência, além de um fator de
ascensão social cada vez mais importante,
à medida que o esporte escolar vai permitindo aos adolescentes e jovens pobres
a oportunidade de revelar seus talentos. O
que não acontece com os dotes intelectuais dos alunos carentes,
sufocados por uma escola de má qualidade, que não oferece a base de
conhecimentos de que necessitam para tentar o ingresso na Universidade e trilhar
os caminhos nobres da ciência, da tecnologia e da prática profissional de
ponta. Na escola de qualidade vão surgir as vocações de futuros atletas - que irão percorrer o trajeto
esporte-profissão, entrando em um
importante segmento do atual mercado de trabalho e das relações
internacionais, cujas tendências futuras de crescimento são extremamente promissoras.
Na escola de
qualidade também devem nascer os hábitos
da prática sadia da atividade física para toda a vida e a educação da educação
física presta-se maravilhosamente às abordagens transversais, que permitem
enfocar problemas sérios que crescentemente vão acometendo nossa sociedade.
Temas não faltam: o combate aos vícios em geral, seja do uso de drogas lícitas (como o fumo e o
álcool) como das ilícitas; a conscientização acerca da futilidade do falso
culto ao corpo; o perigo dos excessos comuns em
alguns centros de preparação física, tanto na intensidade dos exercícios
em si quanto no uso de substâncias que
prometem força e beleza a curto prazo, mas cobram um alto preço em saúde. Todas
essas questões têm que ser enfocadas pelos bons professores de educação física
com seus alunos - crianças, adolescentes ou jovens.
Não custa repetir que são múltiplas e cada vez mais
eloquentes as pesquisas na área médica consolidando a atividade física como um
dos mais importantes fatores de higidez, de melhoria da qualidade de vida e aumento da longevidade.
Embora ainda sujeitas a controvérsias, investigações recentes tendem a mostrar
a igualmente importante contribuição dos exercícios físicos para o
desenvolvimento do intelecto. Pesquisadores da Escola de Medicina da
Universidade de Boston (BUSM) encontraram evidências de que a atividade física
é benéfica para a saúde do cérebro e para a cognição. Certos hormônios, secretados durante o exercício, ajudariam a
melhorar a memória. Em outro estudo,
publicado em outubro de 2013, o Dr. Bruce Spiegelman, do Instituto Dana-Farber Cancer e
Harvard Medical School relatou que uma molécula chamada FNDC5 e seu subproduto,
irisina, tornam-se elevadas no cérebro quando fazemos exercícios de resistência. Spiegelman e a sua equipe também descobriram
que aumentos nos níveis de irisina estão na origem da melhoria da capacidade da
neurogênese - crescimento de novos
neurônios. Querendo saber mais, leia o Apêndice.
MENS SANA IN CORPORE SANO
Tive o privilégio de estar no sítio arqueológico de Olímpia, cidade-berço da competição entre os maiores atletas da Grécia
Antiga, origem das Olimpíadas modernas. Foi em
776 a.C que se realizou o primeiro
torneio, que se repetiria de quatro em quatro anos, suspendendo as guerras
eventualmente em andamento, até que o
imperador romano Teodósio I o suprimiu em 394. Senti uma intensa emoção ao
visitar o estádio e imaginar como seriam então os Jogos, origem de um tipo de atividade
humana que me deu tantas alegrias, oportunidades e inculcou-me a perseverança e
muito vigor para a luta por toda a vida. Recordei que ali se fundiam, harmoniosamente, esporte e arte. Fídias, o maior dos
escultores gregos, mantinha em Olímpia um ateliê que ocupava durante os Jogos, ao
lado do Templo de Zeus. Deus que Fídias representou
em uma gigantesca estátua em marfim e
ouro, considerada uma das sete
maravilhas do mundo antigo.
Durante muito tempo, vários Diretores de escolas brasileiras
apresentavam a falta de espaço como álibi para não oferecer a atividade
esportiva a seus alunos. Conversa fiada...
Escola cujo objetivo seja ministrar
ensino de qualidade inclui os esportes
e a educação física dentre as
atividades preferenciais oferecidas a seus alunos, usando de todos os meios
para consegui-lo. No site http:// www.procrie.com.br
-
mantido pelo Professor Roberto
Pimentel - qualquer interessado obterá,
por exemplo, as informações pertinentes
para usar o minivoleibol como centro das atividades esportivas/educativas na
escola, com a grande vantagem da ampla abrangência etária de praticantes
potenciais, dos baixos custos dos materiais
usados e dos pequenos espaços requeridos para sua prática. Melhor ainda
se o Prefeito se interessar em obter uma assistência técnica específica de
Roberto Pimentel para sua implantação no
sistema de ensino público do Município.
APÊNDICE: “Exercising Intelligence: How research shows a link between physical activity and smarts”. Autoria de Jay Bonaretti
Um grande estudo realizado na Academia Sahlgrenska e pelo Hospital Universitário Sahlgrenska , em
Gotemburgo , na Suécia, revela que os jovens adultos que se exercitam
regularmente têm escores de QI mais altos e são mais propensos a ingressar na
universidade .
O estudo foi publicado na revista Proceedings, da Academia
Nacional de Ciências (PNAS) , e envolveu mais de 1,2 milhões de homens suecos .
Os homens estavam realizando o serviço militar e nasceram entre os anos de 1950
e 1976 . Ambos os resultados dos testes físicos e de QI foram revisados pela
equipe de pesquisa . Os resultados da análise revelam uma clara ligação entre a
aptidão física e os resultados dos testes de QI. Em particular, a compreensão
verbal e o pensamento lógico mostram maior associação com a aptidão. No entanto , a força não foi associada com um
aumento no QI.
"Estar em forma significa que você também tem bom
coração e capacidade pulmonar e que seu cérebro fica cheia de oxigênio ",
diz Michael Nilsson, professor da Academia Sahlgrenska e médico -chefe do
Hospital da Universidade de Sahlgrenska . "Esta pode ser uma das razões
pelas quais nós podemos ver uma ligação clara com a aptidão , mas não com a
força muscular. Nós também observamos
que existem fatores de crescimento que são importantes."
Os pesquisadores também analisaram os dados de gêmeos e
concluíram que fatores ambientais são mais importantes que a genética na
associação entre QI e fitness. "Também mostramos que esses jovens que
melhoraram a sua aptidão física entre as
idades de 15 e 18 anos também aumentaram
o seu desempenho cognitivo ", diz Maria Åberg , pesquisadora da Academia
Sahlgrenska e médica no Centro de Saúde DBY. " Sendo este o caso , a
educação física é um assunto que tem um lugar importante nas escolas, e é uma
necessidade absoluta , se quisermos obter bom desempenho em matemática e outras
disciplinas teóricas. "
Outro resultado interessante da análise foi a descoberta de
que aqueles que estavam mais aptos na idade de 18 anos eram mais propensos a frequentar a
universidade e a encontrarem melhores empregos no mercado de trabalho.
O estudo foi realizado no Centro de Reparação e Reabilitação
Cerebral de Gotemburgo, em conjunto com o Karolinska Institutet .
Referência:
Aberg MA, Pedersen NL, Toren K., Svartengren M., Bäckstrand B., T. Johnsson ,
Cooper- Kuhn CM , Aberg ND, Nilsson M., Kuhn HG (2009). Aptidão
cardiovascular está associada com a cognição na idade adulta jovem . Proc . Natl . Acad . Sci . U.S.A.
106 , 20.906-20.911 (“Exercising Intelligence: How research shows a link
between physical activity and smarts” in
Site http://www.ironmanmag.com.au, Capturado em 06/03/2014)
Arlindo,
ResponderExcluirEstarei vinculando seus artigos maravilhosos não só no Procrie, como também no CEV - Centro Esportivo Virtual (cev.org.br/) um dos maiores sítios nacionais sobre Educação Física e Esportes. Agradeço a referência ao meu trabalho, que não é só meu. pois há muita inspiração de sua parte. Neste momento, desenvolvo artigos que tratam exatamente de como resolver problemas baseados nós princípios da heurística de G. Pólya e em design thinking. Façam uma visita e opinem, pois preciso de muita ajuda para a concepção de minhas pesquisas educacionais. Lembrando a todos que tais princípios se aplicam a qualquer atividade humana ou a qualquer desporto. Permaneço seu maior admirador em ciência educacional. Grato por ter-me entre seus amigos.
Arlindo,
ResponderExcluirAgradeço a menção ao trabalho que venho realizando no Procrie em favor de uma Educação Física e Esportes na Escola de Qualidade. Devo consignar que já arrebanhamos, digo assim porque você também faz parte desse time, aproximadamente 180 mil visitas e disponibilizamos pouco mais de 500 artigos que tratam de fornecer material didático e metodológico para professores. Por outro lado, estarei divulgando seus dizeres não só no blogue, como também em outros sítios dos quais sou participante e colaborador, inclusive em Portugal. Grato por mais essa pérola e incentivo.
A existência, no Brasil, de milhares de "escolinhas" dos mais diversos esportes mostra que há uma enorme demanda reprimida. Parte dessa demanda não atendida se deve à omissão do sistema educacional brasileiro. Mais um indicador de sua baixa qualidade. Parte das "escolinhas" desempenha um papel complementar à escola formal, desenvolvendo e consolidando as vocações esportivas reveladas no sistema de ensino.
ResponderExcluirRoberto: seu blog é um sucesso e você merece, pelo seu esforço e o excelente conteúdo que posta. Abraços, Arlindo
ResponderExcluirArlindo,
ResponderExcluirAcabamos de assistir à reportagem no Fantástico desse último domingo sobre as escolas nas zonas rurais do Nordeste, nem sempre tão longe do Centro das capitais. Diante da penúria lastimável de hoje e no seu trabalho no MOBRAL de antes, que paralelismo e lições poderia nos brindar?
Grato Roberto: pretendo escrever sobre isso em um futuro blog, pois creio que a busca pela educação de qualidade deve atacar em todos os flancos e uma escola de ambiente sadio, agradável, com saneamento, boas condições climáticas (naturais ou artificiais) é importante. No MOBRAL lidávamos com uma população muito pobre, que estudava geralmente à noite, em salas improvisadas e precárias. Mas fazíamos o possível. Exemplo: descobrimos que muitos alunos não aprendiam pelo fato de não enxergarem. Fizemos um levantamento dos meios que eram usados para iluminar as salas (luz elétrica, lampião, lamparina, tochas ou velas). Compramos milhares de lampiões e mandamos para todas as salas que não tinham luz elétrica. O MOBRAL usava 150 mil salas por semestre. Posteriormente fizemos a distribuição de 108 mil óculos de grau para nossos alunos no âmbito de nosso Programa de Educação Comunitária para a Saúde (PES). Oftalmologistas voluntários faziam os exames de graça e davam a receita. Enviávamos para uma fábrica de Montes Claros que havia ganho a concorrência, recebíamos os óculos e distribuíamos. Dentro do nosso Programa Tecnologia da Escassez imprimimos um fascículo com dicas ilustradas para melhorar as condições de nossas salas. Pintar ou caiar a sala de branco. Disposição adequada do meio de iluminação e das carteiras ou cadeiras etc etc Mas lembro que o MOBRAL tinha o estilo de campanha, o que é muito distinto do ensino formal, que tem verbas para infraestrutura. O MOBRAL jamais foi proprietário de um único imóvel e jamais alugou salas de aula. Arlindo
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