quinta-feira, 6 de agosto de 2015

ENFRENTANDO O DESEMPREGO NO BRASIL

Nestas alturas, em agosto de 2015, o Brasil já tem quase 8,5 milhões de desempregados e incontáveis multidões de trabalhadores caindo na informalidade pela total impossibilidade de obter, a curto prazo, uma ocupação com carteira assinada.
 Enquanto isso, o Governo Federal lança um programa muito criticado pelo seu  tamanho irrisório: o PPE – Programa de Proteção (???) ao Emprego, com recursos do combalido FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, visando salvar 50 mil empregos, cifra inferior a 0,6% do número total de desempregados. O PPE, porém, inaugura uma mudança positiva: a flexibilização das leis trabalhistas, sendo um arremedo canhestro do “kurzarbeit” - redução da carga horária com redução salarial proporcional,  largamente utilizada na Alemanha, com sucesso comprovado, durante a crise da década passada.
O fato é que diante de uma situação tão grave como a brasileira, neste momento, seria necessário pensar em outras soluções, mais amplas e promissoras, envolvendo  investimentos para fomento ao emprego. Por exemplo, repensando as políticas de financiamento do BNDES, revendo as aplicações do PROGER - Programa de Geração de Emprego e Renda  e reestruturando e revitalizando o SINE – Sistema Nacional de Emprego.
No caso do BNDES é óbvio que seus financiamentos devem privilegiar empreendimentos situados no  Brasil e que criem muitos empregos. O BNDES, de imediato, deve parar de gerar postos de trabalho no exterior – com seus financiamentos a governos  “companheiros”, de esquerda. Sua prioridade, repito, deve contemplar projetos exclusivamente no Brasil e sempre que possível  intensivos em trabalho.
O PROGER, que também utiliza recursos do FAT, deve reestudar seus financiamentos, que abrangem uma ampla gama de atividades. Sua gestão é muito mais guiada por preferências políticas do que por critérios racionais. A orientação a seguir, obviamente,  deve privilegiar a criação de empregos. Um exemplo pode esclarecer a reorientação desejável.  Atualmente são concedidos empréstimos subsidiados aos taxistas, para comprarem seus autos em 60 meses e a juros baixos, criando apenas um ou no máximo dois empregos. Além disso, os taxistas também já adquirem seus veículos quase pela metade do preço normal, graças à isenção de impostos (que nós contribuintes pagamos!), a  qual podem usufruir a cada dois anos. Os últimos acontecimentos mostram que ainda assim os taxis convencionais não conseguem competir com  a turma do UBER, que não recebe essas benesses e presta um serviço melhor.  Portanto, repassar esses privilégios dos taxistas a outra categoria profissional mais produtiva talvez fosse uma alternativa a considerar. Da mesma forma, deve-se fazer o teste de viabilidade com os outros programas do PROGER – que são vários.
Nesse contexto de forte desemprego, também, o Sistema  Nacional de Emprego (SINE) passa a ter um papel estratégico. Foi o especialista Allan B. Broehl, do meu Setor de Educação e Mão de Obra do IPEA, que no Governo Castello Branco, com a assistência técnica do Labour Department,  dos Estados Unidos da América do Norte, assessorou o Ministério do Trabalho na criação da sua primeira agência-modelo de emprego na região do ABC, em moldes americanos  – a  qual inspiraria a criação posterior do SINE, ocorrida em 1975. Hoje, são mais de 1.300 agências.
O Ministério do Trabalho e Emprego deve ser reestruturado em breve, por força da nova conjugação das forças políticas. Seria a grande oportunidade para reabilitar a instituição e:
                    Reorganizar o Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda (SPETR) de forma integrada.
                    Aumentar o número de municípios que contam com unidades de atendimento a trabalhadores e empresas, unificando informações sobre intermediação de mão-de-obra, qualificação social e profissional, e seguro-desemprego.
                    Reconstruir as ações de aconselhamento aos desempregados (informação e orientação profissional);
                    Treinar os atendentes das Agências do SINE para implementar essas novas ações a serem previstas (atendimento aos informais; mostrar trajetos de educação continuada; informação e orientação profissional);
                    Atender  os empreendedores individuais, fazendo seu cadastro e credenciamento, colocando seus  serviços à disposição do público em geral e, quando for o caso, prestando-lhes assistência para sua certificação e atualização profissional. Após um ano de cadastro no SINE, o empreendedor individual legalizado deveria ser capacitado dentro da Rede CERTIFIC ou receber um Voucher para fazer um treinamento em agência credenciada do PRONATEC.
                    Dar suporte logístico às campanhas de formalização do SEBRAE, interiorizando-as e multiplicando-as.
                    Integrar suas agências às escolas técnicas federais e outras que implementam o PRONATEC,  todas essas instituições devendo operar em rede.
                    Utilizar as informações do seu Sistema de Gestões de Ações de Emprego (SIGAE) para dar subsídios para o planejamento e a adequada execução dos programas de Qualificação Profissional
As agências do SINE devem ser muito mais que um simples balcão de empregos. Devem tornar-se a “casa do trabalhador”, onde todos possam buscar seu emprego, sim, mas também receber aconselhamento sobre sua trajetória no mundo do trabalho ou para uma eventual volta à educação geral. Orientação profissional, encaminhamento para o curso mais adequado ou passando, antes, pela certificação profissional - tudo isso deve estar à disposição do trabalhador nas Agências. Na Europa, já se tornou uma prática usual, nos serviços de emprego, a denominada “Lifelong Guidance” que procede à  orientação dos trabalhadores quanto à educação continuada e deve ser incorporada às práticas do  SINE.
Como consequência, os atendentes das Agências do SINE devem ser treinados para entender perfeitamente a filosofia e prática da educação continuada e ter em mente que esse é um dos instrumentos mais importantes para a efetiva promoção do trabalhador brasileiro. Além disso, devem dispor de informação que lhes permita encaminhar a clientela à melhor opção disponível em cada caso. Informação sobre os executores mais próximos do programa Brasil Alfabetizado ou de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em geral, sobre os certificadores da Rede CERTIFIC, sobre os provedores de Qualificação Profissional e assim por diante.

Para que esse atendimento presencial sugerido se torne viável, provavelmente será necessário que o SPETR aprofunde sua incursão pela prestação de serviços utilizando-se da internet, o que faz apenas precariamente. Essa medida permitiria potencializar rapidamente algumas de suas ações. 

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