terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

"DANDO BOLA" AO DESEMPREGO

O  Clube dos  Caiçaras, fundado em 1931, é um complexo de lazer na Lagoa Rodrigo de Freitas que ocupa uma ilha situada em frente ao Jardim de Alah, o qual margeia o canal que separa Ipanema  do Leblon. É um daqueles patrimônios valiosos que tornam essa região do Rio de Janeiro  – deitada aos pés do Cristo Redentor - extremamente  charmosa  e encantadora. O Caiçaras foi  a inspirada  criação de algumas famílias do bairro, dentre as quais a do sociólogo Marcos de Carvalho Candau, cujo patriarca Jarbas de Carvalho foi  também fundador da ABI. Pioneirismo a que devemos agradecimento eterno.
Fui sócio do  Caiçaras na década dos 70 e lá desfrutei de maravilhosos momentos com minha família. Antes disso, já  frequentara eventualmente sua piscina, seus bailes e jogara futebol de salão e voleibol em seu ginásio.  Lembro-me bem, desde sempre, da garotada que agilizava os jogos de tênis, devolvendo com presteza as bolas aos sacadores – os “boleiros”, na gíria dos tenistas. Equivalentes aos “gandulas” do futebol.
Os “boleiros” do Caiçaras estão no centro de uma polêmica, definidos como vítimas do cruel trabalho infantil e proibidos de continuar a atuar no clube sem o vínculo de “menor aprendiz”. Estão na rua, sem renda, comida e assistência médica e odontológica que o clube provia.
Não é nada confortável a situação do Brasil na área de trabalho. Grosso modo, de acordo com a PNAD Contínua relativa ao trimestre de setembro a novembro de 2015, dos 165 milhões de brasileiros em idade de trabalhar (PIA), apenas 101 milhões participavam da força de trabalho.  Destes, 92 milhões estavam ocupados e 9 milhões penavam procurando emprego. 
Dentre os 92 milhões  ocupados há 56 milhões de empregados  (10 milhões sem carteira assinada), 4 milhões de empregadores, 6 milhões de trabalhadores domésticos, 23 milhões de trabalhadores por conta própria e quase 3 milhões de auxiliares não remunerados de suas famílias.
Há, portanto, cerca de 64 milhões que não participam do mercado de trabalho. Estão nesse grupo os estudantes (46 milhões no total) e membros das 14 milhões de famílias que  vivem  do Bolsa Família e outras transferências de renda de cunho social.
Todos os países devem objetivar a universalização do trabalho decente, conforme definido pela OIT e têm a obrigação de coibir a atividade infantil degradante. Mas no Brasil atual a prioridade é criar emprego e não destruí-los. E na gestão pública devem sempre prevalecer o bem comum e o bom senso. Se a atividade dos “boleiros” do  Caiçaras for coibida, corremos o risco, em breve, de assistir à autuação das “escolinhas” de vôlei, futebol, boxe, judô etc  etc  etc e respectivas ONGs como perigosos antros de exploração do trabalho infantil.

E não haverá espírito esportivo que possa suportar uma insanidade desse teor do nosso onipresente BIG BROTHER!

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