O Clube dos Caiçaras, fundado em 1931, é um complexo de
lazer na Lagoa Rodrigo de Freitas que ocupa uma ilha situada em frente ao
Jardim de Alah, o qual margeia o canal que separa Ipanema do Leblon. É um daqueles patrimônios valiosos que
tornam essa região do Rio de Janeiro –
deitada aos pés do Cristo Redentor - extremamente charmosa e encantadora. O Caiçaras foi a inspirada
criação de algumas famílias do bairro, dentre as quais a do sociólogo Marcos
de Carvalho Candau, cujo patriarca Jarbas de Carvalho foi também fundador da ABI. Pioneirismo a que devemos
agradecimento eterno.
Fui sócio do Caiçaras
na década dos 70 e lá desfrutei de maravilhosos momentos com minha família.
Antes disso, já frequentara
eventualmente sua piscina, seus bailes e jogara futebol de salão e voleibol em
seu ginásio. Lembro-me bem, desde
sempre, da garotada que agilizava os jogos de tênis, devolvendo com presteza as
bolas aos sacadores – os “boleiros”, na gíria dos tenistas. Equivalentes aos
“gandulas” do futebol.
Os “boleiros” do Caiçaras estão no centro de uma polêmica,
definidos como vítimas do cruel trabalho infantil e proibidos de continuar a
atuar no clube sem o vínculo de “menor aprendiz”. Estão na rua, sem renda,
comida e assistência médica e odontológica que o clube provia.
Não é nada confortável a situação do Brasil na área de
trabalho. Grosso modo, de acordo com a PNAD Contínua relativa ao trimestre de
setembro a novembro de 2015, dos 165 milhões de brasileiros em idade de
trabalhar (PIA), apenas 101 milhões participavam da força de trabalho. Destes, 92 milhões estavam ocupados e 9 milhões
penavam procurando emprego.
Dentre os 92 milhões
ocupados há 56 milhões de empregados
(10 milhões sem carteira assinada), 4 milhões de empregadores, 6 milhões
de trabalhadores domésticos, 23 milhões de trabalhadores por conta própria e quase
3 milhões de auxiliares não remunerados de suas famílias.
Há, portanto, cerca de 64 milhões que não participam do
mercado de trabalho. Estão nesse grupo os estudantes (46 milhões no total) e membros
das 14 milhões de famílias que vivem
do Bolsa Família e outras transferências de renda de cunho social.
Todos os países devem objetivar a universalização do
trabalho decente, conforme definido pela OIT e têm a obrigação de coibir a
atividade infantil degradante. Mas no Brasil atual a prioridade é criar emprego
e não destruí-los. E na gestão pública devem sempre prevalecer o bem comum e o
bom senso. Se a atividade dos “boleiros” do Caiçaras for coibida, corremos o risco, em
breve, de assistir à autuação das “escolinhas” de vôlei, futebol, boxe, judô
etc etc etc e respectivas ONGs como perigosos antros
de exploração do trabalho infantil.
E não haverá espírito esportivo que possa suportar uma
insanidade desse teor do nosso onipresente BIG BROTHER!
Nenhum comentário:
Postar um comentário