A necessidade de uma melhoria qualitativa da
educação brasileira, abrangendo todos os seus níveis, é indiscutível e urgente.
Todos os brasileiros preocupados com o
futuro de nosso país estão conscientes disso e anseiam pelas realizações
capazes de produzir essa mudança inadiável. As comparações internacionais
disponíveis confirmam essa deficiência geral com clareza. Aí estão, por
exemplo, os pobres resultados obtidos por nossos estudantes de 15 a 16 anos de
idade nos testes do PISA (da OECD), os quais sistematicamente classificam o
grupo de alunos representantes do Brasil nas últimas colocações dentre os
países participantes. Da mesma forma, os rankings internacionais de qualidade
dos estabelecimentos de ensino superior, em que a posição desfavorável de nossas
universidades é uma triste constante. Nas
análises concernentes aos avanços científicos e tecnológicos, realizadas nos
últimos anos, baseando-se em inovações, patentes requeridas e concedidas,
artigos publicados em revistas conceituadas, prêmios internacionais
conquistados, o Brasil também está cronicamente na retaguarda. Os bons resultados
obtidos rotineiramente pela elite dos estudantes brasileiros de educação
profissional, na competição mundial denominada World Skills, assim como
eventuais conquistas individuais em Maratonas internacionais de conhecimento
específico de certas matérias, são exceções que não apagam o insucesso global
da educação brasileira. Para um país, não há qualidade dissociada da quantidade
e de nada adianta ter uma elite intelectual poderosa mas reduzida, ao lado de uma grande massa populacional
com baixo perfil de educação.
·
A QUESTÃO DA PRIORIDADE
Uma educação de qualidade é obviamente a norma desejável
universalmente para a totalidade dos sistemas de ensino, devendo permear todos
seus níveis e modalidades. No caso da educação brasileira, que vive uma crise
aguda e geral, é preciso agir com a maior urgência possível. Para fins práticos,
porém, antes de apontar medidas,
projetos e programas para aprimorar a qualidade da educação nacional, há uma
primeira questão sobre a qual é preciso decidir. Por onde começar? Quais as prioridades na abordagem e solução
dos problemas existentes, já que os recursos humanos e financeiros são
limitados e a meta bastante ambiciosa?
Parece claro, por várias razões, que essa prioridade
se concentra nas séries iniciais da educação básica, em particular quando da
escolarização obrigatória. Há boas razões para isso. O ensino fundamental tem
os maiores índices de reprovação, repetência e distorção série-idade do sistema
educacional, indicadores incontestáveis de sua qualidade deficiente. Pela
educação obrigatória passam todos os
brasileiros, de todas as latitudes, classes de renda, procedências sociais etc.
Aí está o momento certo para proporcionar-lhes uma educação de qualidade, por
uma questão de equidade, de democratização de oportunidades. As crianças e
adolescentes cujas famílias têm perfil educacional mais desfavorável e níveis
de renda que caracterizam a miséria e a pobreza, principalmente essas devem
receber, em nome da justiça social, tratamento prioritário e um apoio especial
em sua passagem pela escola, principalmente nos anos iniciais do ensino obrigatório,
pois esse é o único meio de equalizar oportunidades, já que lhes falta o
adequado suporte no lar. Além disso, uma boa educação no início da vida escolar
vai reduzir custos atuais e futuros, em função da consequente queda nos índices
de reprovação, repetência e evasão nas séries posteriores. Atribuída a
prioridade máxima ao ensino fundamental, segue-se a prioridade para o ensino
médio. Extremamente deficiente, frequentado por jovens que geralmente ainda
necessitam de orientação quanto aos caminhos a seguir, tanto na própria
educação quanto na carreira profissional, o ensino médio merece certa
prioridade, para evitar, por exemplo, o desalento que afeta os milhões que nem
estudam nem trabalham.
Essas escolhas não significam, absolutamente, que se
deixará de propor e executar medidas aperfeiçoadoras do ensino superior, também
notoriamente deficiente em nosso país. Prioridade não se confunde com
exclusividade e um ensino superior de qualidade é objetivo permanente de todas
as sociedades modernas.
·
AUTONOMIA PARA O AUTODIDATISMO
Reforçando o cabimento dessa sequência de prioridades, um conceito que se deve lançar e difundir, nestes tempos de educação a
distância em grande crescimento, tanto do lado da oferta quanto da demanda, é o
conceito de “autonomia para o autodidatismo”. Trata-se daquele estado em que a
pessoa já sabe e pode, por si só, buscar conhecimento de modo apropriado, sem
recorrer à educação escolarizada, presencial.
A partir da conquista desse estado de “autonomia para o autodidatismo” a
pessoa ganha a capacidade de multiplicar as possibilidades, ao seu alcance, de
acesso ao conhecimento em geral, tendo em vista o arsenal tecnológico
disponível no mundo atual e que pode ser usado, com ou sem adaptações, para
fins educacionais. O momento em que esse estado é alcançado, varia de pessoa
para pessoa, em função de inúmeras variáveis, sendo mais relevantes o nível
de escolaridade concluído e a qualidade
da educação recebida até então. Admitido esse conceito, o corolário é que sob o
aspecto do indivíduo, a educação é mais prioritária antes que ele adquira essa
autonomia. Ou seja, nos seus anos iniciais, especialmente na fase de
alfabetização, a seguir no restante do ensino fundamental e só depois no ensino médio.Outro ponto a
ressaltar, nestes tempos de supremacia avassaladora das TIC (tecnologias de
informação e comunicação) é que um dos objetivos específicos da educação deve
ser o de fomentar, logo em seus anos iniciais, a busca dessa autonomia libertadora, para que a
pessoa possa centrar sua educação em
seus reais interesses e motivações, personalizando-a. É a educação para
a liberdade, em que os alunos vão livrar-se das “xaropadas” de professores que
não dominando os conteúdos pertinentes e não tendo como ensinar
verdadeiramente, passam a doutrinar os estudantes com o politicamente correto e
todo o repertório ideológico que serve de álibi para encobrir suas deficiências
de formação. Problema comum dos corpos docentes de muitos países, especialmente
da América Latina, Brasil inclusive.
Adquirida essa autonomia, o estudante já não
dependerá tanto, para sua formação, da educação escolarizada, presencial,
muitas vezes massificadora, projetada para atender a um “aluno médio”
que só existe em teoria.
Comente, critique,
concorde ou discorde, apresente suas ideias em favor da educação
Olá Arlindo, boa tarde.
ResponderExcluirTemos como amigo comum o Fraim, que me remeteu para seu blog.
Já tomei conhecimento do seu interesse pela área educacional. Como eu, porém mais constante ao longo do tempo
Desde 1961, quando cursava minha graduação em arquitetura, na UB, comecei a me interessar pela educação e em causa própria, pois sentia que o meu curso poderia ser melhor.
Provoquei a mudança de nossa faculdade em 1961, tendo que coloca-la em greve para alcançar tal objetivo. Tal medida não foi suficiente para que tivéssemos êxito na nossa intenção. Esbarramos na direção e no interesse dos professores, fundamentais para que haja sucesso, pois serão eles, principalmente, os orientadores.
Em 1962, sendo representante de turma, tentei que o 5º ano também entrasse em greve para apoiar a"reforma de ensino" , que os estudantes tentavam, pois era época de muita liberdade de expressão e busca de novos caminhos, infelizmente relegados a um futuro que não chega.
Formado, tive que buscar o sustento próprio, e militei no serviço público por 7 anos, tendo que pedir demissão por não identificar perspectiva naquele trabalho. E até 2005 fiquei afastado da área que nos aproxima.
Desde então estou atuando no ensino a distância(EAD) Tenho 2 polos em cidades do E. do Rio.
Como vc. fiquei triste com os resultados do PISA e percebo que teremos uma longa busca para encontrarmos caminhos adequados.
Com certeza absolutamente tudo teria que ser alterado, pois nem ministro com expediente integral temos(só se dedica por poucas horas no ministério que deveria ser o mais importante da República).
Partindo do ministério e se saíssem as verbas necessárias(nego o sensacionalismo do pré-sal), teríamos que buscar um pacto nacional e colocar os professores nos devidos lugares. Compromissos de tempo integral, educação continuada, aferição de produtividade e vai por aí afora.
Não tenho intenção de realizar nenhum artigo relevante, mas comungo com tuas intenções de ativar a busca de um futuro mais digno que só virá se colocarem a Ética e a Educação, como objetivos primordiais.
Pode contar comigo se em algo poderia ajudar.
Deste, já um admirador, de tuas importantes intenções,
att., Mendel Moussatché
Prezado Mendel: grato pelo comentário, muito pertinente. Você toca em pontos importantíssimos que deveremos abordar mais tarde. Educação continuada, aferição de produtividade, avaliação do professor, tempo integral... E Educação a Distância, na qual você está engajado. Conto com suas ideias para enriquecer esta discussão. Arlindo
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirArlindo,
ResponderExcluirEstou felicíssimo por seu retorno. Seus conhecimentos e inteligência são importantes para nossa orientação, especialmente os que se dedicam de alguma forma à educação. Como bem sabe o Procrie tem como visão Aprender a Ensinar e a cada dia traduz o anseio de muitos professores em regiões de extrema dificuldade de ensino que buscam uma formação continuada através de um ensino a distância que modestamente promovo. Tomara que permaneça sempre a traduzir para todos suas vivências de valor incomensurável.
Grato, Roberto. Seu trabalho é muito bom e seu blog da maior utilidade. Você deve ter notado que proponho à escola de qualidade que "ensine a aprender", para que seus alunos adquiram a autonomia para o autodidatismo. Arlindo
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