quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

EDUCAÇÃO COM GARANTIA DE QUALIDADE

Acredito na importância da educação continuada e procuro atualizar-me sempre, exercendo cotidianamente minha “autonomia para o autodidatismo” a qual  conquistei há muitos anos, “aprendendo a aprender”.
Isso não significa estar fora de cogitações que no futuro eu venha a estudar de modo mais sistemático e formal, em alguma instituição confiável, em curso a distância ou presencial. Nesse caso, porém, mesmo matriculado em estabelecimento de boa tradição, acho necessário atualmente observar uma condição “sine  qua non”: firmar um contrato de prestação de serviços em que a instituição de ensino daria “garantia de qualidade” da educação que me será ofertada. 
Garantia de qualidade da educação é um conceito novo, mas não implica em exagero.  Justifica-se plenamente, nestes tempos de vertiginosa evolução científica e tecnológica, em que tudo muda velozmente, alterando métodos e processos de produção, tornando obsoletos equipamentos e habilidades adquiridas. Era de descontinuidades, em que conhecimentos aparentemente consolidados são ultrapassados e até valores humanísticos são abalados e substituídos com rapidez. Diante disso, cabem ao estudante, perfeitamente, algumas perguntas definitivas: o que eu aprendi, ainda vale ao fim do curso? Valerá no futuro? Por quanto tempo?
Dois exemplos da vida real, muito comuns, podem clarificar a questão:
a)      Um operário da indústria quer especializar-se e para isso procura um curso de educação profissional em que aplica suas parcas economias. A parte prática desse aperfeiçoamento é ministrada em equipamentos próprios do estabelecimento de ensino. Após concluir o curso com sucesso, ao candidatar-se a um emprego, o trabalhador tem o desprazer de verificar que sua formação já estava ultrapassada quando lhe foi ministrada, posto que foram utilizadas máquinas obsoletas, não mais em uso nas fábricas em funcionamento. Os potenciais empregadores consultados negar-lhe-ão a vaga e seu esforço estará perdido;
b)      Um profissional de nível superior descobre um nicho de mercado de trabalho altamente remunerador  e sem muita concorrência, vislumbrando a oportunidade de ocupar um bom emprego nessa área. Precisa, porém, cursar um MBA de um ano de duração naquela especialidade - com a qual não tem muita familiaridade. Investe seu tempo e dinheiro nos estudos e depois de sua conclusão sai à busca do cobiçado posto de trabalho. Entrevistado pelo RH das empresas que procura, verifica que os requisitos e as exigências para o exercício profissional pretendido não foram cobertos pelos ensinamentos que absorveu no curso, pois nesse interim a tecnologia evoluíra e até os paradigmas mudaram. O MBA ignorou as mudanças do mercado e a aspiração por um emprego melhor fracassou.
A decepção desses dois trabalhadores pode ser facilmente percebida e suas razões bem determinadas, pois em ambos os casos havia uma grande especificidade da formação que demandavam para atingir suas metas. O mesmo ocorre – embora veladamente - com a educação geral de má qualidade. Quando a escola de ensino fundamental ou o curso de nível médio pecam na qualidade, talvez os estudantes (e seus responsáveis) não consigam percebê-lo de imediato com clareza. Poderão desconfiar porque, por exemplo, os professores faltam muito, a parte administrativa da escola é desorganizada e burocrática, as aulas são tumultuadas  e os horários não são cumpridos.  Mas ignoram o essencial – seu baixo nível qualitativo – e sofrerão os resultados danosos ao longo do tempo. Não só no mercado de trabalho,  mas em várias outras dimensões de suas vidas e talvez para todo o sempre – a menos que haja uma intervenção corretiva, por meio da educação continuada, uma solução emendativa  para muitos.
As instituições que prestam serviços educacionais têm que prover meios, aos seus clientes, de se defenderem dessa possível perda de efetividade do seu aprendizado. Obrigatoriamente no curto prazo e eventualmente até a longo prazo. Seria isso possível? A resposta depende da criatividade dos educadores, que certamente encontrarão os meios necessários. Uma instituição preocupada com a qualidade de sua função docente manterá, permanentemente, estruturas próprias visando o objetivo de garantir a pertinência dos ensinamentos ministrados a seus alunos. Como, aliás, ocorre em outras áreas de prestação de serviços.
Na terminologia dos órgãos que se dedicam aos estudos sobre qualidade em geral, o “conceito de "Garantia" está associado ao risco potencial de não-qualidade. Em outras palavras, um produto (bem ou serviço) tem garantia de qualidade quando seu fornecedor estabelece um processo de trabalho de tal forma que a probabilidade de falhas no produto seja nula. Um Sistema de Garantia da Qualidade é um conjunto planejado de atividades, que se adiciona ao processo natural de fornecimento de um dado produto, com o objetivo de reduzir o risco de falhas.
Os Sistemas de Garantia da Qualidade foram inicialmente desenvolvidos a partir de exigência explícita de clientes em determinados segmentos de mercado. Esses segmentos de mercado se caracterizavam pelo fato de que o custo provocado pela não-qualidade  do bem recebido por esses clientes era muitas vezes superior ao preço do bem adquirido.” ( http://www.qualidade.com/glos-01.htm, Capturado em 20/01/2014).                                                                                                                              Essa mesma fonte especializada adverte que o custo gerado pela não-qualidade inclui muitos “danos provocados à sociedade”, uma realidade com a qual nos defrontamos a todo instante, quando são noticiados erros médicos grosseiros, desabamentos por força de projetos de engenharia falhos, acidentes de trânsito por imperícia do condutor, catástrofes as mais variadas por falta de gestão eficaz na administração pública, repetidos acidentes de trabalho por inobservância das normas de segurança, ações policiais desastradas e assim por diante. O custo da má qualidade da educação, em todos os níveis e modalidades, é elevadíssimo, do ponto vista humano e material.
Nos dois exemplos citados, a garantia de qualidade seria possível com medidas óbvias. Instituições que se dedicam a formar para o mercado de trabalho devem estar em dia com a tecnologia mais moderna da área em que atuam, prestar atenção  permanente à evolução dos respectivos setores de produção, contratar professores que conhecem o “estado atual da arte” na sua matéria, utilizar-se de equipamentos e materiais atualizados. Consultoria de profissionais especializados, intercâmbio com os meios empresariais, contatos com órgãos que fazem a intermediação de emprego etc  são algumas providências que devem se tornar rotineiras. Dessa forma, a qualidade da educação profissionalizante seria provavelmente preservada no curto prazo, embora mudanças radicais na tecnologia do setor sejam possíveis e imprevisíveis. Aí entrariam os instrumentos emergenciais de “recuperação de qualidade”.  O estabelecimento pode oferecer aos seus ex-alunos, durante os anos imediatamente posteriores à conclusão de seus cursos, a baixo custo ou até gratuitamente, o acesso a material didático  (apostilas, vídeos, programas de computador ou mesmo cursos online) apresentando conteúdos que atualizem conhecimentos e habilidades porventura tornados obsoletos durante o período pré-estabelecido. Seria uma assistência técnica que é parte da garantia oferecida. Nos casos extremos, pode-se até prever o ”recall” para o aluno refazer parte do curso ministrado em que ocorreram falhas comprovadas ou cujo conteúdo foi superado, parcial ou integralmente, no mundo real.
Tratando-se da educação geral, a concretização da “garantia de qualidade” é mais complexa, mas a solução estará quase sempre em disponibilizar para a população as várias modalidades da educação continuada a seu alcance. Oferta universal, que é tarefa que cabe aos poderes públicos e é negligenciada em nosso país.
A realidade  prova que o direito à educação, assegurado em nossa Constituição, não é suficiente. Todo brasileiro deveria ter garantia de acesso a uma educação de qualidade.

Comente, critique, concorde, discorde, mas apresente suas ideias em favor da educação.

3 comentários:

  1. Perfeito! Gostaria de saber por que "os ministros das educações", não praticam esta visão? forte abraço!

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    1. Para um estabelecimento de ensino "garantir qualidade" ele deverá manter-se permanentemente atualizado com os avanços científicos e tecnológicos, com as alterações no setor profissional em que atua etc e manter uma postura proativa, informando seus ex-alunos sobre a mudança de conteúdos correspondentes. Para isso é preciso efetivamente ter e querer continuar a ter qualidade. Dá trabalho mas é o preço para uma educação de qualidade. O conceito é novo e talvez as autoridades venham a conscientizar-se de sua necessidade. Grato, Arlindo

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  2. Infelizmente nem todos têm a sua curiosidade. Eu é que agradeço pois uma pessoa que seja, beneficiando-se de meu blog, já me serve de grande incentivo.

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