Almoçávamos no restaurante do Jockey Clube, no Centro do Rio
de Janeiro. Estávamos no final de 1984. De repente, Antonio Carlos Magalhães veio
até nossa mesa e disse sorridente: “Roberto,
você vai votar no perdedor! Eu estou com o vencedor e vou ser Ministro...
daqueles bem gastadores!” Roberto Campos era Senador e iria votar na eleição
indireta para a Presidência da República em janeiro de 1985. Sua preferência
era conhecida, obedecia à fidelidade partidária, mas desagradava a alguns de seus amigos mais próximos pelo
fato de pesarem, sobre seu candidato, fortes acusações de corrupção.
Questionei-o sobre sua escolha e Campos respondeu-me
que muito pelo contrário, seu voto, caso vitorioso, reduziria dramaticamente a
corrupção no Brasil. E explicava: seu candidato, homem da iniciativa privada
modernizante, prometera a seus eleitores potenciais que iria reduzir
drasticamente a participação do Estado em vários setores da nossa economia. Na
opinião de Roberto Campos essa decisão acarretaria um choque ético pois ele acreditava
que “a corrupção só existe quando o Governo está presente e a privatização é um
caminho seguro para reduzi-la”. Daí sua escolha, naquele momento de transição
política, que abriria uma nova era na vida nacional.
O anúncio das inúmeras privatizações previstas pelo Governo
Temer, embora extremamente positivo,
despertou as críticas esperadas e de motivações óbvias: críticas
oportunistas, daqueles que pegam carona na impopularidade do Presidente para
faturar politicamente; críticas ideológicas, da mesma turma que já nos anos 50
gritava “o petróleo é nosso!”, um slogan vazio mas de vendagem fácil; e críticas
fisiológicas diversas. São, por exemplo, os lamentos de funcionários públicos
que querem defender seu emprego e as benesses que as tetas estatais lhes
propiciam, nem sempre legitimamente, mas invariavelmente com o dinheiro do contribuinte indefeso,
espoliado. Assim como as críticas das ONGs e blogs que se sustentam com as
doações fáceis, ocultas ou dissimuladas, daqueles empreendimentos públicos
falidos.
Os nacionalistas do “petróleo é nosso” foram ironicamente
sinceros no uso do possessivo: a PETROBRAS, com petróleo, refinarias, navios,
plataformas e tudo mais foi deles,
realmente, nos últimos anos, durante os quais a dirigiram e lhe roubaram e deixaram roubar fortunas incalculáveis.
A PETROBRAS, que Roberto Campos chamava de PETROSSAURO, é o
atestado mais eloquente de que a privatização é um instrumento depurador. Na
empresa pública, ao contrário do que ocorre na iniciativa privada, a má gestão
não é punida pelo mercado e pode fabricar prejuízos estratosféricos.
Meu posicionamento político atual é similar ao do mestre Roberto Campos, ao decidir votar em Paulo Maluf, na transição dos governos militares para a normalidade democrática. Apesar das restrições éticas, o Presidente Temer, reformista e corajoso, marca
mais um tento e se credencia ao reconhecimento da História ao reduzir o tamanho
deste gigante oligóide: o Estado brasileiro
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