Dinheiro não compra felicidade. Há quem diga que ajuda. Mas
melhor receita de vida - embora não infalível - é ter objetivos, fazer o bem e
focar no presente. Isso nos faz aproximar da ambicionada meta.
Educação de qualidade é como a felicidade. Todos a desejam e ninguém descobriu a fórmula certa até agora.
Muita pesquisa tem sido feita visando descobrir qual a escola ideal. Não se
chegou a qualquer conclusão absoluta. Um estudo americano encontrou um ponto que
parece comum nas escolas de qualidade: há
nelas uma grande concentração de alunos que
vão brilhar em uma mesma e bem determinada área, que pode ser na cultura, no esporte, em certa atividade
profissional específica.
Meu depoimento pessoal, que obviamente não é representativo:
estudei no Colégio Mello e Souza - que tinha alto padrão de qualidade. Até hoje
agradeço a inspiração de meus pais, de me terem colocado lá, iniciativa muito
importante para meu futuro. Pois o Mello
e Souza, além da excelência acadêmica, tinha a interessante característica de
iniciar e formar muitos jogadores de voleibol. Na minha turma mesmo tinha o Ronaldo
Coutinho, que jogava no Flamengo, assim como seu irmão mais novo, o saudoso Cláudio
Coutinho, também craque da rede no time da Gávea, além de excelente técnico de
futebol de prestígio internacional. Vários
integrantes das seleções brasileiras de voleibol foram alunos do Mello e Souza:
Johnny O`Shea, Vitor Barcellos, Feitosa, Nuzman (atual Presidente do Comitê
Olímpico Brasileiro), João Cláudio e eu mesmo.
Outra área de destaque dos alunos do nosso colégio era a música, com Luizinho
Eça e Menescal, que animavam um fabuloso baile aos sábados, em que o baterista
Francisco Horta – posteriormente Meritíssimo Juiz e Presidente do Fluminense –
fazia uma barulhada bem agradável. A bossa nova passou pelo Mello e Souza.
Na busca da educação de qualidade muitos se enganam,
pensando que apenas mais verba resolve. Mas dinheiro também não compra educação
de qualidade. O que ocorreu no Brasil no passado recente prova isso. Os países
da OECD gastam, na média, 5,3% do PIB, oferecem
educação de qualidade e todos sempre
superaram nosso país no teste PISA. O Brasil já está destinando 5,6% do PIB (2012)
para a educação e a performance continua deplorável. Desperdício - o que tem ocorrido maciçamente em nossa educação
nos últimos anos – é uma das causas desse desastre e chega a ser criminoso em um país com tantas
necessidades não supridas. Quando vi um
especialista em educação afirmar na TV que o Governo Federal, no Ministério de
Fernando Haddad, gastava anualmente 450 milhões de dólares no programa Brasil
Alfabetizado e não chegava a alfabetizar 1 milhão de pessoas com essa fortuna, fiquei
perplexo. Ao conhecer as estatísticas, entendi tudo: em 2000, o Brasil gastava
3,1% do PIB em educação; pulou para 4,0%, 4,8% e 5,2% respectivamente em 2005,
2008 e 2010, chegando a 5,6% em 2012. O dinheiro estava sobrando, jorrando e
cimentando carreiras políticas. Ao longo desse período, a qualidade da nossa
educação não teve qualquer melhora. Muito pelo contrário.
Uma boa receita para a educação de qualidade é ter gestores
sérios, qualificados e altamente motivados. Capazes de liderar e motivar seus
auxiliares para as árduas tarefas da educação. Não tem sido o caso do Brasil.
Quando dizem que pretendemos gastar 10% do PIB em educação,
sinto muita tristeza: presenciar um discurso tão medíocre, repetido por tanta
gente e com o aval dos detentores do poder em nosso país é desastroso. Essa gente acredita em números mágicos,
aqueles que iludem o povo tanto como os clássicos “R$ 9,99 marqueteiros” dos produtos
à venda nos supermercados e nas lojas de
departamentos (antes da inflação eram apenas R$ 1,99!).
Políticos populistas fixam esses números-balela como
obrigatórios e depois votam em peso a favor da DRU (desvinculação das receitas
da União), para corrigir o pecado original da vinculação, obtendo um salvo-conduto para burlar os dispositivos
legais – ou até constitucionais – que eles mesmos estabeleceram. São os “percentuais da embromação”.
Um ou dois dias depois de eu ter postado blog a favor dos deserdados
do FIES, a OECD publicou seu sempre magnífico relatório sobre a educação
(Education at a Glance 2015) e mostrou que os países com os melhores
resultados em educação gastam percentuais do PIB inferiores ao praticado no
Brasil. Não falta verba, faltam-nos boas práticas de gestão. E sobram os
inevitáveis demagogos populistas de esquerda.
O mesmo acontece na saúde pública. Lembro-me do quase
desespero de Roberto Campos em 1988, quando Ulysses Guimarães e sua trupe
construíam o que chamaram de “Constituição Cidadã”. Ulysses assegurava: “A
saúde é direito de todos e dever do Estado”. Campos perguntava de onde sairiam tantos
recursos para universalizar a saúde pública e Ulysses não titubeava: “isso, resolveremos
depois...”
Todos os dias, nas rádios, TVs e ao vivo presenciamos as
barbaridades que são cometidas contra o povão que procura atendimento nas
unidades públicas de saúde e morre nos corredores e calçadas dos hospitais. Ou
até é jogado para fora das ambulâncias – essa prática era inédita até agora e
me inspirou para escrever este texto. Coisas do SUS. Lembro que LULA gabou-se, em cadeia nacional, que o SUS é motivo
de inveja no primeiro mundo. Disse isso mas se tratou sempre – e de graça - no
Sírio e Libanês.
O Governo acaba de suspender a bolsa que pagava a 500 mil pescadores no defeso. Alegam que as espécies não estão mais em risco de extinção. Iludidos no passado recente pela demagogia populista, nossos pobres vão pagar caro. Só não correm o risco de extinção. Vamos ter mais pobres para enganar.
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