Espantei-me ao ver, no canal de notícias de maior audiência
da TV por assinatura brasileira, que um comentarista político, cometendo erro
crasso, somava percentuais de abstenções (referidos ao número total de
eleitores inscritos) com percentuais de votos nulos e brancos (relativos aos
eleitores que compareceram à votação) para quantificar a proporção dos que
denominava de “desiludidos da política”. Sinal de que nossa TV ainda tem muito
a progredir tecnicamente e nosso sistema educacional precisa melhorar enormemente sua qualidade,
especialmente em matemática. E indicativo, também, da explícita ansiedade de parte daquela equipe em diminuir o valor do pleito
municipal – talvez por não terem gostado dos seus resultados -, superestimando o desinteresse do eleitorado em
escolher um determinado candidato. Menos mal que outro participante do time de
comentaristas, mais ilustrado, corrigiu o erro evidente.
Estatística ainda é uma ciência indecifrável para a maioria
esmagadora dos brasileiros, inclusive para muitos portadores de diplomas
universitários. O que é uma pena, pois
alguns de seus aspectos são de interesse básico para o cotidiano de todos os
viventes. Noções das teorias das probabilidades e dos erros, a percepção da
significância relativa dos valores etc
são extremamente úteis para a tomada de decisões corriqueiras de nossa
existência. Talvez seja, por essa debilidade generalizada, que os institutos de pesquisa de opinião errem
tanto e tão impunemente em suas previsões eleitorais, prejudicando a boa prática democrática, sem que nada
aconteça e ninguém proteste.
Em sua analogia entre a estatística e o biquíni, Roberto
Campos já nos prevenia sobre os cuidados a tomar na análise dos números. E nas
últimas eleições essa prudência cabe perfeitamente. Comentaristas falavam dos
elevados percentuais de abstenção sem fazer duas considerações pertinentes: a
primeira, que em Municípios que não realizaram recadastramento dos eleitores em
2016 há um grande número de mortos incluídos dentre os aptos a votar; a
segunda, que em Municípios de população envelhecida (como é o caso do Rio de
Janeiro), o fato de pessoas de 70 anos e mais de idade não serem obrigadas a votar adiciona mais um “bias” evidente na
aferição do percentual de abstenções.
É lugar comum a observação de que “o brasileiro não sabe
votar”. Tenho outra hipótese, baseada nos resultados das eleições municipais de
2016 e cotejando-as com as de 2014, pois agora os brasileiros votaram acertadamente
e mandaram o PT para o espaço... Minha hipótese é que o nosso eleitor é
facilmente iludido pelas mentiras, pela demagogia populista e assim por diante.
Quem acha que sabe votar muito racionalmente que atire a primeira pedra! Jânio,
Collor, Lula e Dilma enganaram muitos milhões, inclusive das classes que se
denominam “esclarecidas”!
Em 2014 abordei esse tema pouco antes das eleições, no blog
intitulado “ECONÔMICO X SOCIAL”, prevendo o voto fisiológico dos muitos milhões
de beneficiários dos programas sociais, enganados pelos agentes do PT - que
espalharam boatos de que o programa Bolsa Família seria extinto caso Dilma
fosse derrotada no pleito presidencial. Pobres e miseráveis só podiam votar
como votaram, reelegendo quem lhes pagava a mesada indispensável à
sobrevivência. Não votaram mal: foram enganados. Agora deram o troco,
consciente e esclarecido.
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