O Presidente Michel Temer aceita a impopularidade
como parte de sua missão. Excelente decisão para a nação! Compreende que o Brasil terá de
viver um período de profundas mudanças e que reformar é contrariar interesses,
anular privilégios, gerar incertezas, além de enfrentar cotidianamente uma
oposição predatória, principalmente dos populistas que afundaram o país na crise em
que vivemos e que fingem nada ter com o caos do presente.
Estadistas trabalham no longo prazo, nos objetivos
permanentes da nação e confiam pacientemente no julgamento da história.
Tive a honra e o prazer de trabalhar com um dos
políticos brasileiros mais
impopulares de todos os tempos: Roberto
Campos. O Ministro Extraordinário para o Planejamento e Coordenação Geral do
Governo Castello Branco sofreu um massacre quase diário da mídia desde as
primeiras reformas, em 1964, até o fim do Governo Castello Branco, em 15 de março de 1967. Dizem que havia um controle rígido de censura
sobre a imprensa mas – se havia (???) - Campos
não teve essa proteção. E nunca a pediu, aliás.
Quando ocorreu a Revolução de 31 de Março de 1964 eu
era um jovem engenheiro e trabalhava na CONSULTEC, onde entrara como estagiário
em 1960, formado no que havia de melhor na educação brasileira da época. Estava
prestes a pedir uma bolsa de estudos nos Estados Unidos, em Harvard, por
indicação de alguns dos sócios da empresa. Eu não estava nada satisfeito com os rumos
políticos do Brasil e preferia prolongar minha formação acadêmica. O pleito de
bolsa em Harvard tinha grande chance de ser atendido, pois eu contava com o
apoio de Lincoln Gordon, um “scholar” da Universidade. Com a Revolução e a mudança
radical da vida nacional, preferi ficar no novo Brasil que então despontava. E
não me arrependi.
Em 1965 fui trabalhar no Governo, depois que me
convenci que o país entrava em um período de profundas e imprescindíveis reformas, exatamente
comandadas por um de meus antigos chefes na CONSULTEC: Roberto Campos.
Fui um dos fundadores do IPEA, encarregado pelo
Ministro Campos de criar e coordenar o Setor de Desenvolvimento Social do novo
órgão, encarregado de “pensar o Brasil”, como dizia seu primeiro dirigente de
fato, Victor da Silva, posteriormente Diretor brasileiro do BID.
Com o apoio irrestrito do Presidente Castello
Branco, um grande estadista, Campos foi responsável principal pelas profundas
reformas empreendidas pelo Governo Revolucionário. FGTS, BNH, Mercado
Financeiro, Reforma Agrária, Planejamento de Longo Prazo (IPEA), Política
Salarial, Correção Monetária, Controle da Inflação e muitas outras realizações
frutificaram sob a coordenação de Roberto Campos, o qual foi o “bode expiatório” de todos os
ressentidos com o Governo e passou a ostentar o título de "o mais impopular dos
Ministros". Gozado que alguns setores empresariais – salvos pela Revolução da expropriação que
tanto temiam e a que estavam ameaçados pelo Governo João Goulart – lideravam essa
multidão de críticos. O espirituoso Glycon de Paiva, com muita inspiração,
denominava-os de “híbridos roedores: coelhos pelo medo e ratos pela voracidade”.
Roberto Campos não temia a impopularidade e parecia
até cultivá-la em certos momentos. Eu mesmo, ao receber suas ordens para
estudar a cobrança de anuidades de alunos ricos que frequentavam as Universidades
Federais, ponderei sobre o impacto político da medida que, aliás, era
justíssima em um país com milhões de estudantes pobres, alijados do ensino
superior por falta de recursos. Mas Campos não fazia por menos e me disse: esta
é uma medida impopular mas necessária...Era seu lema!
Hoje, considera-se Roberto Campos como uma das
grandes figuras públicas de nosso tempo. É um bom exemplo a ser seguido!
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