quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A IMPOPULARIDADE NECESSÁRIA

O Presidente Michel Temer aceita a impopularidade como parte de sua missão. Excelente decisão para a nação! Compreende que o Brasil terá de viver um período de profundas mudanças e que reformar é contrariar interesses, anular privilégios, gerar incertezas, além de enfrentar cotidianamente uma oposição predatória, principalmente dos  populistas que afundaram o país na crise em que vivemos e que fingem nada ter com o caos do presente.
Estadistas trabalham no longo prazo, nos objetivos permanentes da nação e confiam pacientemente no julgamento da história.
Tive a honra e o prazer de trabalhar com um dos políticos brasileiros  mais impopulares  de todos os tempos: Roberto Campos. O Ministro Extraordinário para o Planejamento e Coordenação Geral do Governo Castello Branco sofreu um massacre quase diário da mídia desde as primeiras reformas, em 1964, até o fim do Governo Castello Branco, em 15 de março de 1967. Dizem que havia um controle rígido de censura sobre a imprensa  mas – se havia (???) - Campos não teve essa proteção. E nunca a pediu, aliás.
Quando ocorreu a Revolução de 31 de Março de 1964 eu era um jovem engenheiro e trabalhava na CONSULTEC, onde entrara como estagiário em 1960, formado no que havia de melhor na educação brasileira da época. Estava prestes a pedir uma bolsa de estudos nos Estados Unidos, em Harvard, por indicação de alguns dos sócios da empresa.  Eu não estava nada satisfeito com os rumos políticos do Brasil e preferia prolongar minha formação acadêmica. O pleito de bolsa em Harvard tinha grande chance de ser atendido, pois eu contava com o apoio de Lincoln Gordon, um “scholar” da Universidade. Com a Revolução e a mudança radical da vida nacional, preferi ficar no novo Brasil que então despontava. E não me arrependi.
Em 1965 fui trabalhar no Governo, depois que me convenci que o país entrava em um período de profundas e imprescindíveis reformas, exatamente comandadas por um de meus antigos chefes na CONSULTEC: Roberto Campos.
Fui um dos fundadores do IPEA, encarregado pelo Ministro Campos de criar e coordenar o Setor de Desenvolvimento Social do novo órgão, encarregado de “pensar o Brasil”, como dizia seu primeiro dirigente de fato, Victor da Silva, posteriormente Diretor brasileiro do BID.
Com o apoio irrestrito do Presidente Castello Branco, um grande estadista, Campos foi responsável principal pelas profundas reformas empreendidas pelo Governo Revolucionário. FGTS, BNH, Mercado Financeiro, Reforma Agrária, Planejamento de Longo Prazo (IPEA), Política Salarial, Correção Monetária, Controle da Inflação e muitas outras realizações frutificaram sob a coordenação de Roberto Campos, o qual foi o “bode expiatório” de todos os ressentidos com o Governo e passou a ostentar o título de "o mais impopular dos Ministros". Gozado que alguns setores empresariais – salvos pela Revolução da expropriação que tanto temiam e a que estavam ameaçados pelo Governo João Goulart – lideravam essa multidão de críticos. O espirituoso Glycon de Paiva, com muita inspiração, denominava-os de “híbridos roedores: coelhos pelo medo e ratos pela voracidade”.
Roberto Campos não temia a impopularidade e parecia até cultivá-la em certos momentos. Eu mesmo, ao receber suas ordens para estudar a cobrança de anuidades de alunos ricos que frequentavam as Universidades Federais, ponderei sobre o impacto político da medida que, aliás, era justíssima em um país com milhões de estudantes pobres, alijados do ensino superior por falta de recursos. Mas Campos não fazia por menos e me disse: esta é uma medida impopular mas necessária...Era seu lema!

Hoje, considera-se Roberto Campos como uma das grandes figuras públicas de nosso tempo. É um bom exemplo a ser seguido!

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