Ela já os trouxe prontos em 1929, da sua linda aldeia de Fonte
Arcada, na Beira Alta, de cujos altos se via o Rio Távora, ainda livre,
correndo sob a ponte romana que ali estava desde o século I da era cristã.
Maria do Céu Castro (depois Corrêa por casamento com António
Lopes Corrêa) emigrara para o Brasil, fugindo da aldeia empobrecida que outrora
conhecera tempos de prosperidade, quando pertencia a Inês de Castro – aquela que
depois de morta foi rainha. Mas agora a realidade era outra e Fonte Arcada
ficara pequena para as aspirações de Maria do Céu, as quais ela iria
concretizar no seu Eldorado: o Brasil.
Seus ditos... Nasci e cresci a ouvi-los, a aprender com eles, a errar
muitas vezes por não observá-los, a corrigir os rumos e voltar aos seus
domínios, sempre sábios, incontornáveis.
E aqui estou, aos 82 anos, a recordá-los com muita saudade e gratidão:
Mais vale prevenir que remediar (um apelo ao planejamento e
à cautela)
Tens mais olhos que barriga (quando ficava comida desperdiçada
no prato)
Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo (válido para
mentirosos de má memória)
Tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia... (contra
esportes radicais e riscos evitáveis)
Cesteiro que faz um cesto, faz um cento ( quando a reincidência
no erro é certa)
Quem tudo quer, tudo perde (contra ambição desmedida)
Cada qual sabe onde lhe aperta o sapato (o sofredor é que
sabe de seu sofrimento)
Estás com as fraldas de fora! (advertência quando eu estava
mal arrumado)
Estás lanzudo! (aviso para eu ir cortar o cabelo)
Águas paradas não movem moinhos (nada de preguiça: só o
trabalho traz prosperidade)
Pareces um cabrito montês! (comentário sobre a minha agilidade
para correr, saltar, subir)
A pensar morreu um burro (quando eu estava distraído, com
olhar distante)
Comer e coçar é só começar ( querendo que eu comesse mais –
uma batalha perdida)
A pressa é inimiga da perfeição (quando eu errava algo fácil)
Criou fama, deita-te na cama (a reputação reconhecida é
duradoura)
Amigos, amigos, negócios à parte (ela e suas compras e
vendas...)
Muito riso, pouco siso (contra a jovialidade excessiva)
A cavalo dado não se olha o dente (ser bem agradecido
sempre...)
Há males que vêm pra bem (derrotas ensinam a conquistar
vitórias)
A palavras ocas, orelhas moucas (ignorar os maus conselhos)
O roto falando do esfarrapado (um pecador apontando o pecado
alheio)
Deus ajuda quem cedo madruga (uma exortação ao trabalho
duro)
Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe
(esperança e temperança)
Tal pai tal filho (quando eu fazia algo igual a meu pai)
E assim fui vivendo e aprendendo. E sou feliz!
Obrigado minha mãe, Maria do Céu Castro Corrêa, neste Dia das Mães, véspera do Dia de Fátima.
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