Não é fácil readaptar-se às circunstâncias de um
país que parece desorientado – como é o caso do Brasil atual - após umas
semanas de viagem por nações onde predominam a ordem, o respeito, a segurança e
outros requisitos básicos do que se costuma chamar de civilização. Eu diria mesmo que minha percepção dos
problemas brasileiros pode ser medida pela intensidade desse choque.
Desta vez senti fortemente seus efeitos letárgicos
sobre meu ânimo: fiquei preguiçoso, deprimido – sei lá! - mas fui afinal despertado ao receber e ler o
livro (QUAIS RUMOS QUEREMOS SEGUIR?)
de Harald
Hellmuth (HH), meu colega de turma na
Escola Nacional de Engenharia. A pergunta que HH propõe a seus leitores e usa
como título de sua obra mais recente, reflete a garra de um brasileiro que não
perde a esperança e luta por suas ideias; retrata sua preocupação com o futuro de nosso
país, em função do panorama negativo no qual o Brasil está mergulhado, justo
motivo de indignação de todos os cidadãos conscientes. Sua análise da situação,
dos aspectos mais sombrios de nosso pesadelo, são totalmente confirmados pela
realidade cotidiana. Mas ele não se limita à crítica e coloca
sugestões cabíveis, realistas, adequadas ao momento. A abrangência do livro de HH é ampla, mas o
autor dedica especial atenção aos temas de educação e sustentabilidade. Muito
justo: da educação depende o futuro do Brasil; da sustentabilidade depende a
sobrevivência da Humanidade. Harald merece parabéns, pela tenacidade e pelo
altruísmo. Seu trabalho merece leitura e reflexão e vem a público em momento
oportuno, decisivo mesmo. Os problemas nele levantados explicam porque o Governo pune
fortemente as viagens dos brasileiros ao exterior. Nosso país vive um momento
trágico: o desrespeito a todas as regras predomina (“levar vantagem em tudo”);
a cizânia entre minorias e seus supostos algozes é semeada pelos próprios governantes (“dividir para reinar”); a
violência dos mais ousados contra o povo indefeso é permanente e a inépcia das autoridades uma constante. A
comparação as nações do primeiro mundo deve ser evitada.
Como o tema de mobilidade está em pauta, dou um
exemplo que acabo de viver...
No Dia Mundial Sem Carro, na contramão dos países
civilizados, todos brasileiros saíram com suas “máquinas”. No Rio e em São
Paulo registraram-se recordes de
congestionamento. Mês passado, estávamos na tradicional Gare de Saint Pancras,
uma das principais estações ferroviárias de Londres, prestes a embarcar no trem para Bruxelas. Turistas até por desespero.
Afinal,
ninguém aguenta 365 dias por ano de violência, desrespeito a tudo e a todos, corrupção
explícita dos “donos da bola” e outros malfeitos da República Sindicalista. Nestes tempos de smartphones, aproveitamos o
wi-fi de St. Pancras e avisamos nossas filhas sobre o hotel em que ficaríamos
nos dias seguintes. As moças estavam saindo de um evento na Cidade Nova, lá na Presidente Vargas, Centro do Rio. A
caçula pegava seu carro para voltar à Barra da Tijuca, passando por Ipanema,
onde deixaria a irmã.
O trem parou primeiro em Ebbsfleet, ainda na
Inglaterra e logo submergiu no Oceano
Atlântico, por baixo do Canal da Mancha; subiu em Calais, já na França, para
nova escala; depois passou por Lille e chegou ao destino, 2 horas e 5 minutos
após a partida de Londres. Já em Bruxelas, avisamos as filhas. A mais velha
ficara em Ipanema. A outra, para
surpresa dos pais, respondeu que ainda estava em um engarrafamento em São
Conrado. No século XXI é mais rápido e fácil cruzar três países e passar por
baixo do Canal da Mancha do que ir da Avenida. Presidente Vargas à Sernambetiba.
Explicação: a qualidade dos administradores públicos... Dos daqui e dos de lá. Nós
somos e seremos cada vez mais punidos por viajarmos, pois não devemos tomar
consciência dessa distância entre nossa infeliz realidade e a dos “gringos”.
Governos
monoglotas não perdoam conterrâneos “dazelite” que vão gastar suas divisas para
viver uns poucos dias na civilização. Portanto, 6,38% de IOF no cartão deles!
Ganha a (re)eleição, talvez limitem o número de viagens ao exterior. Querem
trem-bala? Esperem o prometido Rio-Campinas!
JK optou pelo monopólio da rodovia e do carro,
destruiu a malha ferroviária brasileira, a pretexto de eliminar os chamados
“ramais deficitários” e atrasou o País 50 anos nos 5 em que reinou absoluto.
Lula e Dilma incentivaram a compra de carros apesar das emissões de carbono –
afinal lá no abençoado ABC, berço da indústria automobilística, foi incubado o
maldito “ovo da serpente” que está
destruindo o Brasil. Esqueceram, porém, de investir em mais ruas e rodovias,
assim como muitos dos incautos compradores de carros financiados a perder de
vista (posteriormente promovidos a inadimplentes), ignoraram que além das 72
prestações da “máquina” (cujo preço é o dobro do internacional) teriam que pagar IPVA, seguro, combustível
e lubrificantes... Custo-Brasil, filas de caminhões, portos
inacessíveis, falta de motoristas qualificados, mortandade nas ruas e estradas...
Eis o preço do “rodoviarismo” brasileiro. Até quando?
Nenhum comentário:
Postar um comentário