Os próximos tempos serão muito duros para os brasileiros e
nesse contexto qualquer desperdício de recursos é intolerável. O problema é que
o desperdício é inevitável quando falta coordenação no Governo.
Ostentando o recorde bizarro de 38 Ministérios, cujos
titulares jamais conseguem se reunir para efetivamente trabalhar em conjunto e
muitos passam meses sem despachar com a Presidente, nosso Governo
caracteriza-se exatamente pela ausência de coordenação, essencial em qualquer
processo de gestão com o mínimo de racionalidade. Problema agravado pela
generalizada falta de planejamento em setores essenciais da vida nacional.
Quando existe um plano, os gestores têm um referencial comum para suas ações e decisões.
As consequências de ações
múltiplas, executadas por diferentes órgãos que não seguem um plano
global e não se comunicam entre si são muitas vezes danosas, dando origem a:
(a) programas superpostos parcialmente; (b) programas em duplicidade; (c) projetos com objetivos contraditórios;
(d) projetos conflitantes; (e) projetos irrelevantes.
A educação profissional, por exemplo, é realizada sem
qualquer entrosamento, por vários Ministérios e órgãos da iniciativa privada,
os mais importantes dos quais recebem ponderáveis recursos para-fiscais.
Ministério da Educação (MEC), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI) e os diversos órgãos do Sistema S (SENAI, SENAC, SENAR, SENAT
etc) desenvolvem programas de educação
profissional que utilizam recursos públicos vultosos, na casa de mais de uma
dezena de bilhões de reais.
Focando apenas na área da qualificação profissional, que
interessa à grande massa de trabalhadores com níveis mais simples de
conhecimentos e habilidades, verifica-se uma incrível multiplicidade de atores.
O MTE desenvolve tais atividades no bojo do que denomina
Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda (SPETR), financiado pelo FAT,
compreendendo: (1) as ações no âmbito da Lei do Menor Aprendiz, a qual
estabelece que todas as empresas de médio e grande porte estão obrigadas a
contratar, como aprendizes, adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos; (2) os
Planos Territoriais de Qualificação, descentralizados para execução pelas
Secretarias Estaduais e Municipais de Trabalho (ou equivalentes) em parceria
com ONGs; (3) os Planos Setoriais de Qualificação, desenvolvidos com entidades
diversas, focando em preparação de mão de obra para certos setores econômicos
específicos; (4) o ProJovem Trabalhador, em ação descentralizada com
Secretarias Estaduais e a iniciativa privada.
O MEC, por seu turno,
financia/desenvolve o (1) PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e ao Emprego) nos Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia, nos Serviços Nacionais de Aprendizagem (como no Senai e no Senac)
e nas escolas públicas estaduais. Além
disso, repassa verbas ao (2) ProJovem Urbano (educação de jovens e adultos para
elevação de escolaridade, associada ao treinamento para o trabalho) executado
por entidades estaduais e municipais.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) mantém
centenas de Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs), espalhados em todo
território nacional, que executam projetos de qualificação profissional. Outros
Ministérios, como Desenvolvimento Social, Agricultura, Desenvolvimento Agrário,
Turismo também atuam em treinamento.
Agregando os gigantes do Sistema S, além de órgãos estaduais com programas significativos
(o PEQ de São Paulo, a FAETEC no Rio de Janeiro etc), forma-se um quadro de
extrema complexidade, marcado pela falta de planejamento e coordenação.
É notório que apesar de tantas ações convergentes de
treinamento profissional, de bilhões gastos anualmente, o Brasil caracteriza-se
pela precária qualificação de seus trabalhadores, cuja produtividade é baixa e
soma-se ao “custo Brasil” para explicar, por exemplo, a falta de
competitividade de nossa indústria no comércio externo.
No Brasil faz-se qualificação profissional sem qualquer
ligação com as necessidades do mercado de trabalho, pois inexiste o
planejamento correspondente. Forma-se o trabalhador para a busca inglória de um
emprego que não está sendo oferecido pelas empresas, para o desemprego.
De modo geral, os cursos ofertados ao público são de baixa
qualidade e apenas aqueles que as ONGs “amigas” têm capacidade de ministrar.
ONGs cujos “donos”, influentes, estão ligados ao poder e precisam ser
remuneradas.
Há muita duplicação de esforços, qualificando nos cursos que
estão “na moda” e de fácil realização, ao lado de lacunas imperdoáveis,
naquelas profissões que exigem mais equipamento e materiais de consumo para sua
ministração adequada.
Quando se ouve na mídia que o Brasil tem um déficit de 100
mil caminhoneiros, o espanto é geral... Como foi possível chegar a essa
situação? Ninguém acompanha a evolução
da frota de utilitários no país. Não existe um
órgão do Sistema S (o SENAT), para a área de transporte, criado em
1993? Inacreditável! Mas verdadeiro!
Um quadro aterrador. Um setor em que a análise do gasto
público tem grandes possibilidades de realizar economias consideráveis sem que
o país, sua economia e seus trabalhadores sofram qualquer prejuízo.
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