quarta-feira, 17 de junho de 2015

VELHOS: PROBLEMAS DOMÉSTICOS...


Existem milhares de famílias brasileiras que fiéis a uma tradição cultural, comum aos povos latinos, gostariam de manter seus velhos pais e mães dependentes em suas casas todo o sempre, cercados do carinho do lar. Ora em diante, infelizmente, muitas não poderão fazê-lo, por força de uma legislação equivocada, aprovada e sancionada sem analisar todas as suas dimensões e consequências. Até então, a legislação brasileira estabelecia que o cuidado dos membros dependentes deveria ser responsabilidade das famílias mas a Lei Complementar 150, de 1º de junho de 2015, tornou-a caduca na prática: seus familiares velhos se transformaram em grandes problemas domésticos!
Independentemente da conjuntura de crise reinante no país, os reflexos financeiros da PEC das Domésticas afetarão em especial as famílias compostas por crianças e velhos. Em ambos os casos, o custo dos trabalhos domésticos vai crescer expressivamente e se tornar inviável para o bolso da maioria das famílias – inclusive as da classe média, tradicionais tomadoras desses serviços - por força da fixação da carga semanal de 44 horas e dos adicionais atribuídos às horas extra e períodos noturnos. Normalmente, a rotina de crianças e idosos exige a atuação dos empregados além desse limite máximo de carga semanal previsto na legislação. E a situação dos idosos, em função de seu grau de dependência, é a mais aguda e preocupante.
Já na primeira fase da tramitação da nova lei, o mercado reagiu com sua natural flexibilidade para adaptar-se  à nova realidade das crianças da classe média: a maioria das creches particulares passou a funcionar em tempo integral, fornecendo transporte e duas refeições, lavando a roupa da garotada e entregando a turma aos pais, no fim do dia, de banho tomado e já de pijama para dormir.  O ensino pré-escolar privado adotou a mesma postura: tempo integral, transporte, alimentação e prestação de outros serviços para facilitar a vida dos pais que trabalham. Mas é claro, também, que as respectivas  mensalidades  ficaram mais altas e fora do alcance de várias famílias. De qualquer forma, uma solução mais em conta do que as babás com horas extra, adicional noturno, alimentação, moradia e outros benefícios variáveis, além da indesejável burocracia do livro de ponto, da contabilidade de horários, do recolhimento de impostos etc.
No caso dos idosos, porém, soluções semelhantes,  são muito mais difíceis. Nos lares, por força da regulamentação horária referente aos seus cuidadores, os serviços assumem preços exorbitantes. Caso o grau de autonomia do idoso seja reduzido e sua saúde frágil, há necessidade de cuidados permanentes, 24 horas por dia, todos os dias. E aí só os ricos podem manter seus velhos no próprio domicílio, pagando salários e benefícios bastante elevados.
Como resultado da política previdenciária dos últimos Governos, todas as aposentadorias do INSS tendem para o valor de  1 salário mínimo. Por seu turno, as pagas pelo serviço público e pelas estatais – melhores – estão ameaçadas de colapso por força da administração desastrada de seus fundos de pensão.  Aqueles que já são onerados pelo pagamento de planos de saúde exorbitantes, remédios sempre em alta e recebem pensões decrescentes não terão como pagar os encargos referentes, por exemplo, a um só cuidador de idosos.
Uma regulamentação específica para o trabalho dos cuidadores de idosos, incorporando elementos da realidade de seus serviços, com carga horária flexível, seria a solução natural para a questão, mas há pouca esperança de que isso venha a se concretizar.
O caminho pode  estar nas soluções comunitárias que, infelizmente, a classe média brasileira não está acostumada a praticar, exceto quando ocorre alguma catástrofe. Neste caso, acredito, a PEC das Domésticas pode ser uma boa motivação, pois para muitas famílias é mesmo uma catástrofe...
Em linhas gerais, essas novas soluções comunitárias poderiam contemplar:
a)            Condomínios de Casas e Edifícios adaptados para permitirem serviços coletivos aos idosos: salões de festas, playgrounds e outras dependências nas áreas comuns podem ser utilizados como “casas de dia”, assistindo moradores velhos cujos familiares saem para trabalhar, permitindo menores custos e a permanência nos lares;
b)           Condomínios de Casas e Edifícios Especializados, construídos com projeto definido para servir de moradia a idosos independentes e famílias com velhos dependentes que preferem manter no lar. Surgirão, principalmente, caso as iniciativas de adaptação descritas em (a) tiverem sucesso;
c)         ONGs de Idosos ainda autônomos devem ser criadas para organizar  as várias inovações possíveis para a adequada prestação de serviços à velhice, a custos suportáveis, com sistemas de supervisão e controle de qualidade eficientes e eficazes.  Dentre as soluções inovadoras a enfatizar estão as destinadas a tornar as residências adaptadas às necessidades de idosos, a fornecer-lhes regularmente refeições saudáveis e a preços econômicos, a facilitar sua acessibilidade em geral e suas comunicações (inclusive com botões de alarme para emergências) e assim por diante;

d)           Cooperativas: idosos ainda autônomos podem orientar a criação e o funcionamento de cooperativas de cuidadores para velhos dependentes, treinar seus membros, obtendo termos de funcionamento e remuneração viáveis.

IDOSOS: UNI-VOS!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VIAGEM AO PASSADO

O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca... Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência In...