A dívida brasileira, mesmo rebaixada pela Fitch e Moody´s e
jogada no lixo pela Standard & Poor’s seria – sim! - reciclável...desde que o país fosse
governado de modo competente. E aí mora o perigo... O problema, na origem, é
desvendado pela definição indesmentível desde Maquiavel: “A política é a arte
de agradar à maioria...” Foi seduzindo a massa majoritária de eleitores, desinformados
e de boa fé, que chegamos ao populismo esquerdista e à ruina dos cofres
públicos. E ainda há quem queira persistir iludindo o povo. Só que os
brasileiros pobres já estão sofrendo e não mais cairão nessa conversa fiada de
que existe almoço de graça.
Velhos tornam-se refinados chatos quando dizem “já vi esse
filme” ou “vivi essa história”. Infelizmente, para contar o que pretendo, terei
de correr o risco de protagonizar esse tipo abominável – o chato - do qual,
aliás, fugi desesperadamente durante toda minha vida.
No início de 1964 pipocavam as greves, havia muito
quebra-quebra e os “pelegos”, sindicalistas amestrados, com suas bandeiras
vermelhas, embora minoritários, agitavam as praças das cidades, invadiam
propriedades rurais e gritavam slogans comunistas pedindo “reformas de base”, sem
que explicassem bem do que se tratava. A tática de sempre... Quando já não
aguentava tanta ousadia e desfaçatez, a maioria silenciosa do povo brasileiro foi
às ruas, gritou e pediu socorro às Forças Armadas. E assim aconteceu a
Revolução de 31 de março. Transformado em Colégio Eleitoral, o Congresso
realizou a eleição presidencial no dia 11 de abril, dando 98% dos votos ao
General Humberto de Alencar Castello Branco. A situação brasileira era caótica.
Castello Branco chamou Otávio Gouveia de Bulhões, reputado professor de perfil
conservador, para ser Ministro da Fazenda. Ciente do caos do setor
público, criou o cargo de Ministro
Extraordinário para o Planejamento e Coordenação Geral e entregou-o a Roberto
Campos, competente diplomata e economista formado na Universidade de Columbia,
com fortes pendores reformistas, defensor da livre iniciativa. Desde logo ficou
certo que Roberto Campos seria o principal gestor e coordenador da economia
brasileira. Bulhões e Campos encontraram um país destruído e fizeram, no curto
mandato de três anos do Presidente Castello Branco, reformas acertadas e de
grande profundidade. Pavimentaram o terreno para que o Brasil, nos anos
seguintes, crescesse a “taxas chinesas”. Eram grandes amigos, se respeitavam
mutuamente, discutiam à exaustão os grandes temas do momento brasileiro, mas
uma coisa era certa: Roberto Campos era o Ministro hegemônico na economia, só
não opinava em relação às Forças Armadas e à área política. Decisão correta do
Presidente Castello Branco: a economia não admite ambiguidades e um militar
pode bem compreender as contradições geradas pela duplicidade de comando, na efervescência
da batalha.
Trabalhei com o Ministro Campos, na construção do IPEA. No
início meu escritório foi no prédio do Ministério da Fazenda, na Avenida
Presidente Antonio Carlos, no Rio de Janeiro. O Gabinete do Ministro Roberto
Campos ocupava um andar naquele edifício. Inquilino do Ministro Bulhões,
Campos, quando possível, almoçava com ele no salão do terraço.(1)
(1)
Muito jovem,
eu exultava quando tinha a honra de ser convidado para esses almoços
importantíssimos, no belo terraço do velho prédio do Ministério da Fazenda, de
onde se tem uma vista deslumbrante da Baía de Guanabara. Acontecia quando eu
tinha que apresentar um projeto ou uma ideia nova para as áreas de educação e
emprego.
MATOU O GOVERNO E FOI AO CINEMA
Em maio de 2015, o Ministério da Fazenda anunciou a criação
de um sistema de avaliação do gasto público e nasceu a esperança... Era medida
indispensável para um Estado inchado por força da ideologia esquerdista dos
detentores do poder nos últimos vinte anos. E esperança de que o contribuinte
brasileiro seria poupado de ver seu dinheiro escorrer pelos ralos imundos da
corrupção e da fraude, além de desperdiçado por ações descoordenadas, realizadas por múltiplos
órgãos que não seguem um plano global nem se comunicam entre si, executando:
(a) programas superpostos parcialmente; (b) programas em duplicidade; (c) projetos com objetivos contraditórios;
(d) projetos conflitantes; (e) projetos irrelevantes. Em sua maioria
dispensáveis, mas pesando – e muito – no
déficit do setor público brasileiro, alimentado pelo populismo que engana e
sufoca nosso povo.
Passados alguns meses daquele anúncio, verifica-se com
tristeza que o Ministro da Fazenda não atingiu o objetivo então declarado: foi
derrotado e os cortes propostos para as despesas governamentais serão
irrelevantes. O Estado continuará com a voracidade pantagruélica que o levou à
falência e os problemas ora sentidos perpetuar-se-ão, não havendo CPMF que lhes
dê jeito! Muito menos aquela paga na entrada de cinema que lhe vi sacar do
gestual canhestro, em cadeia nacional - tão pequenina, coitada! Infelizmente,
ingresso para rever um filme que já amargamos antes.
Não é possível tirar o país da situação crítica em que se
encontra se a política econômica é ambígua, se seu comandante tem um rival bem
próximo que dá palpites e é do tipo “gastador”.
No Governo Figueiredo, Mario Henrique Simonsen era Ministro
do Planejamento, segurando as despesas públicas para evitar a moratória.
Correndo por fora, como singelo Ministro da Agricultura, mas com grande ambição
de poder e especial competência para ocupar espaços políticos, Delfim Neto
tornou-se o arauto dos colegas gastadores. Em poucos meses conquistou seus
pares, sob o olhar aquiescente do Presidente Figueiredo, um expert em
hipologia.
Uma certa sexta feira, percebendo com seu cérebro de gênio,
o que estava ocorrendo, Simonsen deixou em Brasília uma carta com seu pedido de
demissão e veio para Ipanema. No sábado nos encontramos na praia e comemoramos
sua libertação daquele inferno astral.
Delfim, competente, foi empurrando a situação com sua
portentosa barriga e o Governo Figueiredo acabou pouco antes do dinheiro. Mas o Brasil “quebrou” e pediu moratória logo
adiante, depois que Sarney subiu ao poder.
Excelentes textos como sempre!!! Terrível assistir nosso país se perder, ou melhor, "ser perdido" mais uma vez...
ResponderExcluirAgradeço o incentivo do leitor anônimo e concordo com seu comentário. Mas apesar de tudo mantenho-me esperançoso. Sobretudo depois de ler a PONTE PARA O FUTURO do PMDB, esse pecador arrependido que já percebeu o desastre que foi a guinada à esquerda do Estado brasileiro.
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