Eu preparava um blog sobre a mistificação feita em relação
às estatísticas de desocupação no Brasil. De repente, uma reportagem de TV mostrou-me o desespero das famílias infelicitadas pela perda do emprego por seus membros. As
consequências terríveis foram realçadas: acúmulo de contas a pagar, inadimplência, queda
abrupta no padrão de vida, perda do plano de saúde, incapacidade de manter os
filhos nas escolas de sua escolha e uma constelação de outros problemas. Muito
mais eloquentes do que tudo que eu possa vir a escrever, aqueles dramas humanos
compõem um quadro extremamente penoso, em um país que bem poderia estar em
situação mais confortável. De qualquer forma, não posso omitir-me no tocante à desinformação que corre à solta pelo Brasil. Concentrado na
luta pela manutenção do poder - que lhe escorre pelas mãos politicamente
inábeis e maculadas pelos inúmeros escândalos que brotam em múltiplos setores
da vida nacional – o Governo embaralha toda informação que lhe é desfavorável. É
o caso do mercado de trabalho.
Na última campanha presidencial, o marketing de Dilma bateu
fortemente no Governo FHC, até então recordista absoluto do desemprego no Brasil pós-guerra.Seu
adversário tucano não teve competência para desvincular-se dessa herança
partidária maldita. O problema, porém, é que neste momento a República Sindicalista do
PT já ultrapassou amplamente seus ex-governantes rivais na destruição de empregos
e as perspectivas são sombrias, antevendo-se
grande sofrimento futuro para a classe trabalhadora brasileira, pelo
menos enquanto faltar-nos uma política
de emprego eficaz.
A solução marota consiste em não informar com clareza a opinião pública, em relação às
estatísticas de desemprego no Brasil. A mídia, a qual não dispõe de
especialistas em mercado de trabalho – que
aliás faltam até nos quadros governamentais – está submetida a um excesso de dados parecidos, de fontes
diversas, nem sempre claramente explicados em seus detalhes. Daí, acabam
gerando para seu público uma
tremenda confusão em torno do assunto.
O IBGE mascara a
realidade e confunde-nos quando insiste na divulgação da inútil PME (Pesquisa
Mensal de Emprego) - que cobre apenas 6 (seis) regiões metropolitanas do país e
que há anos deixou de ser relevante. Ao dar publicidade aos resultados da PME de
fevereiro de 2016, que mostram um desemprego de apenas 8,2%, muito abaixo da
desocupação no país como um todo, o IBGE agrada seus patrões e não explica claramente
à mídia o verdadeiro significado e as limitações desses dados.
A confusão do público leigo foi agravada ainda mais pelo
fato de a PME ter sido divulgada na
mesma semana que a PNAD Contínua
relativa ao trimestre de novembro de 2015 a janeiro de 2016, a qual registrou a
taxa média de 9,6% de desemprego para o Brasil como um todo, portanto mais
representativa e bem superior à encontrada na PME . Mas a confusão entre as duas estatísticas
persistiu.
Os analistas qualificados sabem que neste mês de abril, pelo
ritmo crescente recentemente observado, a desocupação já ultrapassou 10%
largamente e já existem quase 11 milhões
de desempregados no país. Mas isso não é lembrado.
Para aumentar ainda mais a confusão patrocinada pelo
aparelhado IBGE, o Ministério do
Trabalho soltou na mesma semana os preocupantes dados do CAGED (Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados), de abrangência nacional, registrando a perda de 104.582 postos de trabalho formal em fevereiro de 2016, que se somam aos 99.694
destruídos em janeiro e aos 596 mil desaparecidos em dezembro de 2015. Um
trimestre com 800 mil empregos que foram para o ralo pela falta de confiança
dos investidores e empresários em geral. Diagnóstico que o Governo finge não ter feito.
Há muita coisa oculta no mundo do trabalho em crise de nosso
país. Será que falta pesquisa ou apenas falta vontade de divulgá-las?
No início de 2015 o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) anunciou que o contingente de trabalhadores domésticos voltara
a aumentar, tentando ocultar a triste realidade: a PEC das Domésticas destruiu o vigor do
mercado de trabalho doméstico no Brasil, além de infernizar a vida
principalmente das famílias que têm crianças e idosos necessitados de cuidados
específicos. Segundo o IBGE, “ao todo,
6,019 milhões de pessoas estavam nesta condição de ocupação no primeiro
trimestre de 2015, contra 5,929 milhões em igual período do ano anterior,
segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua”. O que o IBGE não disse então é que na realidade ocorreu a substituição
maciça de empregadas domésticas de tempo de integral por duas ou até três
diaristas, que não estão sujeitas aos rigores e exageros da nova legislação,
nitidamente populista, aparentemente visando agradar ao imenso universo desse
tipo de trabalhadores. Segundo estudo com dados de 2010, feito em 117 países
pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT), o Brasil tinha 7,2 milhões de empregados domésticos, sendo 6,7
milhões de mulheres e 504 mil homens. Aparecia então como o país com a maior
população de trabalhadores domésticos do mundo em números absolutos. Hoje há pouca demanda de domésticos, a
informalidade é superior a 60% e as famílias mandam suas crianças para as
creches privadas – o Governo prometeu 6
milhões de creches e não cumpriu – e os idosos vão morrer nos asilos também
particulares. A PEC das Domésticas, uma legislação que já nasceu falida,
configura uma política pública equivocada. Mas como muitas outras coisas - no
Brasil da República Sindicalista – permanecerá intocada, infelicitando nosso
povo, até que uma radical mudança política ponha o país de novo no caminho do
desenvolvimento sustentável.
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