A tolerância religiosa é um precioso bem a preservar em nosso país. O Estado laico tem dado animadoras provas de robustez no Brasil.
Em 28 de dezembro de 2009, quando eu ainda mantinha o blog do site arlindolopescorrea.blogspot.com escrevi um texto com minhas reminiscências do bairro de Ipanema, onde nasci. Intitulado “RÉVEILLON DO MEIO AMBIENTE EM 2010” o blog era assim:
Em 28 de dezembro de 2009, quando eu ainda mantinha o blog do site arlindolopescorrea.blogspot.com escrevi um texto com minhas reminiscências do bairro de Ipanema, onde nasci. Intitulado “RÉVEILLON DO MEIO AMBIENTE EM 2010” o blog era assim:
"FELIZ 2010! – 31 de dezembro, final dos anos 40, praia de
Ipanema. No início eram poucos e chegavam de longe – dos subúrbios e da Baixada
Fluminense, de onde houvesse um terreiro de Candomblé ou um Centro de Umbanda.
Vinham de branco, em grupos, contritos e tímidos, um pouco temerosos, talvez.
Afinal, a maioria esmagadora das famílias cariocas professava o Catolicismo e o
temor de alguma incompreensão justificava-se. Mas eram acolhidos em paz por
Ipanema, um espaço da Cidade caracterizado pela tolerância. Eram pobres, mas
vinham para uma grande noite e traziam muitos brilhos, enfeites, oferendas,
flores, imagens, miniaturas de barcos. À tarde já os víamos por lá, em grande
faina, montando os ambientes para o culto, de formas e disposições diversas,
mas sempre de frente para os domínios de Iemanjá e a África ancestral. Quanto a
nós... Bem, parecia combinado, mas não era... Por volta das 10 ou 11 horas da
noite os garotos da Montenegro, da Visconde de Pirajá e das outras ruas, já
liberados pelos pais da ceia familiar de praxe, corriam em bandos para aquelas
areias muito brancas, das quais conheciam todos os mistérios. E percorriam a
orla para lá e para cá, à busca de novidades. Ouvíamos as rezas, as evoluções,
os cânticos, víamos os “passes” das Mães de Santo e até nos surpreendíamos com
alguns “transes” mais fortes. Com o passar dos anos, curiosos, os adultos
saíram de suas poltronas e sofás, começaram a seguir-nos e gostaram! O pretexto
era “tomar a fresca”, aproveitar a brisa generosa no auge do verão carioca e
ver aquela manifestação religiosa cercada de mistério. Alguns de nossos pais,
mais entusiasmados, soltavam fogos na chegada da meia-noite e já brindavam o
Ano Novo com algum espumante levado de casa. A ida à praia no “réveillon”
incorporou-se gradualmente aos hábitos das famílias de Ipanema. Provavelmente
tudo ocorreu da mesma forma em Copacabana e no Leblon. Nascia e se desenvolvia,
assim, um ritual bem carioca de ir “passar o ano” na praia. Atualmente um
evento internacional gigantesco, concentrado em Copacabana para um público
cosmopolita de milhões de pessoas, mas que tem ramificações similares
expressivas em todas as praias da Cidade do Rio de Janeiro. Mas não nos
esqueçamos: começou modestamente e fica na história carioca como herança eterna
dos cultos de origens africanas que a garotada bronzeada dos anos dourados
acolheu e ajudou a consagrar como manifestação cultural brasileira de
importância global."
Transcrevo esse blog de outrora ao perceber, com grande pesar,
que a Prefeitura carioca, ingrata, ignora as origens desse grande evento global e nega
uma pequena verba para que Iemanjá, a nossa Rainha do Mar, seja homenageada por seus súditos, religiosos ou não (como eu...) !
Iemanjá! A verdadeira responsável pelo milagre do Réveillon do Rio de Janeiro! Um evento global, nascido do esplendor misterioso da crença de origem africana da gente simples da Cidade Maravilhosa.
Iemanjá! A verdadeira responsável pelo milagre do Réveillon do Rio de Janeiro! Um evento global, nascido do esplendor misterioso da crença de origem africana da gente simples da Cidade Maravilhosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário