Era uma reunião de pessoas que haviam trabalhado juntas no MOBRAL dos bons tempos. Ambiente alegre,
reencontros agradáveis, lembranças daquela missão árdua mas extremamente
compensadora, com resultados palpáveis a curto prazo. Uma noite memorável.
Em meio às conversas animadas, uma das convivas, que
teve um cargo importante no MOBRAL, se dirige ao grupo em que eu estava e faz
uma pergunta bastante instigante: “como se explica que você, Arlindo, que é de
direita, tenha criado no MOBRAL o Programa de Ação Comunitária, o PRODAC, que é
um típico projeto esquerdista?” Respondi com a simplicidade que a ocasião
exigia, dizendo: só existem projetos bons e maus e eu sempre optei pelos que
considerava bons, como o PRODAC.
O PRODAC era um projeto visando despertar o espírito
comunitário, a solidariedade e para isso se valia da realização de atividades
visando o bem comum. Em resumo, o MOBRAL levantava por amostragem as aspirações
de uma comunidade, partindo de seus problemas e das soluções por ela propostas.
A seguir, reunia a população com os órgãos e autoridades capazes de resolver os
problemas levantados para que juntos – a comunidade tinha sempre que participar
por meio de trabalho voluntário – executassem as ações cabíveis. Era a soma de
planejamento participativo e ação solidária da comunidade e dos órgãos públicos.
Projeto maravilhoso.
Aquela pergunta feita na reunião, que parece
simples, explica muita coisa. E desvenda uma constelação de problemas que são intransponíveis
para as esquerdas quando assumem o poder, levando ao seu fracasso sistemático. É
só olhar para a História: países que adotaram o sistema político comunista ou
cripto-comunista e não acordaram a tempo, modificando-o, fracassaram
invariavelmente, conduziram seus povos à miséria e à opressão.
A esquerda geralmente se sai muito bem na oposição
pois tem ousadia, coragem e desfaçatez suficientes para prometer o céu em plena terra. Mas sempre naufraga
quando assume o poder. Exatamente pelo motivo que a minha interlocutora deixou
entrever com sua pergunta... No mundo real, não existem projetos de esquerda ou
de direita e os atributos dos projetos certamente são outros: viáveis ou
inviáveis; bons ou maus em termos de custo-benefício; prioritários ou de
importância secundária; emergenciais, urgentes ou adiáveis.
Para gestores cegos pela ideologia é que existem os
tais projetos de esquerda, que merecem ser levados adiante, ao contrário dos projetos
de outras matizes, que simplesmente devem
ser ignorados, sufocados.
Só a gestão pragmática da coisa pública, visando o
bem comum, leva à prosperidade e atende aos interesses da nação e de seu povo.
A incapacidade de perceber essa grande verdade é que conduz os governos ao
fracasso.
Para o esquerdista no poder é uma obra digna de ser
executada, por exemplo, um complexo como a Cidade das Artes no Rio de Janeiro,
na Barra da Tijuca, que custou uma fortuna e que só daqui a 20 ou 30 anos será
ocupada plenamente.
Por outro lado, fazer a manutenção adequada do Museu
Nacional, que foi residência de um escravocrata e depois de uma Família
Imperial – a aristocracia em sua
plenitude – esse, embora barato, é um projeto de direita, para esquecer ou ao
qual se deve atribuir prioridade próxima de zero.
O fracasso do esquerdismo na administração pública
resulta do fanatismo cego, da discriminação, da
absoluta falta de pragmatismo. Essa é uma praga e uma verdade
matemática!
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