terça-feira, 4 de setembro de 2018

GESTÃO PRAGMÁTICA OU PRAGA MATEMÁTICA?


Era uma reunião de pessoas que haviam trabalhado  juntas  no MOBRAL dos bons tempos. Ambiente alegre, reencontros agradáveis, lembranças daquela missão árdua mas extremamente compensadora, com resultados palpáveis a curto prazo. Uma noite memorável.
Em meio às conversas animadas, uma das convivas, que teve um cargo importante no MOBRAL, se dirige ao grupo em que eu estava e faz uma pergunta bastante instigante: “como se explica que você, Arlindo, que é de direita, tenha criado no MOBRAL o Programa de Ação Comunitária, o PRODAC, que é um típico projeto esquerdista?” Respondi com a simplicidade que a ocasião exigia, dizendo: só existem projetos bons e maus e eu sempre optei pelos que considerava bons, como o PRODAC.
O PRODAC era um projeto visando despertar o espírito comunitário, a solidariedade e para isso se valia da realização de atividades visando o bem comum. Em resumo, o MOBRAL levantava por amostragem as aspirações de uma comunidade, partindo de seus problemas e das soluções por ela propostas. A seguir, reunia a população com os órgãos e autoridades capazes de resolver os problemas levantados para que juntos – a comunidade tinha sempre que participar por meio de trabalho voluntário – executassem as ações cabíveis. Era a soma de planejamento participativo e ação solidária da comunidade e dos órgãos públicos. Projeto maravilhoso.
Aquela pergunta feita na reunião, que parece simples, explica muita coisa. E desvenda uma constelação de problemas que são intransponíveis para as esquerdas quando assumem o poder, levando ao seu fracasso sistemático. É só olhar para a História: países que adotaram o sistema político comunista ou cripto-comunista e não acordaram a tempo, modificando-o, fracassaram invariavelmente, conduziram seus povos à miséria e à opressão.
A esquerda geralmente se sai muito bem na oposição pois tem ousadia, coragem e desfaçatez suficientes para prometer  o céu em plena terra. Mas sempre naufraga quando assume o poder. Exatamente pelo motivo que a minha interlocutora deixou entrever com sua pergunta... No mundo real, não existem projetos de esquerda ou de direita e os atributos dos projetos certamente são outros: viáveis ou inviáveis; bons ou maus em termos de custo-benefício; prioritários ou de importância secundária; emergenciais, urgentes ou adiáveis.
Para gestores cegos pela ideologia é que existem os tais projetos de esquerda, que merecem ser levados adiante, ao contrário dos projetos de outras matizes,  que simplesmente devem ser ignorados, sufocados.
Só a gestão pragmática da coisa pública, visando o bem comum, leva à prosperidade e atende aos interesses da nação e de seu povo. A incapacidade de perceber essa grande verdade é que conduz os governos ao fracasso.
Para o esquerdista no poder é uma obra digna de ser executada, por exemplo, um complexo como a Cidade das Artes no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, que custou uma fortuna e que só daqui a 20 ou 30 anos será ocupada plenamente.
Por outro lado, fazer a manutenção adequada do Museu Nacional, que foi residência de um escravocrata e depois de uma Família Imperial –  a aristocracia em sua plenitude – esse, embora barato, é um projeto de direita, para esquecer ou ao qual se deve atribuir prioridade próxima de zero.
O fracasso do esquerdismo na administração pública resulta do fanatismo cego, da discriminação, da  absoluta falta de pragmatismo. Essa é uma praga e uma verdade matemática!


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