Quase 600 árvores tombaram na chuvarada de fevereiro de 2019 no Rio de Janeiro – uma perda irreparável.
Sou do tempo em que se comemorava o Dia da Árvore a 21 de
setembro, no prenúncio da primavera. Nesse Dia, crianças e jovens aprendiam que árvores são seres também vivos, da maior importância para a sustentabilidade da Terra e plantavam suas mudas, em busca de um futuro
melhor para seus pósteros e o planeta.
Um dia, muito espantado, ouvi um garotinho dizer que “as
pessoas odeiam os bichos e as árvores: prendem os bichos ou os matam; cortam os
galhos das árvores ou as derrubam...” Infelizmente a franqueza dos inocentes
costuma acertar em cheio: vivemos em uma sociedade que se suicida, marchando
célere para afogar-se em sua própria sujeira. E parte desse
suicídio está no aniquilamento das pobres árvores, que nos dão ar puro, sombra,
frutos, flores e embelezam o planeta. Além de servir de abrigo a outros animais, indispensáveis
para a harmonia da Natureza.
O Rio de Janeiro, em uma chuvarada só, perdeu mais de 500
árvores! Culpa do vento? Não precisamente! Senão vejamos.
No Rio de Janeiro, nossa concessionária de distribuição de
energia elétrica, a LIGHT, nos cobra uma das mais caras tarifas do mundo! Em
média, mais de R$ 1,10 por kWh,
apesar de termos uma das matrizes energéticas mais favoráveis desse mesmo
mundo. Nossas contas de energia elétrica são imorais. Ainda assim, a LIGHT opera com uma rede predominantemente
aérea (85% do total) – e portanto inadequada. A rede aérea faz com que os
apagões – extremamente danosos à população e à economia – sejam constantes e prolongados, por força de previsíveis curtos circuitos causados pelos galhos das árvores que balançam com os ventos
mais fortes. Para tentar remediar esse problema – e não resolvê-lo, como devia
ser – a LIGHT manda suas equipes proceder à poda irracional das árvores, que é feita com
um único critério: cortar todos os galhos que possam tocar os cabos elétricos. Resultado: não são respeitados os ciclos
vegetativos das plantas nem os períodos de reprodução dos pássaros e o atingimento desse objetivo perverso acarreta a poda mortífera e defeituosa. Retiram todos os galhos que ficam do mesmo
lado que os fios elétricos e deixam intactos os do outro lado, gerando um desequilíbrio
que vai redundar, a médio prazo, no tombamento da
árvore. A legislação municipal (Plano Diretor de 2011) manda que a LIGHT
enterre sua fiação, mas trata-se de uma
daquelas “leis que não colaram”! A LIGHT recorreu aos tribunais e estamos há
anos nessa pendência, com o emaranhado de fios causando insegurança à população
e poluindo o visual da Cidade Maravilhosa.
Além da turma da cadeira elétrica (aquela caçamba em que os
operários da LIGHT decepam os troncos e galhos das árvores lá no alto), no caso
do Rio de Janeiro ainda há mais uma milícia colaborando para a morte das
árvores, por meio da poda predatória: as equipes da COMLURB – Companhia de
Limpeza Urbana do Município. O Prefeito da gestão
anterior tirou de Parques e Jardins a atribuição de cuidar das árvores da
cidade e passou-a à COMLURB. Em outras palavras: quem amava nossa flora foi
substituído por quem vê, nas árvores, um incômodo acréscimo de trabalho, por
causa das folhas e galhos que caem e devem ser varridos e removidos. Resultado:
mais podas selvagens, que matam e deformam em vez de revigorar e assegurar um crescimento sadio...
A essas mazelas soma-se a mania de fazer das árvores prisioneiras de canteiros cimentados à sua volta, confinando-as, privando-as do solo e da água, indispensáveis para sua sobrevivência e com raízes que não
conseguem fixar as plantas firmemente à terra.
Finalmente, o vício de origem: escolha de espécies e variedades erradas
para plantio nas zonas urbanas. No Município de Campinas, São Paulo, há mais de 50 anos a Prefeitura só planta as árvores que melhor se adaptam às condições da cidade. Um exemplo fácil de seguir.
Será que a divulgação dessa investigação poderá tocar o coração dos homens e mulheres e fazê-los amar a Natureza e parar de destruir as árvores?
Nenhum comentário:
Postar um comentário