- ROTINA DA NÃO-QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
Chegou a época
do ano em que a mídia repete a notícia
da falta de professores em inúmeras escolas públicas de todo país. O início do ano letivo não chega para todos,
principalmente no ensino médio, em algumas matérias importantes como
Matemática, Física, Química. Problema crônico, generalizado e inaceitável
quando se pretende uma educação de qualidade. Enquanto não sobram professores uma sugestão razoável seria a de se ter um
corpo docente de reserva, pronto para atender emergências, mas que não pesasse
nos cofres públicos a longo prazo. Isso mesmo: temporários que se sentissem
confortáveis nessa posição. É possível e
viável sob o aspecto financeiro.
- TENDÊNCIAS
O ensino médio
brasileiro vive acentuada escassez de professores que irá piorar em breve,
pois as matrículas continuam crescendo, em especial nos sistemas públicos e a
preparação de docentes, apesar de todos os esforços, não está acompanhando essa expansão. Ao mesmo
tempo, existem reservas inaproveitadas de recursos humanos qualificados dentre
as pessoas da terceira idade, que tendem a aumentar, configurando um
desperdício de alto custo econômico e sérias consequências humanas. Nossa
população sofre rápido processo de envelhecimento. O Censo de 2010 registrou a elevação da vida
média do brasileiro para mais de 73 anos e contou 20,5 milhões de residentes
com 60 e mais anos de idade, equivalentes a 11% da população total. Em 2000
eram só 8,6% - 14,5 milhões de pessoas. Em 2009, na PNAD do IBGE, 46% dos idosos se declararam saudáveis e capazes
de trabalhar. Em diversos países que tiveram sua transição demográfica antes do Brasil, prevalece o conceito do
“envelhecimento ativo”, com total inserção social do idoso, inclusive no mundo
do trabalho, onde é capaz de realizar atividades não braçais pelo menos até os
75 anos de idade – um novo “ciclo produtivo”, com características peculiares,
que representa um acréscimo substancial no período de utilização desses recursos humanos. Estratégia válida para reduzir custos e superar
a carência (principalmente a sazonal) de alguns tipos de profissionais que têm
um papel socieconômico relevante e cuja formação é demorada e cara. E também
para evitar problemas psicológicos graves, como depressão e outros distúrbios criados
por inatividades indesejadas da população idosa. Questão que faz parte da agenda de responsabilidade social
de muitas empresas, que aplicam, a seus empregados, programas de transição e adaptação
quando a aposentadoria se aproxima.
- ASPECTOS GERAIS DO PROJETO “SOS-PROFESSOR SENIOR” (SOS-PS)
O PROJETO
SOS-PS utilizará idosos com nível universitário
e devidamente capacitados, no magistério do ensino médio público, atacando
simultaneamente os problemas mencionados. Um,
já totalmente identificado – a carência de docentes – e outro ainda
restrito aos artigos técnicos e teses acadêmicas – causado pelo rápido envelhecimento
da população brasileira, cujas consequências mereceriam maior atenção. O Projeto
envolveria profissionais recrutados dentre:
(1) o pessoal de nível superior, ainda em atividade, mas perto da aposentadoria; (2) os indivíduos da terceira idade com
diploma universitário, inativos, mas capazes e potencialmente desejosos de trabalhar
e (3) os professores que já chegaram à
idade de aposentadoria mas querem continuar lecionando. Pessoas idosas têm
motivações as mais diversas para aderir ao Projeto: algumas para se sentirem ainda úteis à sociedade;
outras para escaparem à rotina da aposentadoria; outras mais para iniciar uma
nova carreira ou ainda complementar seus rendimentos. Recrutados após intensa
mobilização na mídia, cadastrados em um Banco de Recursos Humanos (BRH),
selecionados e treinados, esses contingentes poderão ser aproveitados de várias
maneiras em favor do ensino médio público: a) fazendo parte de uma força-tarefa
que atenderá a chamados de emergência (SOS) para dar aulas presenciais nas
escolas onde, por qualquer motivo, haja falta de professores; b) lecionando
presencialmente, em horários extra ou
nas férias, para grupos de alunos que se preparam para exames vestibulares e
ENEM, ou então para os que necessitem de reposição de aulas perdidas por greve/calamidade
pública ou ainda que careçam de recuperação/reforço pedagógico por demonstrarem
mau aproveitamento escolar; c) prestando serviços educacionais a distância aos
alunos do ensino médio, nos regimes de tutoria ou “tira-dúvidas”, em arranjos
logísticos diversos que vão do trabalho em “call-centers” especializados em
educação ao teletrabalho desde suas residências ou telecentros comunitários. Tarefas
com características que as tornem atraentes, convenientes e leves para os
idosos. Um novo “ciclo de trabalho”, com especificidades adaptadas à terceira
idade. Pesquisas de opinião entre os participantes podem dirimir dúvidas a respeito dessa atratividade
e manter aceso seu entusiasmo.
- EXECUÇÃO DO PROJETO
Pré-condição: Supondo que o Projeto será gerenciado por uma
ONG (idônea, é claro), esta deverá, de início, propor e formalizar uma parceria
com a Secretaria Estadual de Educação (SEE), que tem a responsabilidade legal
de administrar o ensino público de nível
médio na região escolhida. Mobilização:
O Projeto deve ser lançado com
publicidade intensa, utilizando TV em horários nobres, com personalidades conclamando
os interessados ao cadastramento por meio da internet, no site da ONG (ou do
Projeto). Nesse momento inicial, além da grande mídia, inúmeras instituições
podem ser envolvidas e contribuir para essa mobilização, através de seus
cadastros e veículos internos. São aquelas: i) com ponderável participação da
terceira idade em seus quadros sociais como clubes esportivos e militares,
academias de ginástica, Conselhos Profissionais, associações de engenheiros,
médicos, arquitetos, advogados etc; ii) com
parcelas substanciais da clientela constituídas de idosos (laboratórios
farmacêuticos, agências de viagens, planos de saúde, seguradoras); iii) que já
desenvolvem projetos para a terceira idade (alguns planos de saúde como a
UNIMED, bancos, empresas dos setores alimentício e farmacêutico). A campanha de
mobilização deve cuidar para que todas as pessoas recrutadas para o SOS-PS estejam
tocadas pela mística de sua missão,
extremamente importante para o futuro dos jovens estudantes e o aperfeiçoamento
da educação nacional. Com a sensação de que renascerão para a vida ativa e que
sua história de trabalho terá sequência, um PS - de “post scriptum” e também de
Professor Senior. Cadastramento,
Classificaçâo e Treinamento: O Projeto, após o primeiro esforço de mobilização,
receberá os cadastros dos residentes na
região escolhida para implementação, interessados em participar. Os cadastrados vão compor um Banco de Recursos
Humanos (BRH). No processamento dos cadastros dos candidatos, estes serão selecionados e classificados em função
da complexidade do treinamento que precisarão receber para o exercício da
atividade docente. Os participantes precisam familiarizar-se com as
características do Projeto e o modo de relacionamento com a SEE, o que demandará um
rápido treinamento introdutório – que será comum a todos os grupos. Afora isso,
alguns terão necessidade de atualização de conteúdos e de capacitação em
práticas pedagógicas (Didática Geral e prática de ensino relativa à disciplina de
eleição); outros, em apenas um desses aspectos; outros mais já estarão
qualificados, prontos para utilização. A imediatez do aproveitamento dos
cadastrados seguirá a ordem lógica: os que precisarem apenas do treinamento
introdutório serão utilizados primeiro,
seguindo-se os dois outros grupos. A capacitação dos Professores Seniores será
realizada pela própria SEE ou por instituição de ensino superior por ela
indicada. A SEE regulará a utilização e supervisão dos docentes. Utilização:
A mecânica de utilização dos
Professores Seniores no caso do atendimento presencial, nas escolas, seria a
seguinte: 1. a SEE comunica ao Banco de Recursos Humanos (BRH) quantos docentes
necessita, de que disciplinas, em quais períodos, horários e locais. Essa comunicação é feita por via
telefônica, com confirmação por meio da internet; 2. o BRH consulta seus dados,
faz contacto com os Professores Seniores cadastrados que correspondem ao pedido
da SEE e moram próximo às escolas necessitadas, dirigindo-se depois à SEE, por iguais vias (telefone e
internet), mencionando que carências
poderá atender e dando o nome dos Seniores recrutados para a prestação de
serviços, com respectivos locais, horários e disciplinas a ministrar. O credenciamento
dos Professores Seniores e o orçamento dos serviços a serem prestados acompanham a resposta, para aprovação pela SEE
e posterior acerto financeiro. O atendimento tipo “pronto-socorro” objetiva
resolver “aqui e agora” o problema da falta do professor na sala de aula,
qualquer que seja o motivo. É uma solução de natureza extremamente aleatória do
ponto de vista do Professor Senior, a qual poderia desestimular os idosos menos
requisitados para essa prestação de serviços.
Em contrapartida, esses chamados SOS, alguns imprevisíveis e “para hoje”,
terão para os idosos o apelo da quebra de rotina, do chamamento para
experiências novas, em ambientes variados, dando um tom heroico, patriótico e humano
ao seu envolvimento no Projeto. Daí a abreviatura sugestiva, SOS-PS,
significando que as pessoas da terceira idade engajadas no Projeto estão sendo chamadas para socorrer um problema
nacional importante, beneficiando um grupo estratégico para o futuro do país -
os estudantes do ensino público brasileiro – e assim voltando ao mercado de
trabalho. Essa aleatoriedade será compensada pelo fato de que o Professor
Senior também atuará de modo mais
sistemático, dando aulas de reposição, recuperação e reforço pedagógico para
alunos necessitados dessa atenção mais individualizada. Nesse sentido, serão
organizados grupos de alunos a serem atendidos em horários fora da carga
prevista na legislação. Esse tipo de atuação terá caráter compensatório para os
alunos que ainda estão no sistema mas
foram prejudicados em anos recentes pela carência de professores. Esse esforço emendativo
gerará retorno pela economia resultante
da redução dos índices de reprovação, repetência e deserção. O Professor Senior
pode ter outra utilização, no campo da Educação a Distância, servindo na
tutoria aos alunos da rede pública de ensino médio, os quais acessariam (via
telefone ou via computador) uma Central SOS-PS, sempre que tivessem dúvidas
sobre alguma disciplina de seu curso. A
Central redistribuiria o trabalho para os Professores Seniores. Financiamento: O Projeto dará uma resposta apenas parcial aos problemas que
pretende atacar, ficando claro que o BRH só terá a obrigação de atender no
curto prazo aos pedidos da SEE que estejam dentro de suas possibilidades
imediatas, não havendo o compromisso de suprir todas as necessidades surgidas e
explicitadas pela SEE. O acordo preverá de que forma os docentes serão
remunerados e como se fará a repartição das despesas entre a SEE e os
mantenedores da ONG. Este Projeto poderá ser financiado por algumas empresas
que já estão conscientes das consequências do envelhecimento da população
brasileira, como os planos de saúde e seguradoras. Pode também suscitar o
interesse dos laboratórios farmacêuticos que têm grande parte de seu
faturamento proveniente da venda de remédios de uso prolongado e de bancos,
pois os investidores da terceira idade constituem fatia crescente dos
aplicadores no mercado financeiro. E também de empresas que aplicam, a seus
empregados, programas de transição e adaptação à aposentadoria. É viável o patrocínio
simultâneo, por várias empresas, no regime de cotas em dinheiro,
correspondentes a um certo número de
professores-hora a serem postos à disposição da SEE, que por seu turno poderia dar
uma contrapartida financeira que confirmasse seu interesse no Projeto. Não é
fora de propósito projetar um futuro aporte de recursos de órgãos públicos
federais como FNDE do MEC e FAT do MTE, desde que observados resultados
positivos.
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