quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SOS PROFESSOR SENIOR

  • ROTINA DA NÃO-QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
Chegou a época do ano em que a mídia repete a  notícia da falta de professores em inúmeras escolas públicas de todo país.  O início do ano letivo não chega para todos, principalmente no ensino médio, em algumas matérias importantes como Matemática, Física, Química. Problema crônico, generalizado e inaceitável quando se pretende uma educação de qualidade. Enquanto não sobram professores  uma sugestão razoável seria a de se ter um corpo docente de reserva, pronto para atender emergências, mas que não pesasse nos cofres públicos a longo prazo. Isso mesmo: temporários que se sentissem confortáveis nessa posição.  É possível e viável sob o aspecto financeiro.

  • TENDÊNCIAS
O ensino médio brasileiro vive  acentuada  escassez de professores que irá piorar em breve, pois as matrículas continuam crescendo, em especial nos sistemas públicos e a preparação de docentes, apesar de todos os esforços,  não está acompanhando essa expansão. Ao mesmo tempo, existem reservas inaproveitadas de recursos humanos qualificados   dentre as pessoas da terceira idade, que tendem a aumentar, configurando um desperdício de alto custo econômico e sérias consequências humanas. Nossa população sofre rápido processo de envelhecimento.  O Censo de 2010 registrou a elevação da vida média do brasileiro para mais de 73 anos e contou 20,5 milhões de residentes com 60 e mais anos de idade, equivalentes a 11% da população total. Em 2000 eram só 8,6% - 14,5 milhões de pessoas. Em 2009, na PNAD do IBGE, 46%  dos idosos se declararam saudáveis e capazes de trabalhar. Em diversos países que tiveram sua transição demográfica  antes do Brasil, prevalece o conceito do “envelhecimento ativo”, com total inserção social do idoso, inclusive no mundo do trabalho, onde é capaz de realizar atividades não braçais pelo menos até os 75 anos de idade – um novo “ciclo produtivo”, com características peculiares, que representa um acréscimo substancial no período de utilização  desses recursos humanos.  Estratégia válida para reduzir custos e superar a carência (principalmente a sazonal) de alguns tipos de profissionais que têm um papel socieconômico relevante e cuja formação é demorada e cara. E também para evitar problemas psicológicos graves, como depressão e outros distúrbios criados por inatividades indesejadas da população idosa. Questão que  faz parte da agenda de responsabilidade social de muitas empresas, que aplicam, a seus empregados, programas de transição e adaptação quando a aposentadoria se aproxima.

  • ASPECTOS GERAIS DO PROJETO “SOS-PROFESSOR SENIOR” (SOS-PS)
O PROJETO SOS-PS utilizará idosos com nível  universitário e devidamente capacitados, no magistério do ensino médio público, atacando simultaneamente os problemas mencionados. Um,  já totalmente identificado – a carência de docentes – e outro ainda restrito aos artigos técnicos e teses acadêmicas – causado pelo rápido envelhecimento da população brasileira, cujas consequências mereceriam maior atenção. O Projeto envolveria profissionais recrutados dentre:  (1) o pessoal de nível superior, ainda em atividade,  mas perto da aposentadoria;  (2) os indivíduos da terceira idade com diploma universitário, inativos, mas capazes e potencialmente desejosos de trabalhar e (3) os  professores que já chegaram à idade de aposentadoria mas querem continuar lecionando. Pessoas idosas têm motivações as mais diversas para aderir ao Projeto: algumas  para se sentirem ainda úteis à sociedade; outras para escaparem à rotina da aposentadoria; outras mais para iniciar uma nova carreira ou ainda complementar seus rendimentos. Recrutados após intensa mobilização na mídia, cadastrados em um Banco de Recursos Humanos (BRH), selecionados e treinados, esses contingentes poderão ser aproveitados de várias maneiras em favor do ensino médio público: a) fazendo parte de uma força-tarefa que atenderá a chamados de emergência (SOS) para dar aulas presenciais nas escolas onde, por qualquer motivo, haja falta de professores; b) lecionando presencialmente, em horários extra  ou nas férias, para grupos de alunos que se preparam para exames vestibulares e ENEM, ou então para os que necessitem de reposição de aulas perdidas por greve/calamidade pública ou ainda que careçam de recuperação/reforço pedagógico por demonstrarem mau aproveitamento escolar; c) prestando serviços educacionais a distância aos alunos do ensino médio, nos regimes de tutoria ou “tira-dúvidas”, em arranjos logísticos diversos que vão do trabalho em “call-centers” especializados em educação ao teletrabalho desde suas residências ou telecentros comunitários. Tarefas com características que as tornem atraentes, convenientes e leves para os idosos. Um novo “ciclo de trabalho”, com especificidades adaptadas à terceira idade. Pesquisas de opinião entre os participantes podem  dirimir dúvidas a respeito dessa atratividade e manter aceso seu entusiasmo.

  • EXECUÇÃO DO PROJETO

Pré-condição:  Supondo que o Projeto será gerenciado por uma ONG (idônea, é claro), esta deverá, de início, propor e formalizar uma parceria com a Secretaria Estadual de Educação (SEE), que tem a responsabilidade legal de administrar  o ensino público de nível médio na região escolhida. Mobilização: O Projeto deve ser  lançado com publicidade intensa, utilizando TV em horários nobres, com personalidades conclamando os interessados ao cadastramento por meio da internet, no site da ONG (ou do Projeto). Nesse momento inicial, além da grande mídia, inúmeras instituições podem ser envolvidas e contribuir para essa mobilização, através de seus cadastros e veículos internos. São aquelas: i) com ponderável participação da terceira idade em seus quadros sociais como clubes esportivos e militares, academias de ginástica, Conselhos Profissionais, associações de engenheiros, médicos, arquitetos,  advogados etc; ii) com parcelas substanciais da clientela constituídas de idosos (laboratórios farmacêuticos, agências de viagens, planos de saúde, seguradoras); iii) que já desenvolvem projetos para a terceira idade (alguns planos de saúde como a UNIMED, bancos, empresas dos setores alimentício e farmacêutico). A campanha de mobilização deve cuidar para que todas as pessoas recrutadas para o SOS-PS estejam tocadas pela mística  de sua missão, extremamente importante para o futuro dos jovens estudantes e o aperfeiçoamento da educação nacional. Com a sensação de que renascerão para a vida ativa e que sua história de trabalho terá sequência, um PS - de “post scriptum” e também de Professor Senior.   Cadastramento, Classificaçâo e Treinamento: O Projeto, após o primeiro esforço de mobilização, receberá os cadastros dos  residentes na região escolhida para implementação, interessados em participar. Os  cadastrados vão compor um Banco de Recursos Humanos (BRH). No processamento dos cadastros dos candidatos, estes  serão selecionados e classificados em função da complexidade do treinamento que precisarão receber para o exercício da atividade docente. Os participantes precisam familiarizar-se com as características do Projeto e o modo de  relacionamento com a SEE, o que demandará um rápido treinamento introdutório – que será comum a todos os grupos. Afora isso, alguns terão necessidade de atualização de conteúdos e de capacitação em práticas pedagógicas (Didática Geral  e prática de ensino relativa à disciplina de eleição); outros, em apenas um desses aspectos; outros mais já estarão qualificados, prontos para utilização. A imediatez do aproveitamento dos cadastrados seguirá a ordem lógica: os que precisarem apenas do treinamento introdutório serão utilizados  primeiro, seguindo-se os dois outros grupos. A capacitação dos Professores Seniores será realizada pela própria SEE ou por instituição de ensino superior por ela indicada. A SEE regulará a utilização e supervisão dos docentes.  Utilização:  A mecânica de utilização dos Professores Seniores no caso do atendimento presencial, nas escolas, seria a seguinte: 1. a SEE comunica ao Banco de Recursos Humanos (BRH) quantos docentes necessita, de que disciplinas, em quais períodos, horários  e locais. Essa comunicação é feita por via telefônica, com confirmação por meio da internet; 2. o BRH consulta seus dados, faz contacto com os Professores Seniores cadastrados que correspondem ao pedido da SEE e moram próximo às escolas necessitadas, dirigindo-se depois  à SEE, por iguais vias (telefone e internet),  mencionando que carências poderá atender e dando o nome dos Seniores recrutados para a prestação de serviços, com respectivos locais, horários e disciplinas a ministrar. O credenciamento dos Professores Seniores e o orçamento dos serviços a serem prestados  acompanham a resposta, para aprovação pela SEE e posterior acerto financeiro. O atendimento tipo “pronto-socorro” objetiva resolver “aqui e agora” o problema da falta do professor na sala de aula, qualquer que seja o motivo. É uma solução de natureza extremamente aleatória do ponto de vista do Professor Senior, a qual poderia desestimular os idosos menos requisitados para essa prestação de serviços.  Em contrapartida, esses chamados SOS, alguns imprevisíveis e “para hoje”, terão para os idosos o apelo da quebra de rotina, do chamamento para experiências novas, em ambientes variados, dando um tom heroico, patriótico e humano ao seu envolvimento no Projeto. Daí a abreviatura sugestiva, SOS-PS, significando que as pessoas da terceira idade engajadas no Projeto  estão sendo chamadas para socorrer um problema nacional importante, beneficiando um grupo estratégico para o futuro do país - os estudantes do ensino público brasileiro – e assim voltando ao mercado de trabalho. Essa aleatoriedade será compensada pelo fato de que o Professor Senior também  atuará de modo mais sistemático, dando aulas de reposição, recuperação e reforço pedagógico para alunos necessitados dessa atenção mais individualizada. Nesse sentido, serão organizados grupos de alunos a serem atendidos em horários fora da carga prevista na legislação. Esse tipo de atuação terá caráter compensatório para os alunos que ainda estão no sistema  mas foram prejudicados em anos recentes pela carência de professores. Esse esforço emendativo  gerará retorno pela economia resultante da redução dos índices de reprovação, repetência e deserção. O Professor Senior pode ter outra utilização, no campo da Educação a Distância, servindo na tutoria aos alunos da rede pública de ensino médio, os quais acessariam (via telefone ou via computador) uma Central SOS-PS, sempre que tivessem dúvidas sobre alguma disciplina de seu curso.  A Central redistribuiria o trabalho para os Professores Seniores. Financiamento: O Projeto dará uma  resposta apenas parcial aos problemas que pretende atacar, ficando claro que o BRH só terá a obrigação de atender no curto prazo aos pedidos da SEE que estejam dentro de suas possibilidades imediatas, não havendo o compromisso de suprir todas as necessidades surgidas e explicitadas pela SEE. O acordo preverá de que forma os docentes serão remunerados e como se fará a repartição das despesas entre a SEE e os mantenedores da ONG. Este Projeto poderá ser financiado por algumas empresas que já estão conscientes das consequências do envelhecimento da população brasileira, como os planos de saúde e seguradoras. Pode também suscitar o interesse dos laboratórios farmacêuticos que têm grande parte de seu faturamento proveniente da venda de remédios de uso prolongado e de bancos, pois os investidores da terceira idade constituem fatia crescente dos aplicadores no mercado financeiro. E também de empresas que aplicam, a seus empregados, programas de transição e adaptação à aposentadoria. É viável o patrocínio simultâneo, por várias empresas, no regime de cotas em dinheiro, correspondentes a  um certo número de professores-hora a serem postos à disposição da SEE, que por seu turno poderia dar uma contrapartida financeira que confirmasse seu interesse no Projeto. Não é fora de propósito projetar um futuro aporte de recursos de órgãos públicos federais como FNDE do MEC e FAT do MTE, desde que observados resultados positivos. 

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