segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

PROFESSOR TALENTOSO: ESSENCIAL NA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

O professor talentoso, bem formado e motivado, é um fator de primordial importância para a educação de qualidade. Mas os jovens brasileiros talentosos não se imaginam dando aula numa escola pública de ensino básico.                                                                                                   
Para cada país, em determinado momento, existem profissões com maiores ou menores atrativos. Há, inclusive, aquelas que sofrem rejeição, como é o caso da carreira de professor de educação básica no Brasil atual. Os especialistas invocam as chamadas forças de atração e de repulsão, que explicariam a cotação que os candidatos a emprego atribuem às diferentes opções que lhes são oferecidas pelo mercado. Mas não há uma lógica irrefutável. O problema é complexo e envolve muitas variáveis, tanto objetivas quanto intangíveis: remuneração, prestígio social, estabilidade no emprego, condições de trabalho, vocação, busca de notoriedade, tradição familiar... Enfim, um emaranhado causal  indecifrável. Mas uma coisa é certa: a carreira de professor de educação básica não tem grande atratividade no Brasil, especialmente para o exercício profissional nas escolas públicas, embora também apresente muitos aspectos positivos. As estatísticas causam alarme e registram que as Licenciaturas, relativamente, têm cada vez menos candidatos que as demais carreiras tradicionais e que os futuros docentes têm resultados acadêmicos progressivamente mais fracos a cada ano. Seria esse um motivo para desistir de recrutar um professorado constituído de pessoas talentosas? Certamente que não! Afinal, os incontáveis cursos de teatro, dança, música, bailado etc mantidos pelas ONGs nas comunidades carentes do Brasil vivem repletos, assim como os seus similares frequentados pelas classes médias, mas todos sabem das agruras e incertezas das respectivas profissões. Afora umas poucas centenas de artistas que fazem sucesso e fortuna, a imensa maioria desses trabalhadores vive penando nas piores condições, em busca de um lugar ao sol. Qual será o mistério dessa atratividade pelas luzes da ribalta que a sala de aula não tem?  
  • A EDUCAÇÂO DEVE TER SEU PROGRAMA DE TV!
A televisão é tão potente e influente no Brasil que há quem lhe atribua a capacidade de mudar paradigmas, criar ídolos e vilões, vender o invendável. “Não deu na  TV ? Não aconteceu !” (Walter Clark, Diretor de Rede de TV). Uma hipótese razoável, portanto, é que quando os artistas aparecem na mídia, estão ali para se exibir e brilhar, ganhar notoriedade e aquele sempre bem-vindo prestígio social inerente às ocupações da área cultural. As situações de insucesso, penúria, vícios, infelicidade, embora frequentes, só raramente são focalizadas. Em contrapartida, a atividade do professor de educação básica tem sido mostrada pela mídia exatamente nas condições mais desfavoráveis: ao sofrer algum tipo de violência; reivindicando melhoria salarial em greves intermináveis; quando sua escola deixa de funcionar porque houve tiroteio nas vizinhanças ou o teto da sala de aula caiu, por conta das infiltrações etc. A TV aberta está presente em praticamente todos os lares brasileiros e a influência que exerce é tão fantástica que a carreira do magistério do ensino fundamental e médio poderia ter um “ponto de inflexão” se recebesse sua ajuda deliberada e competentemente orientada. Uma sugestão seria produzir e veicular semanalmente, em cadeia nacional de emissora  aberta, de grande audiência, um Programa de TV sobre a educação, em sua realidade integral e não apenas pelo seu lado desfavorável. Agradável ao gosto popular, comandado por um comunicador consagrado, o Programa visará “virar o jogo” e conciliar uma audiência apreciável, atingindo o grande público, com o empenho em apresentar o professor e seu trabalho como temas centrais. Objetivará elevar o prestígio social e autoestima do professorado da educação básica, para reter/atrair talentos, notadamente para atuar no ensino público. Existem mais de 2 milhões de docentes em atividade em todos os níveis, espalhados pelo vasto território do Brasil, que o Programa atingirá  diretamente. Mas, potencialmente, todos os públicos serão tocados, de modo a mudar a percepção geral que se tem da profissão.
  • PROGRAMAÇÃO
Em princípio, a programação seguiria os modelos com grande audiência já existentes, que podem ser denominados de segmentados ou“setoriais” – caso dos programas rurais – e que tanto sucesso tiveram no Brasil, a ponto de se multiplicarem e tornarem onipresentes. Obviamente, a programação  dedicada  à educação básica terá aspectos diferenciais, de modo a atingir seus objetivos específicos. Após uma análise dos resultados das pesquisas existentes sobre as aspirações do professorado brasileiro, a equipe de produção do Programa definirá conteúdos e formatos iniciais. Ao longo da veiculação do Programa - e até utilizando-o como instrumento de coleta de informações - será possivel focar nos temas mais sensíveis ao professorado do ensino público e aos estudantes candidatos às Licenciaturas, já agora com sintonia fina, imprimindo à produção uma dinâmica objetiva, de base científica. No Programa idealizado, haverá um mosaico de formatos distintos: notíciário, entrevistas, reportagens, dramaturgia, documentários, seções fixas de perguntas/concursos e de interação com o público. Mas a constante será manter o professor como sua figura central, respeitada, reverenciada, amada, humana, benemérita, importante para o futuro do país, mostrando seu trabalho e seus exemplos positivos. O Programa exibirá ao público, sempre que possível, o professor real, que está atuando em sala de aula - e não um personagem, um ator. As  matérias com o mestre de carne e osso serão filmadas “in loco”, trabalhando em  sua escola ou na comunidade, de modo que tenha “os seus quinze minutos de glória”, um dos ingredientes básicos do projeto. Essa notoriedade, ainda que fugaz, exerce uma grande atração sobre nosso povo e o professor brasileiro do ensino básico – que não é diferente – precisa e quer aparecer, ganhar em autoestima, recuperar seu prestígio social. Visto como um elemento importante para a comunidade e protagonista do desenvolvimento nacional.
Independentemente de pesquisa, alguns conteúdos e formatos devem ser quase que obrigatórios no Programa:
a)Embora a educação brasileira seja de qualidade sofrível para ruim (vide colocações obtidas pelos estudantes brasileiros nos testes PISA da OCDE), há muitos trabalhos excelentes sendo feitos pelos nossos docentes, nos vários níveis de ensino. Utilizando o formato “reportagem”, deve-se focar nesses exemplos com o maior detalhe possível, pois que veiculados servirão para aperfeiçoamento dos demais professores, originando séries pedagógicas de educação a  distância e transmissão de práticas que oxigenarão o sistema;
b)A gestão de qualidade merece seu espaço midiático. Os trabalhos meritórios dos diretores das escolas básicas e das autoridades educacionais devem ser ressaltados nas reportagens, pois uma liderança dinâmica pode transformar comandados,  revelar  elementos úteis e laboriosos – cujo talento dormitava no marasmo  de um  sistema burocrático;
c)O noticiário atualizado sobre assuntos de interesse coletivo, como a legislação educacional (sem o “bias” da “chapa branca”), problemas e soluções do cotidiano escolar, os fatos curiosos vividos pelos professores em seu trabalho etc deve constar da grade programática, sempre apresentando o docente de forma positiva;
d)Ações de heroismo e dedicação extrema dos docentes brasileiros devem ser apresentados frequentemente e para isso a dramaturgia – ponto alto da nossa TV, internacionalmente reconhecido - jogará papel de relevo. Mostrando, por exemplo,  como a ação de um professor pode mudar a vida de pessoas ou comunidades inteiras. Na história do rádio brasileiro registra-se que em meados do século passado, a Rádio Nacional veiculava um programa de grande audiência que levou muitos jovens a optar pela carreira médica. O título era “Obrigado Doutor” e seu apresentador - famoso  - era o obstetra Paulo Roberto. Contava histórias fantásticas de vidas salvas pelo conhecimento científico, dedicação, intuição ou amor à profissão de médicos reais ou fictícios, geralmente clinicando no interior, sem dispor de maiores recursos. Um sucesso que comovia multidões!
e)O Programa deve ter também um concurso de perguntas e respostas só para docentes do ensino médio e fundamental, com ótimas premiações, crescentes à medida que o  candidato vá vencendo etapas, acertando todos quesitos, estabelecendo-se um limite superior de premiação bem elevado. Também no século passado, um programa de TV desse tipo fazia sucesso estrondoso: denominado “O Céu é o Limite”, seu comunicador era J. Silvestre. Os professores precisam ter a sensação de que, caso se esforcem, podem ficar famosos, ganhar milhões e que sua carreira não é “um beco sem saída”, rotineira e desprestigiada. E  o brasileiro deve conscientizar-se de que o saber do mestre tem valor inestimável;
f)No sentido de manter os docentes atualizados, o Programa deve divulgar pesquisas sobre educação realizadas no Brasil e no exterior, principalmente quando seus resultados  acarretarem inovações/reorientações no ensino. No formato de documentário ou noticiário, a seção deve dar prêmios de viagens para professores conhecerem  as inovações de sucesso;
g)As premiações de docentes devem ser uma constante do Programa. Proporcionar-lhes estágios em Universidades estrangeiras ou bolsas para Mestrado e Doutorado no Brasil, sempre em valores atraentes. O Programa deve contribuir para que desfrutem de oportunidades de uma educação continuada de qualidade. Os prêmios  serão atribuídos a docentes que realizem trabalhos pedagógicos notáveis, selecionados dentre as reportagens realizadas ou em concursos específicos promovidos pelo Programa;
h)O Programa deve manter um “site” na web, buscando a interação permanente com os telespectadores, por meios diversos, recolhendo sugestões, reclamações, opiniões, enfim recebendo o “feedback” sempre útil para o aperfeiçoamento do Programa.
i)A preocupação com a criação de conceitos novos, faltantes na educação brasileira, pode ser outra grande contribuição do Programa. A discussão de temas abordando “a escola como centro da comunidade”, “o controle de qualidade do processo educacional pela sua  clientela e não por órgãos públicos e burocráticos”, “a implantação da figura do professor de família, elemento democratizante para atuação junto às famílias pobres e miseráveis” etc etc podem dar origem a debates interessantes, para arejar o setor educacional e consequentemente gerar um ambiente mais propício aos profissionais talentosos.
O Programa, em rede nacional, atingirá o público telespectador em geral, conscientizando-o sobre a importância da educação e evidentemente devendo agradá-lo como espetáculo e entretenimento, de modo a maximizar a audiência. Mas para a equipe de produção do Programa, o público-alvo subjacente será o professorado brasileiro em todos os níveis, que se  quer valorizar, assim como jovens na fase de escolha da profissão, que se quer atrair.
As premiações em dinheiro, oferecidas pelo Programa, servirão de estímulo aos professores qualificados que ali verão sua chance real de desfrutar de uma boa qualidade de vida  Os prêmios em viagens de estudo atrairão pessoas talentosas, que almejam a oportunidade de crescer intelectualmente, aproveitar plenamente seu potencial. Não haverá dificuldades em produzir um programa do agrado do grande público, pois o Brasil faz uma televisão reconhecida mundialmente como de ótimo nível.  Desse modo, o Programa poderá, efetivamente,  mudar a atual percepção sobre o exercício do magistério no Brasil, mostrando as boas práticas pedagógicas, o dinamismo dos melhores exemplos de direção das escolas e a inovação nascida das pesquisas divulgadas. O Programa será financiado por meio do patrocínio, integral ou em cotas, de empresas de âmbito nacional, dentro de seus programas usuais de publicidade e marketing. Mas pode também concorrer, pela sua natureza, aos incentivos fiscais da área cultural (Lei Rouanet). Os indicadores de êxito serão audiência em alta, visitas maciças ao “site”, correspondência volumosa, envio espontâneo de matéria pelos professores e seus diretores.
São produtos esperados do projeto: a) a difusão de pesquisas educacionais, de inovações pedagógicas e de boas práticas de ensino; b) a educação continuada e consequente aperfeiçoamento dos docentes que assistem ao Programa; c) a produção de material bruto para séries de treinamento de professores; d) estímulo à meritocracia pela premiação dos mestres mais destacados; e) o aumento do prestígio social do professorado; f) a atração de talentos para a carreira; g) a criação de um amplo espaço participativo e de interação com o público para os docentes brasileiros; h) o debate dos grandes problemas da educação nacional e a introdução, nessa discussão, de conceitos inovadores e renovadores do setor.
  • CONCLUSÃO
Talvez não seja possível medir o imenso retorno financeiro que, nos últimos trinta anos, os programas rurais de televisão deram à produção da agropecuária e à renda do homem do campo no Brasil. Caso um exercício econométrico nesse sentido fosse possível e efetivamente realizado, seu resultado certamente aconselharia a implementação do Programa de TV sobre Educação aqui proposto. "Quem não se comunica se trumbica" (Abelardo Chacrinha Barbosa, animador de TV).       




2 comentários:

  1. Que grande projeto! Lamentável que não haja interesse por algo deste calibre no Brasil.
    Jr

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  2. Caro Junior: quem sabe um dia... Grato pelo seu incentivo, Arlindo

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