Educação de qualidade é um remédio definitivo - sem
contraindicações - para a cura da pobreza e da miséria. Talvez não seja o
único, mas é o caminho mais seguro e de menor custo, com a vantagem de gerar
inúmeros subprodutos valiosos – a curto e a longo prazo - para a construção do
bem comum. Pena que nem todos os governos abracem com sinceridade e competência
essa verdade, amplamente comprovada pela história das nações.
Filho de imigrantes que compreendiam o valor primordial da
educação, posso bem avaliar o significado socioeconômico e o peso emocional extremamente
positivo do primeiro diploma universitário conquistado por famílias que lutam por uma vida melhor e a cujos ascendentes faltaram oportunidades de realização intelectual no
passado. Cabe o lugar comum: O PRIMEIRO DIPLOMA UNIVERSITÁRIO A FAMÍLIA NÃO
ESQUECE!
É, portanto, fácil imaginar a desesperança de centenas de
milhares de jovens de baixa renda que acreditaram no FIES e que o perderam por
força da falência das finanças públicas. Infelicitados multiplamente pois tiveram
que interromper os estudos antes de
concluir seus cursos, contraíram uma dívida acima de suas posses e frustraram seus sonhos de uma carreira
profissional sólida.
Durante sete anos (1965-1971) coordenei os setores do IPEA
encarregados do planejamento de educação e mão de obra do Governo Federal. Sei,
por dever de ofício, que o programa deveria e poderia ter sido conduzido com maior
cuidado, para não exceder sua capacidade
financeira nem ferir as leis do mercado
de trabalho. Em vez disso, em especial a partir de 2010, o FIES foi modificado deliberadamente
e agigantou-se, assumindo características que previsivelmente iriam inviabilizá-lo mais cedo ou mais tarde.
A expansão do ensino superior, que forma os trabalhadores
mais qualificados do país e tem custos muito elevados, deve ser feita essencialmente
atendendo às necessidades previstas do mercado de trabalho, pela ampliação dos
estabelecimentos educacionais de melhor qualidade. Não foi o que ocorreu: o
governo populista cooptou faculdades e universidades de qualidade heterogênea,
com seu dinheiro fácil, para a aventura do crescimento
irresponsável e seduziu os estudantes, justificadamente ansiosos pela conquista
do ambicionado diploma de ensino superior.
Um dia, aparentemente surpreso, o Ministro da Educação declarou
para a mídia que “o dinheiro do FIES acabou!”. Desvendada a verdade, centenas de milhares de estudantes
universitários foram defenestrados do
programa e frustraram seus sonhos profissionais.
Para piorar o quadro, de acordo com o CAGED, divulgado pelo
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o mercado formal celetista, com a queda
de 169.131 postos de trabalho em outubro de 2015, acumulou no ano uma redução
de 818.918 postos de trabalho com carteira assinada. Nos últimos doze meses,
foram perdidos 1.381.992 empregos.
Muitos desses demitidos estavam no FIES,
dependiam de seus salários para sobreviverem e do financiamento – ora descontinuado - para
estudarem. Com o colapso do programa,
sofrerão perda irreparável.
Para muitos deles a
conquista do ambicionado diploma era o ideal que daria um sentido às suas
vidas.
O GOVERNO FEDERAL TEM A OBRIGAÇÃO MORAL DE AMENIZAR ESSA
TREMENDA FRUSTRAÇÃO DE NOSSA JUVENTUDE!!!
Algumas sugestões
podem ajudar, sempre levando em consideração que há diferentes situações a contemplar. Os estudantes abandonaram seus cursos em estágios diversos, em função da data de entrada no ensino superior. O
importante é que não se perca os investimentos
feitos pelos alunos e também se tire proveito da expansão de vagas que
os estabelecimentos realizaram para atender à continuidade do programa que,
afinal, murchou.
Nesse sentido, cumpre
lembrar que compete à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC)
do MEC, conforme o Art. 13 do Decreto nº 7.690, de 2 de março de 2012, dentre
outros objetivos, o de “desenvolver novos modelos de gestão e de parceria
público-privada, na perspectiva da unificação, otimização e expansão da
Educação Profissional e Tecnológica”. No âmbito dessa competência, o MEC pode e
deve articular, com os estabelecimentos que perderam bolsistas do FIES, uma ação
emergencial para aproveitar os estudos já feitos por esses alunos – seus
créditos acadêmicos – em cursos tecnológicos com características acadêmicas
similares aos abandonados. Por serem de curta duração, tais cursos
possibilitariam aos estudantes uma alternativa de formação superior de custo
mais baixo, além da possibilidade de ingresso mais rápido no mercado de
trabalho em condições favoráveis de empregabilidade e mesmo de salário, apesar
de todas as dificuldades geradas pela crise econômica.
Outra solução pode ser a continuidade dos estudos dos alunos
alijados do FIES em cursos de educação a distância (EAD), que apresentam baixo custo e que o próprio MEC
pode providenciar e prover até gratuitamente.
Paralelamente, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) deveria engajar o Sistema Nacional de Emprego
(SINE) nesse esforço, atendendo náufragos do FIES com prioridade em suas agências para dar-lhes
orientação vocacional, além de facilitar seu encaminhamento e colocação nas
empresas que oferecem vagas. Essa coordenação entre os sistemas MEC e MTE,
desejável sob todos os aspectos, seria um fator de aperfeiçoamento do
claudicante conceito de educação continuada que nossas autoridades ainda não
conseguiram consolidar.
Não há maior injustiça social do que aquela causada pelas
falsas promessas de redução das desigualdades. O Governo tem que resgatar essa
dívida moral e dispõe dos meios para fazê-lo. Basta vontade política!
O Governo Federal está tomando as providências necessárias para ocupar 114 mil vagas ociosas existentes nas instituições federais de ensino público. Será uma boa oportunidade para colocar parte dos deserdados do FIES. Será uma medida de justiça se o Governo Federal se redimir da maldade que fez aos alunos em foco.
ResponderExcluir