segunda-feira, 9 de novembro de 2015

POBREZA TEM CURA? E MISÉRIA?

Neste momento de profunda crise das finanças públicas, os brasileiros indagam  se o Programa Bolsa Família (PBF) é um remédio eficaz para acabar definitivamente com a pobreza e a miséria em nosso país. Queremos saber quantas famílias passaram pelo PBF e depois  saíram do programa por terem conseguido  alcançar a autonomia econômica.
O Governo Dilma, de 2010 até hoje, já gastou mais de R$ 110.000.000.000,00 (isso mesmo: cento e dez bilhões de reais!)  no Programa Bolsa Família (PBF). É natural que os contribuintes, de cujos bolsos saíram recursos tão vultosos, queiram ter  uma avaliação confiável dos resultados concretos desses gigantescos dispêndios. Depois de tantos anos de operação, os gestores do Programa Bolsa Família (PBF) deveriam  responder com clareza, por meio de estudos e pesquisas  tecnicamente corretas, às dúvidas sobre a eficiência, a eficácia e a efetividade das ações sob seu comando. Infelizmente, esse balanço, tão obviamente necessário – até para aperfeiçoar o programa – não está disponível.  
Em princípio, sou favorável à existência de programas de transferência de renda como o PBF,  para prestar socorro emergencial aos carentes  que vivem  no Brasil. Para consolidar esse posicionamento, bastar-me-ia que o Governo respondesse  afirmativamente, com avaliação científica, robusta, às perguntas do cabeçalho, provando  que o PBF é o remédio certo para curar a pobreza e a miséria em nosso país.
Não é descabido o argumento de que o PBF é um paliativo perigoso; que o programa, ao contrário, torna seus beneficiários dependentes vitalícios do dinheiro que lhes é doado. Pior: que esse eventual exemplo de acomodação com o estado de carência se transmitiria aos descendentes das famílias agraciadas.
Essas colocações vêm a propósito das propostas ora em pauta no Congresso, de redução  substancial das despesas com o PBF, para equilibrar o orçamento deficitário, agora  que todos já  sofrem com a crise em que os governos  populistas  do PT nos afundaram, depois que arruinaram a economia brasileira.
Temo a descontinuidade do PBF,  como efeito lógico do caos nas finanças públicas. Em 2014 o Programa Bolsa Família gastou mais de 27 bilhões de reais (R$ 27.190.000.000). Em 2015 está em  pouco mais de 23 bilhões (R$ 23.132.000.000). Uma redução substancial.  As verbas de gestão para os níveis local e estadual já não estão chegando nos prazos. Perigo!
Algumas ideias poderiam ajudar o PBF a ser  mantido no longo prazo, com metas mais refinadas.
A sugestão principal, referente à essência do programa, infelizmente já se perdeu no tempo – um bem que não se recupera. Ao ser lançado, no Governo FHC, o projeto  assumiu um cunho assistencialista em vez de apresentar-se como um projeto de desenvolvimento humano, no âmbito de um abrangente programa de ação comunitária. Prevaleceu a visão esquerdista, a qual olha para o Brasil como “um país de coitadinhos”, que não acredita no crescimento das pessoas na  busca pela autonomia.  A esquerda se nutre da manutenção da pobreza... Vai daí...
O programa deveria ter usado metodologias de operacionalização totalmente diferentes das adotadas nos Governos de FHC e Lula. A transferência de renda deveria ser encarada, desde sua implantação, como uma ação inclusiva, no âmbito de uma filosofia mais ampla de desenvolvimento comunitário. Seria um grande movimento de solidariedade nacional,  baseado na “inclusão comunitária”, indispensável em um país de fortes desigualdades como o Brasil. Nesse modelo, os cidadãos adeririam a um pacto social em favor dos mais carentes, mas sempre com condicionalidades objetivas e de resultados efetivos. Os beneficiários receberiam o auxílio pecuniário para uma subsistência básica e em contrapartida, no processo de integração, prestariam serviços às suas comunidades. Ou, em última essência, a si próprios! Auxiliar na preparação da merenda ou limpeza da escola dos filhos; plantar árvores nos mananciais, encostas, margens de rios, ruas das vizinhanças; cultivar hortas comunitárias nos terrenos baldios e terrenos disponíveis nas escolas; ajudar na manutenção dos equipamentos urbanos públicos... Há uma infinidade de possibilidades que inclusive poderiam revelar ou suscitar os talentos e habilidades potenciais dos beneficiários do programa. Nesses serviços, devidamente assistidos e apoiados por agentes de desenvolvimento comunitário, os beneficiários do BF receberiam orientações gerais e qualificação profissional específica para desenvolver as tarefas que lhes coubessem – nunca impostas, mas sim escolhidas voluntariamente, em reuniões da comunidade. Qualificados, os beneficiários do PBF teriam muito mais chance de obter um emprego no futuro, o qual os liberaria dessa dependência pecuniária. Desse modo, também, apareceriam na posição muito digna de ganhar por serviços por eles prestados ao bem comum. Não estariam recebendo uma esmola do Governo, em cujos candidatos devem votar em troca da continuidade do benefício. Pois é assim que – em sua maioria -  tanto os beneficiários como os contribuintes interpretam o programa.
Outra medida necessária, de caráter óbvio, depois que um ex-presidente confessou com naturalidade suas mentiras  para vencer as eleições, seria combater a fraude existente no PBF. As autoridades das várias esferas administrativas envolvidas no programa fizeram vistas grossas para a inclusão de muitos beneficiários que não atendiam aos critérios exigidos. O objetivo eleitoral estava acima de tudo, inclusive da ética! Desse modo, deve-se tornar contínua a  revisão cadastral dos que estão recebendo o  bolsa-família, para verificar se realmente se enquadram nos critérios fixados. A depuração da lista de contemplados certamente resultaria em enorme economia de recursos.
Uma  outra sugestão razoável  faz parte do ideário já vigente no PBF:  é a chamada Regra de Permanência. Quando a renda sobe para até meio salário mínimo por pessoa, as famílias podem ficar mais dois anos no  PBF, desde que atualizem voluntariamente as informações no Cadastro Único. A sugestão natural é que agora esse alongamento da permanência do benefício  seja encurtado  para um ano ou até para apenas 6 meses .
Finalmente, mesmo reconhecendo os progressos do PBF nos quatro últimos anos, implementando ações e programas complementares que objetivam o desenvolvimento humano das famílias  beneficiárias, de modo que consigam superar sua situação de vulnerabilidade por meio da “inclusão produtiva”, não se pode deixar de pedir maior empenho nesse sentido. O sucesso desse tipo de programa social, em seu começo, costuma  ser medido pelo número de famílias cadastradas, identificadas como pobres ou miseráveis e incluídas na transferência de renda, já que essa prospecção é difícil.  Mas após sua consolidação – e o PBF já tem 14 anos! – o sucesso desse tipo de programa deve ser medido pelo número de famílias que adquirem a capacidade de gerar rendas próprias, se tornam autônomas e deixam de receber a transferência de renda do Governo. No início, a prioridade é a entrada no programa; após 5 ou 6 anos de funcionamento, o objetivo passa a ser a saída do programa.

De qualquer forma, no momento, a questão é outra, muito séria e preocupante: a dificuldade de continuar pagando o benefício, nos níveis atuais, pois o Governo Federal gastou mais do que podia.

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