Na semana de 29 de maio a 2 de junho participei do Seminário
que a UNESCO realizou pela internet sobre “TRANSFORMAÇÃO DO TREINAMENTO
DE PROFESSORES PARA A MELHORIA DOS RESULTADOS DO APRENDIZADO”. Mais de
1100 educadores e professores, de todas as partes do mundo, participaram do Seminário, o qual abrangeu três grandes temas.
No primeiro, foram
abordados os pontos fracos e fortes dos sistemas de formação de professores que
podem ser depreendidos dos resultados de grandes levantamentos estatísticos e
qualitativos, nacionais e internacionais. Nas discussões sobre este tema, vários participantes destacaram a
importância dos dados que mostram que os antecedentes socioeconômicos dos
alunos têm um impacto mais forte nos resultados de sua aprendizagem do que as
características dos seus professores -
sublinhando novamente como nossas discussões sobre educação se relacionam com
questões de justiça social.
Os comentários dos participantes convergiram para três
questões-chave:
a). Que dados e informações temos sobre os pontos fortes e
fracos específicos dos sistemas atuais de formação de professores e sobre sua relação com os resultados de
aprendizagem dos professores?
b). Que dados e informações temos sobre a relação entre as
características específicas do sistema de formação de professores e os
resultados de aprendizagem dos seus alunos?
c). Existem outros dados que as avaliações internacionais deveriam
coletar sobre a formação de professores e que atualmente não estão disponíveis?
As discussões do segundo
tema foram sobre reforma do sistema de formação de professores
e houve consenso em torno de algumas questões:
a)Os programas de formação realizados antes do exercício do
magistério (“pre-service”) tanto quanto os de educação continuada,
desenvolvidos durante o exercício profissional (“in-service”), precisam ser
reformados. Abordagens como a tutoria de professores recém-qualificados e o
engajamento de professores interessados
em participar de novas metodologias pedagógicas
devem ser incentivadas ao longo de todo
processo formativo.
b)Não apenas os professores, mas também os educadores de
professores precisam de uma melhor preparação e oportunidades mais sistemáticas
de desenvolvimento profissional contínuo.
c)Reformar o sistema
de formação de professores por si só não é suficiente: os salários dos
professores e seu status devem ser melhorados; estudantes com melhor rendimento escolar devem
ser recrutados para programas de formação de professores e os efeitos da
pobreza e das deficiências dos
estudantes que vão atender também precisam ser abordados.
Ocorreu um
intercâmbio rico e esclarecedor na Discussão do Tema 3, sobre as competências
essenciais dos professores que não estão sendo adequadamente enfatizadas nas
abordagens convencionais para a formação de professores.
Foram sublinhadas algumas das competências em falta (que
muitos participantes ressaltaram):
Fluência no conhecimento básico e em habilidades aprendidas
na escola primária e secundária
Capacidade de ensinar conteúdo de maneiras adequadas ao
nível particular de seus alunos
Uso de avaliações para analisar e melhorar o ensino e a
aprendizagem
Uma orientação acerca de auto-reflexão, aprendizado contínuo
e auto-aperfeiçoamento
Capacidade de trabalhar com as necessidades individuais dos
alunos, incluindo os deficientes e
superdotados
Conhecimentos e habilidades específicas: alfabetização
digital / TIC e mídia, instrução de leitura, uso de materiais didáticos práticos, conhecimento
da linguagem de instrução e capacidade de usar métodos de instrução bilíngues,
baseados na língua materna
Inclusão, equidade, justiça social, equidade de gênero,
apreciação da diversidade e habilidades e atitudes específicas para trabalhar
com populações desfavorecidas
Estabelecer conexão de conceitos abstratos e práticos às necessidades
da comunidade local
Capacidade dos professores de colaborar entre si para
melhorar a escola e o ensino
Durante minha participação, dei ênfase a alguns pontos:
a)no primeiro tema, comentei o fato de que os candidatos ao
magistério no Brasil estão entre os estudantes de pior rendimento escolar, em
função do baixo prestígio social da carreira docente e das condições precárias
de exercício profissional; propus programa de orientação profissional visando
identificar e recrutar precocemente estudantes talentosos para a carreira
docente; complementei, mostrando a
necessidade de incentivar o professorado com melhores salários e “fringe
benefits”;
b)no segundo tema, lamentei que os cursos superiores de
formação de professores no Brasil estão deformados pela doutrinação ideológica
a que seus alunos são submetidos, sob o pretexto do que os meios acadêmicos
denominam de “formação para a cidadania”. Conteúdos e pedagogia – que
verdadeiramente importam na formação de professores - perdem espaço para o
aparelhamento político das faculdades de educação;
c)no terceiro tema, lembrei que os professores devem ter
competências que lhes permitam envolver
no processo educativo tanto os pais de seus alunos como a comunidade no
entorno da escola. Enfatizei a necessidade de criar programas instrucionais
utilizando o smartphone em sala de aula e em atividades fora das classes.
Foi uma experiência espetacular, em que a internet colocou o
mundo da educação em meu PC.
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