sexta-feira, 16 de novembro de 2018

QUANDO O IRRELEVANTE ESCONDE O RELEVANTE


Fui convidado, pelo Instituto Internacional de Planejamento da Educação (IIPE) da UNESCO, a assistir e participar, em 15/11/2018, de uma exposição de duas ex-Ministras da Educação, da Itália e da França, sobre  formulação de políticas educacionais estratégicas.
 Najat Vallaud-Belkacem  (França) e Stefania Giannini (Itália) expuseram as dificuldades que encontraram para realizar reformas, obter apoio da opinião pública para ideias inovadoras e lidar com o professorado e seus sindicatos. Relataram problemas comuns aos encontrados  no Brasil, os quais chamaram minha atenção, dentre eles: o extremo conservadorismo dos professores, que têm grande dificuldade em aceitar a mudança, qualquer que ela seja; o caráter político-partidário dos seus sindicatos, muito mais guiados pelos interesses imediatos de suas facções do que pelos rumos futuros do ensino e de sua classe profissional ; o grevismo exagerado dessa categoria profissional.
Minhas reflexões, suscitadas pelo debate, desembocaram em algumas conclusões sobre os aspectos mais recentes das polêmicas referentes à educação brasileira.
Uma conclusão, sobretudo, aflorou com clareza: a irrelevância dos temas mais recentes que são alvo de controvérsia, levando para o espaço escolar o que não tem importância mas que chama a atenção, muito mais pelo modo escandaloso de sua apresentação. Dessa maneira, pelo sensacionalismo, acabam figurando na agenda da grande mídia e da opinião pública, deixando no esquecimento aquilo que realmente importa.
Exemplos dessa perda de tempo não nos faltam:
a)      a nível micro, levar para as escolas e as salas de aula as discussões sobre ideologia de gênero – assunto que deveria ser predominantemente da família - é um álibi de gestores e professores desqualificados para contornar sua incompetência para transmitir conteúdos pedagógicos, função primordial para qual não estão adequadamente preparados. Isso mesmo: não tendo competência para ensinar matemática, português, física, química, biologia, o mau professor seduz seus jovens alunos evocando temas polêmicos, o que é muito mais fácil. Como consequência, naufraga a qualidade do ensino, sofrem os conhecimentos, as habilidades e as competências dos alunos;
b)      a nível macro, em vez de buscar as razões para as colocações vergonhosas do Brasil no Teste PISA da OECD, no qual sempre estamos em último ou penúltimo lugar, deslocamos o foco para enaltecer a autonomia universitária e a liberdade de cátedra. Sempre, é claro, omitindo que a autonomia  universitária é financiada com o dinheiro dos contribuintes – que não têm assento nos órgãos decisórios da academia. Esquecendo  de acentuar, também, que muitas vezes a liberdade de cátedra serve à escravização ideológica de jovens ainda em formação, tirando-lhes a autonomia, o direito de escolha consciente. O professor que, na sala de aula, está em uma posição hegemônica sobre o aluno e se aproveita desse fato para a indução ideológica, em verdade está usurpando um direito do discente.
O que precisamos é saber porque o Brasil gasta acima de 6% do PIB em educação – mais do que os países da OCDE – e os resultados são pífios. Quais foram os ralos em que os Governos FHC, Lula e Dilma jogaram os recursos que deveriam alimentar a qualidade de nossa educação?
Precisamos saber se o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) – cuja ideia de criação foi minha, quando estava no IPEA – administra seus vultosos recursos obedecendo a critérios técnicos ou se sofreu o mesmo processo de deterioração que o BNDES.
Precisamos saber se o MEC faz a devida avaliação da execução dos projetos que delega às ONGs, fartamente irrigadas com suas verbas. E como estão as respectivas prestações de contas?
Enfim, há muito o que descobrir nas caixas pretas do MEC do PSDB e do PT, gestores com viés ideológico, de uma fase negra da educação brasileira:
NÃO DEIXEMOS QUE O IRRELEVANTE ESCONDA O QUE É REALMENTE IMPORTANTE!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VIAGEM AO PASSADO

O Irã está na moda e minhas recordações daquele país mais vivas do que nunca... Estive no Irã em 1976, para participar da Conferência In...