quarta-feira, 28 de novembro de 2018

BOLSA FAMÍLIA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO


PASSADO: COMO DEVERIA TER SIDO... E NÃO FOI!
O Programa Bolsa Família - PBF surgiu paternalista, eleitoreiro, quando deveria ter sido caracterizado como um grande movimento comunitário de solidariedade com os mais carentes. Assim, minha sugestão principal, referente à essência do PBF, dando-lhe as feições de um programa de desenvolvimento comunitário só poderá ser concretizada com certo esforço. Mas vale a pena, como se verá adiante.
O PBF não usa a  metodologia mais adequada. Ao ser lançado, o programa  assumiu um cunho assistencialista, em vez de apresentar-se como um projeto de desenvolvimento humano, no âmbito de um abrangente movimento  de ação comunitária. Prevaleceu a visão esquerdista, a qual olha para o Brasil como “um país de coitadinhos” e não acredita no crescimento das pessoas na  busca pela sua autonomia.  A esquerda parece nutrir-se da manutenção da pobreza... Vai daí...
Metodologia - O programa deveria ter usado metodologias de operacionalização totalmente diferentes das adotadas nos Governos de FHC e Lula. A transferência de renda deveria ser encarada, desde sua implantação, como uma ação inclusiva, no âmbito de uma filosofia mais ampla de desenvolvimento comunitário. Seria um grande movimento de solidariedade nacional, incluindo lideranças locais e todos os voluntários que desejassem participar, do tipo “CADA UM DÁ O QUE TEM E FAZ O QUE PODE”, baseado no bem comum e na “inclusão comunitária”, indispensável em um país de fortes desigualdades como o Brasil.
Nesse modelo, os cidadãos – líderes comunitários e voluntários - adeririam a um pacto social em favor do desenvolvimento de suas comunidades, dando prioridade ao atendimento das necessidades básicas dos mais carentes, mas sempre com condicionalidades objetivas e de resultados efetivos. Os beneficiários desse atendimento, identificados  através do Cadastro Único (CadÚnico),   iriam sendo agregados aos grupos comunitários, formados por voluntários e líderes locais.  Habilitar-se-iam a receber o auxílio pecuniário para uma subsistência básica mas, em contrapartida, no processo de integração social, prestariam serviços às suas comunidades – serviços que  em última análise, reverteriam para si próprios!
Operacionalização - Os beneficiários do programa, pelo menos um dia por semana, dedicar-se-iam  a  desenvolver atividades diversas, de interesse do bem comum: auxiliar na preparação da merenda ou na limpeza da escola dos filhos; plantar árvores nos mananciais, encostas, margens de rios, ruas e praças das vizinhanças; cultivar hortas comunitárias nos terrenos baldios e espaços disponíveis nas escolas; ajudar na manutenção dos equipamentos urbanos públicos... Há uma infinidade de possibilidades que inclusive poderiam revelar ou suscitar os talentos e habilidades potenciais dos beneficiários do programa. Nesses serviços, devidamente assistidos e apoiados por agentes de desenvolvimento comunitário, os beneficiários do PBF receberiam orientações gerais e qualificação profissional específica para desenvolver as tarefas que lhes coubessem – nunca impostas, mas sim escolhidas voluntariamente, em reuniões da comunidade.
Qualificados, os beneficiários do PBF teriam muito mais chance de obter um emprego no futuro, o qual os liberaria da dependência pecuniária ao PBF. Desse modo, também, apareceriam na posição muito digna de ganhar a transferência de renda por serviços por eles prestados ao bem comum. Não estariam recebendo uma esmola do Governo, em cujos candidatos devem votar em troca da continuidade do benefício. Pois é assim que – em sua maioria -  tanto os beneficiários como os contribuintes interpretam o programa, explorado eleitoralmente pelos governantes de plantão
PRESENTE: COMO É
O Governo Federal gasta quase R$ 29,5 bilhões por ano com o PBF, em uma conjuntura de acentuada escassez de recursos. Obviamente, sua continuidade exige a maximização da eficiência dos gastos.
O PBF tem feito significativos progressos nos últimos anos, no Governo Temer, implementando ações e programas complementares que objetivam o desenvolvimento humano das famílias  beneficiárias, de modo que consigam superar sua situação de vulnerabilidade, especialmente por meio da “inclusão produtiva”. Agora, deve-se dar  continuidade e intensificar o  empenho nesse sentido.
O sucesso  de programas sociais de transferência de renda, em seu começo, costuma  ser medido pelo número de famílias cadastradas, identificadas como pobres ou miseráveis dentro dos critérios estabelecidos, já que essa prospecção é difícil, em face das características dessa população.  Mas após sua consolidação – e o PBF já existe há muitos  anos! – o sucesso desse tipo de programa deve ser medido pelo número de famílias que adquirem a capacidade de gerar rendas próprias, se tornam autônomas e deixam de receber a transferência de renda do Governo, abrindo espaço para outros beneficiários ainda não atendidos.
Resumindo: no início, a prioridade é a entrada no programa; após alguns anos de funcionamento (é o caso do PBF), o objetivo, ao menos teoricamente, passa a ser a saída do programa.
FUTUROS POSSÍVEIS
Medida preliminar e necessária, de caráter óbvio, será continuar a combater a fraude ainda existente no PBF. Nesse sentido, muitos progressos foram feitos no Governo Temer, por meio de dois instrumentos: a Revisão Cadastral, que é feita no máximo após 2 anos do cadastramento inicial da família; e a Averiguação Cadastral, resultante do cruzamento de informações de bancos de dados do Governo Federal (CNIS, RAIS, CAGED etc). Graças a esses procedimentos foram detectadas e sanadas muitas irregularidades no atual governo . O Ministério do Desenvolvimento Social  e Agrário, após analisar cadastros, constatou  que 1,136 milhão de benefícios se encontravam em situação irregular. Desses, 469 mil foram cancelados e outros 667 mil bloqueados.
Anteriormente, as autoridades das várias esferas administrativas envolvidas no programa fizeram vistas grossas para a inclusão de muitos beneficiários que não atendiam aos critérios exigidos. O objetivo eleitoral estava acima de tudo, inclusive da ética! Desse modo, deve-se continuar a  Revisão Cadastral sistemática dos que estão recebendo o  bolsa-família, checando sua veracidade por meio da Averiguação Cadastral, para verificar se realmente se enquadram nos critérios fixados. A depuração recente da lista de contemplados já tem revertido em grandes economias e seu prosseguimento certamente  dará novos frutos.
Uma  outra sugestão seria a implantação, no âmbito do PBF, da figura do “Professor de Família”.
O Professor de Família no PBF
No início de 2011, em uma reunião com órgãos diversos em Brasília,  perguntaram-me como o Brasil poderia aproximar-se de uma educação básica de qualidade.  Respondi com três ideias:
a) Fazer da escola o centro da comunidade, com todas as implicações, internas e externas, que esse seu papel central haveria de ter;
b) Criar o conceito de “garantia de qualidade” em Educação – garantia que os estabelecimentos e agentes educacionais, públicos e privados, indistintamente, devem ser obrigados a dar a quem utiliza seus serviços;
c) Implantada a educação continuada – que deve acontecer em todos os lugares, para todos, durante toda vida – o lar, e mais especificamente a família, passa a ser o sujeito/objeto privilegiado do processo.  “A exemplo do “médico de família”, devemos instituir de imediato o “professor de família”, que visitará os lares necessitados – no caso, inicialmente, os beneficiários do PBF -  e atuará sobre todos os seus membros – crianças, adolescentes, adultos e idosos – principalmente orientando-os sobre os caminhos da educação continuada disponíveis localmente, para ampliar as barreiras do conhecimento dessas pessoas.” (Capturado de http://arlindolcorrea.blogspot.com.br/, no blog de 11/02/2011)
Desde então venho insistindo nessa ideia: assistência domiciliar que dará,  aos que já estão no sistema educacional, especialmente no ensino fundamental, um suporte importante para a realização dos trabalhos escolares, apoio que esse aluno dificilmente  pode encontrar no seio da sua família - ela também carente no que concerne à escolaridade e necessitada de ajuda externa. Um esforço complementar, pioneiro e inovador, que o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) iria aportar ao sistema educacional brasileiro, em sua difícil luta em favor da qualidade de ensino.
O “CRIANÇA FELIZ” , iniciado no Governo Temer, é um passo promissor para a concretização da ideia do “professor de família”, que é o nome “marqueteiro” do agente de desenvolvimento humano que vai visitar e auxiliar as famílias mais pobres de nosso país, beneficiárias do PBF.
O MDS coordena as ações  do  CRIANÇA  FELIZ , cujas  visitas ocorrem semanalmente, quando os visitadores orientam as famílias sobre como estimular e desenvolver integralmente as crianças por meio de atividades como conversas e brincadeiras. O programa atende crianças de até 3 anos beneficiárias do Bolsa Família, e de até 6 anos que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
O Programa “CRIANÇA FELIZ” tem como base metodologia desenvolvida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para dar melhor resposta às necessidades das famílias, respeitando a autonomia, a cultura e os direitos da população. O programa consiste da visita sistemática a famílias com crianças na tenra infância. A visitadora dá dicas e propõe atividades para desenvolver a coordenação motora, a inteligência e o vínculo afetivo entre mãe e filha(o) e tem resultados imediatos na criança atendida, que se  desenvolve muito melhor. Do ponto de vista de política pública, os frutos serão colhidos em longo prazo, com a redução da pobreza e a melhoria das condições de vida dessas pessoas. Atualmente, o  Criança Feliz atende 2.692 cidades com o objetivo de desenvolver e mudar a realidade das crianças brasileiras por meio de visitas às famílias que recebem o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). 
O programa ajuda a romper o ciclo vicioso da perpetuação ou manutenção da pobreza. Já são mais de 400 mil crianças visitadas e isso é extremamente importante para combater a desigualdade social de forma sustentável, pois essa visitação, em verdade, redunda  na orientação a toda família e não só às crianças.
A implementação do Professor de Família seria uma profícua extensão do Criança Feliz.

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